Currículo e participação social em educação ambiental

Edilson da Silva Cruz

Construir sociedades justas e ecologicamente equilibradas é o maior imperativo histórico do nosso tempo. O ser humano, ao entender-se superior à natureza, já passou dos limites de exploração de seus finitos recursos. As recentes cheias no Rio Grande do Sul são um sinal inequívoco na necessidade de rever nossos modelos de relação com a natureza. Como desacelerar o processo de degradação ambiental, que promove a emergência climática que vivemos, e construir outros paradigmas de relação com a vida do planeta em suas diversas manifestações? 

Chegar à resposta para esta pergunta depende de um amplo processo educativo, que inclua toda a sociedade. A escola, instituição educativa por excelência, não pode ficar de fora dessa discussão. Ao contrário, é um dos lugares centrais para se forjar novas compreensões e possibilidades sobre a relação do ser humano com a natureza. 

O desafio histórico das mudanças climáticas impõe à escola a necessidade de repensar suas práticas, com o objetivo de construir escolas sustentáveis e resilientes, isto é, instituições que promovem uma educação ambiental crítica e transformadora, ao mesmo tempo em que preparam suas comunidades e se preparam para lidar com as consequências da emergência climática. A escola deve ser repensada como lugar educador, promotor de novas relações socioambientais, que contribuam para a transformação ecológica vinculada à mudança social em favor da justiça social e climática

Entre as possibilidades de mudança paradigmática da escola devemos situar o currículo e a relação com a comunidade do entorno. Aquele, como espaço de compilação de conhecimentos socialmente relevantes para a discussão ecológica; e esta, como estratégia de empoderamento de estudantes, educadores, pais e comunidade local, via processos de participação e tomadas de decisão. 

O currículo escolar deve assumir a perspectiva crítica e transformadora de educação ambiental. Isto quer dizer reverberar os conhecimentos historicamente construídos relacionados à questão ambiental e aprender com os conhecimentos das comunidades locais referentes à relação com a natureza e com todas as formas de vida do planeta. É urgente a tarefa de construir um currículo sólido e aberto para novas aprendizagens, na perspectiva dos direitos humanos e ambientais, da interculturalidade e da promoção da justiça ambiental. 

É este currículo que permitirá forjar com as comunidades locais relações de participação e tomadas de decisão, capazes de promover o empoderamento de pessoas e grupos, visando construir escolas e comunidades sustentáveis e resilientes. Comissões ambientais, eco trilhas, horas comunitárias, por exemplo, são experiências que podem envolver os pais e responsáveis, organizações do território, num processo educativo em mutirão, com forte potencial crítico e transformador. 

Não há receita pronta que caiba em todos os contextos. Ao contrário, uma perspectiva crítica e transformadora do currículo e das relações pedagógicas exige uma diversidade de estratégias, interpretações e ressignificações de conceitos, experiências, concepções e práticas em educação ambiental. Se a emergência climática nos assusta e a degradação ambiental nos desafia, é na nossa capacidade humana de criar e recriar, junto com a natureza e sua infinita biodiversidade, que está a chave de mudança social e climática para nossas comunidades locais e para o planeta. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *