Título de eleitor: o carisma

Dalvit Greiner de Paula

Um cafuné na cabeça, malandro, eu quero até de macaco! Essa frase de Leila Diniz é a demonstração clara e precisa de que o carinho representado por um sorriso, um afago é uma das melhores coisas que poderiam ter surgido nas relações humanas. Quem não gosta de oferecer carinho é porque não recebeu carinho. Em geral, na política, o carinho é representado pelo sorriso, o tapinha nas costas. Porém, o político carismático, não promete e nem faz nada. Seu projeto é único e irrealizável, pois o seu capital político está garantido com o seu carisma. E, claro, usa o seu carisma para manipular as pessoas.

O carismático tem lá suas idiossincrasias, manias que caem bem aos olhos da população. Lembremo-nos de Jânio Quadros (fartamente copiado) com sua caspa no paletó e a vassoura na mão varrendo a corrupção do Brasil. Ou seja, nem sempre são sorrisos, mas são comportamentos cativantes que fazem os olhos da população brilhar. Ocupam o lugar do pai – indefectível, infalível, irretocável – que se perdeu em algum lugar na trajetória de vida dessas pessoas. Com a perda do amor paterno, qualquer migalha de carinho que venha de quem quer que seja torna-se o ponto fraco e o político carismático sabe explorar essa falta, mesmo que o sorriso seja a milhares de quilômetros de distância.

Dois modelos que a literatura imortalizou: o coronel Odorico Paraguassú, do nosso saudoso Dias Gomes, que nada fez e o seu oposto Lulu Bergantim, de José Cândido de Carvalho, o prefeito que faz tudo pelo povo. Arregaça as mangas e faz. Dois personagens carismáticos que beiram à senilidade se aproveitando da insanidade popular. Quase um Paulo Maluf ou Newton Cardoso, que o folclore político consagrou com um sonoro “rouba, mas faz!”. Para o eleitor, esse candidato tem promessas totalmente exequíveis: nelas não existem defeitos, pois os defeitos são dos outros. Dos auxiliares que não sabem como executar as promessas do líder; do povo que não sabe como receber essas benesses.

Partem do líder promessas infalíveis: acabar com a inflação, acabar com a corrupção, acabar com a imoralidade. Quantos candidatos não nos aparecem com esses discursos. E o brilho de loucura que se percebe em seus olhos faz o eleitor confundir com o entusiasmo necessário à política. É possível, ainda hoje, fazer paralelos de Fernando Collor de Mello colorindo o Brasil e afirmando que acabaria com a inflação com um único golpe; de Jânio Quadros varrendo a corrupção da vida do brasileiro; ou ainda de Jair Bolsonaro – um senhor hiperssexualizado – preocupado com a sexualidade da população; ou João Dória vestindo roupas de gari afirmando que limparia a cidade.

Falo de paralelos com nossos candidatos a vereador e prefeito. De nossos candidatos, percebemos afirmações de que “nossa cidade não precisa de promessas; nossa cidade tem prefeito!”, demonstração da perfeição administrativa que se vende ao público eleitor. Ou, “as mulheres são vítimas de assédio pela falta de policiamento” seguindo aquela lógica armamentista do macho alfa que não quer que ninguém mexa com suas mulheres. Ou, aquelas bravatas do tipo “eu vou jogar duro de verdade com as empresas de ônibus” como se fosse o salvador de uma situação já perdida.

Quanto aos vereadores é possível perceber essa mesma linha. Em geral, o candidato a vereador com características carismáticas vem da religião e é dono de uma ONG, pois a maioria de nossas ONG’s se transformaram em criadouros de vereadores. E a ONG é o lugar do sorriso, da alegria, do abraço. Do conforto que o Estado não deu. É lá que o carisma produz mais efeito, na medida em que busca consolidar o sorriso do presidente em bondosas ações. O alvo da ONG torna-se um eleitor cativo desse presidente-candidato. O principal objetivo dessas ONG’s e seus candidatos a vereador é trabalhar para que nada mude para melhor, pois isso diminuiria seu campo de ação. As ONG’s criadoras de vereadores não desenvolvem um trabalho político de esclarecimento da população dos seus direitos e da importância de sua ação política.

Não é difícil fazer uma lista de candidatos a vereador com essa marca: sobrenomes como “Ambulância”, “Ong de alguma coisa”, “projeto” (outro nome para ONG), são os mais explícitos, porém com um pouco de pesquisa você verá como as ONG’s estão presentes na lista de candidatos.

Então, questões que devem ser feitas para nortear nossa escolha: candidatos que não sorriem é um problema, pois a política é feita de festa e alegria. Mas, candidatos que sorriem demais é um problema maior, pois estão escondendo aí a sua incapacidade política. Observe bem qual partido abriga esse candidato. E, por fim, observe o discurso que tem esse candidato sobre o Estado: em geral, para ele o Estado atrapalha. Veja se ele vem de uma ONG de verdade, pois uma ONG de verdade não faz politicagem, faz política de verdade questionando o Estado em sua falhas e não se aproveitando delas para acabar com o Estado.

Para encerrar de vez: cuidado com professoras e professores na política. A maioria é muito carismática!


Imagem de destaque:  Katie White / Pixabay

 

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