A guerra de Bolsonaro

Cleide Maciel

No livro Ponto final: a guerra de Bolsonaro contra a democracia (Editora Todavia), Marcos Nobre nos apresenta suas análises a respeito do atual governo federal. A epígrafe escolhida – É difícil defender, só com palavras, a vida (João Cabral de Melo Neto) – aponta para um elemento transversal de seu texto: a morte!

Segundo Nobre, a cultura política bolsonarista segue a lógica da guerra – e a cultura da morte que a acompanha. No caso, dupla morte. De um lado, a do oponente, a democracia, que precisa ser destruído para que seu projeto se viabilize. Do outro, as vidas ceifadas durante a pandemia da Covid 19, evento que, por acaso, surge em meio à operacionalização do projeto político do presidente.

Se uma facada recebida na reta final da campanha eleitoral à presidência, aparentemente, pavimentou o caminho ao Planalto, retirando-lhe as arestas, acobertando os riscos de uma exposição “inadequada”, a pandemia tem desvelado a dimensão autoritária das estratégias governamentais de Bolsonaro. Ganhar as urnas como candidato antissistema implica governar num eterno palanque, buscando implodir, sistematicamente, as instituições democráticas, a duras penas sendo construídas na história recente da república brasileira. Essa implosão se utiliza de um método, o caos, que, por sua vez, vem acompanhado de um parasitismo político.

Para Marcos Nobre, a eleição de Bolsonaro se assenta sobre três feudos: dos evangélicos, dos militares (inicialmente representados pelos integrantes da polícia militar e, posteriormente, também por parte dos integrantes das forças armadas) e dos lavajatistas. Alijados das instâncias de poder, tais grupos alçaram à projeção. Entretanto, sua participação no governo fica condicionada à submissão das decisões incontestáveis do presidente da república. Por outro lado, esses grupos representam um escudo de defesa ao impeachment de Bolsonaro: não aceitarão, facilmente, a perda das posições de prestígio que passaram a ocupar.

Sobre o tema do impeachment, o autor alerta, ainda, para os problemas da organização de uma frente de representantes democráticos, tanto de esquerda, quanto de direita, que precisariam se unir num projeto comum de governo. Ou seja, nenhuma dessas posições, sozinha, conseguiria viabilizar uma alternativa à extrema direita. Esse arranjo seria nosso grande desafio.

Por que chegamos onde chegamos? Essa pergunta sempre nos vem à mente quando o espanto/raiva nos assalta diante das atitudes do nosso atual presidente. Nobre chama a atenção para os eventos de rua que ocorreram em junho de 2013, os quais denunciariam o colapso das instituições brasileiras que estariam funcionando de modo disfuncional. Destaca a necessidade de compreensão desse evento para mudarmos a rota da nossa trajetória política. Critica a irritante afirmação de que as instituições democráticas estariam funcionando bem e apresenta as duas correntes interpretativas hegemônicas em circulação: a teoria do ovo da serpente e a teoria da quebra das regras informais das instituições. Essas teorias podem conter “chaves” que possibilitariam ampliar/aprofundar/ultrapassar a compreensão da crise que vivemos e abrir perspectivas para novos pactos. Afinal, a simples remissão à democracia não é mais suficiente para produzir o terreno comum sobre o qual se desenham as diferenças e as disputas. Incômoda afirmação!

*******

Para o epílogo, Marcos Nobre recorre, novamente, a João Cabral de Melo Neto. Os mesmos dizeres:  é difícil defender, só com palavras, a vida. O referente, agora, não é mais a morte, qualquer que seja sua origem, mas a política. Nossa ação política!

 

  http://www.otc-certified-store.com/alzheimer-s-and-parkinson-s-medicine-europe.html https://zp-pdl.com/fast-and-easy-payday-loans-online.php https://zp-pdl.com/get-a-next-business-day-payday-loan.php https://zp-pdl.com/apply-for-payday-loan-online.php http://www.otc-certified-store.com/anticonvulsants-medicine-usa.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *