A população quer saber sobre a ciência!

A população quer saber sobre a ciência! Desafios aos cientistas e às instituições de pesquisa

Há poucas semanas foram divulgados em Belo Horizonte os resultados de uma pesquisa coordenada pelo prof. Yurij Castelfranchi, da UFMG, que foi patrocinada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, a FAPEMIG. A pesquisa, bastante abrangente, buscou saber o que os mineiros pensam sobre ciência, os cientistas, os valores associados ao conhecimento científico e, ademais, qual era o grau de interesse das pessoas em conhecerem mais sobre o assunto.

Um resumo dos resultados dessa pesquisa está disponível na revista Minas Faz Ciência n.61.  Chama a atenção, particularmente, não apenas a valoração muito positiva da gente mineira em relação à ciência e aos cientistas, mas também o grande interesse manifestado por conhecer mais o assunto. Se esse interesse é bastante diluído em todo o estado, ele contrasta com a alta concentração das oportunidades e dos equipamentos de divulgação científica em algumas poucas regiões de Minas Gerais.

Os resultados dessa pesquisa coincidem com os encontrados em outras da mesma natureza, como aquelas conduzidas nacionalmente pelo prof. Ildeu Moreira, da UFRJ.  Em praticamente todos os casos, há algum interesse da população pela ciência e pelo trabalho dos cientistas e, ao mesmo tempo, escassas e concentradas oportunidades de saber sobre o assunto.

Tais pesquisas que, felizmente, passaram a ser realizadas de forma continuada no Brasil, assim como em boa parte do mundo, nos trazem indícios de que é preciso que a comunidade acadêmica brasileira, assim como as agências de fomento à pesquisa e as próprias universidades e centros de pesquisas, estabeleçam estratégias claras e específicas de fortalecimento à divulgação científica no país.

Trata-se, por um lado, de atender à expectativa  e à vontade de conhecimento explicitada pelos cidadãos que, em boa medida, sustentam a atividade científica no Brasil. Do mesmo modo, trata-se também de reconhecer a importância de que todos os cidadãos tenham uma relação autônoma e crítica com a cultura científica e com as tecnologias que estão presentes ostensivamente em nosso cotidiano. Mas o imperativo da divulgação científica advém da própria responsabilidade pública dos cientistas que, nas mais diversas áreas, buscam responder (e inventar!) dúvidas sobre o  mundo.

Os próprios cientistas, mas também as instituições de pesquisa, não podem se eximir da responsabilidade de estabelecer canais institucionais de comunicação pública das pesquisas realizadas e seus impactos (potenciais ou já em curso) sobre o conjunto da sociedade. Parafraseando  o discurso futebolístico, é preciso admitir que a ciência é muito importante para ser deixada apenas nas mãos dos cientistas.

Na comunicação pública da ciência, sobretudo aquela realizada pelas instituições de pesquisa e pelos próprios cientistas, é imperativo, também, que se proponha e se realize o diálogo com os outros saberes e modos de conhecer que, presentes no mundo social, dão sentido e significado às ações dos sujeitos e aos distintos modos de estar-no-mundo. O não estabelecimento desse diálogo abre o caminho para um perigoso cientificismo e, ao mesmo tempo, impede que a própria ciência possa cumprir um papel importante de questionamento respeitoso a esses outros saberes e modos de conhecer. Ambas são situações que se mostraram, ao longo da história e ainda hoje, profundamente prejudiciais à boa convivência dos humanos entre si e com os demais elementos e seres da natureza.

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