Uma pequena história do cinema brasileiro – parte II

Alexandre Azevedo

Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, não há quem não conheça o lema do chamado Cinema Novo. Influenciado por Humberto Mauro, os jovens Glauber Rocha, Ruy Guerra, Luís Carlos Barreto, Nelson Pereira dos Santos e Cacá Diegues (estes dois últimos pertencentes à Academia Brasileira de Letras), revolucionaram o cinema nacional com verdadeiras obras-primas, muitas delas baseadas e inspiradas em obras literárias, como é o caso do premiadíssimo Vidas secas, de Graciliano Ramos, filmado por Nelson Pereira dos Santos, e Macunaíma, de Mário de Andrade, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Outros filmes, não menos importantes, são Deus e o diabo na terra do Sol; O dragão da maldade contra o Santo guerreiro, ambos de Glauber Rocha, e Os fuzis, de Ruy Guerra. Entretanto, a principal característica do Cinema Novo era a crítica social, principalmente às desigualdades sócio-raciais presentes no país durante as décadas de 60 e 70. Influenciado também pelo neorrealismo italiano4 (movimento surgido após a segunda grande guerra, cujos elementos reais se misturavam à ficção, dando um certo ar de documentário) e pela Nouvelle vague5 (a nova onda francesa, com os seus filmes contestatórios dirigidos por jovens cineastas, sem apoio financeiro), o Cinema Novo destacou-se pelo seu viés político e vanguardista. Dentre os vários filmes, Cinco vezes favela, em que a vida na favela é retratada em cinco episódios, é um símbolo deste movimento. Abaixo o tema de cada um dos episódios:

1º episódio: Um favelado, dirigido por Marcos Farias (a história de João, espancado por não conseguir pagar o aluguel, é levado por um amigo a cometer um assalto).

2º episódio: Zé da Cachorra, dirigido por Miguel Borges (a história de um líder da comunidade, revoltado por ver os seus companheiros apoiando um empreendedor milionário, cujo objetivo era destruir a favela para construir um edifício).

3º episódio: Couro de gato, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade (a história de um grupo de meninos que desce a favela à caça de gatos para serem vendidos para fabricantes de tamborim. Um dos meninos se apega a um deles, mas como não tem como sustentá-lo acaba vendendo-o para um dos fabricantes).

4º episódio: Escola de Samba, Alegria de Viver, dirigido por Cacá Diegues (a história de um jovem sambista que se torna diretor de uma escola de samba, tendo que conviver diretamente com vários problemas, dentre eles, a rivalidade com a outra escola, além das discussões com sua esposa, um mulata de nome Dalva, atraente e cobiçada por outros homens).

5º episódio: Pedreira de São Diogo, dirigido por Leon Hirszman (a história de uma favela localizada em cima de uma pedreira corre o risco de desabar, devido às constantes explosões de dinamite. Incentivados pelos operários da pedreira, os moradores da favela se unem para evitar uma iminente tragédia.)

Nas décadas de 70 e 80, o cinema brasileiro investiu na chamada pornochanchada, filmes de baixa qualidade artística, caracterizados por apelos eróticos, beirando a pornografia. Eram filmes de baixo custo, produzidos na conhecida Boca do Lixo, uma região do bairro da Luz em São Paulo, que já havia abrigado, nas décadas de 20 e 30, um polo cinematográfico importante, como a Paramount, a Fox e a MGM.

Continua…


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