A câmera pode ser quebrada (mas também podemos assumir o controle dela)

Yolanda Assunção

A docência encontra hoje novas roupagens de uma antiga dificuldade: a falta de liberdade de cátedra. A vigilância em sala de aula, especialmente na educação básica pública, tem na tecnologia um grande reforço. Em cada sala de aula, um olho de vidro no canto da parede acompanha os movimentos dos docentes. 

As câmeras instaladas sob a justificativa de garantir segurança da comunidade escolar se tornam livro de registros para gestores que, muitas vezes cumprindo um papel de interventores do governo de momento, buscam razões para atacar os já sobrecarregados docentes. Isolados pelo cansaço e pela desesperança, professoras e professores se auto censuram, se escondem e se cansam cada vez mais.

Neste cenário é preciso buscar possibilidades de fortalecer e acolher as professoras e professores encurralados por esse “big brother”. O  Percurso Pedagógico “O cinema ao alcance das mãos”, desenvolvido pelo Estúdio de Produção Audiovisual do programa Pensar a Educação e pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais – SindUTE-MG, propõe desenvolver uma nova relação com as câmeras e as imagens e traz práticas audiovisuais como possibilidade de aprender e se expressar, partindo do princípio de que qualquer pessoa pode fazer cinema.

O primeiro encontro, realizado em Belo Horizonte no dia 28 de outubro, reuniu professores de diferentes partes de Minas Gerais e realizou exercícios de experimentação audiovisual. Além da prática filmar em si, os participantes refletiram sobre a intencionalidade ao apertar o comando para gravar, o olhar da câmera, a performance e o direito à própria imagem. Estar “atrás” das câmeras é uma chance de compreender as lógicas em torno da produção e uso de imagens.

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