Título de Eleitor: a Riqueza

Dalvit Greiner de Paula

A corrupção na política se confunde, invariavelmente, com o dinheiro, porém a simples “doação” de um boné, uma camiseta configuram uma corrupção do voto. Normalmente – sim, já consideramos normal – entendemos a corrupção do governante como algo inerente a ele. Apenas o candidato e depois governante, principalmente se for do Poder Executivo, é corrupto. E foi com essa concepção que se vendeu a ideia da antipolítica. Isso existe? Não. Não existe antipolítica. Tudo é política: nunca se esqueça disso. E, para arrematar o parágrafo, não existe político corrupto sem sociedade corrupta. Então, pense bem antes de apontar o dedo!

Diz o ditado que todo homem tem o seu preço. Sim, no mercado capitalista a medida da dignidade é o saldo da conta bancária ou o dinheiro que você tem no bolso. Por essa lógica, todo o ser humano tem um preço que pode ser pago por quem quer e puder comprar. E o ser humano em estado de necessidade – ou seja, a beira da morte física – é um ser vulnerável a qualquer oferta que adie a sua morte. Quem lê esta coluna ainda não chegou neste limite. Assim espero! Quem viu o Ensaio sobre a cegueira (2008), de Fernando Meirelles sobre a obra de José Saramago presenciou várias cenas em busca de comida até que chegamos na troca de sexo por comida. Quem não entendeu a lógica da história ficou horrorizado: mas, não ficamos horrorizados com o mundo real, acreditando que o filme é apenas uma história da imaginação de seu autor.

A política deve obrigatoriamente dedicar-se a todos e necessariamente aos mais vulneráveis. Quando falamos em diminuir a vulnerabilidade social de determinado setor da população estamos falando de aumentar a sua liberdade de escolha política. Quanto mais distante da necessidade, maior é o preço desse homem. Ele pensará duas ou mais vezes antes de se vender no mercado político. Evidente que isso não é uma garantia de caráter, mas é um começo. Porém, o que fazem os governos: investem no contrário. Manter o máximo de pessoas no limite da morte, vulnerabiliza-as ao ponto de obter a entrega desse corpo para qualquer coisa: do trabalho precário ao voto. Trabalho precário que garantirá o bem estar do patrão; voto que garantirá a reprodução da elite capitalista no comando do Estado. E quando o voto não for suficiente, apelam para a violência.

Com pequenos mimos, o dinheiro – símbolo da riqueza – compra eleitores e votos em todo o Brasil. O sistema eleitoral brasileiro induz e permite isso. Quando encontramos 1550 candidatos disputando 41 cadeiras de Vereador em Belo Horizonte, percebemos como é difícil e caro disputar o voto. É um bom vestibular com 38 candidatos disputando uma vaga. Nosso quociente eleitoral em 2020 é pouco acima dos 30.000 votos (em 2012 foi de 30.650 votos). Esse número cairá um pouco devido à pandemia. Mas, o que interessa é que não é fácil angariar entre os eleitores da cidade um número tão alto de adesões. É nesse momento que o candidato apela para a corrupção do eleitor. O voto no Brasil é muito caro e ganha quem tem mais dinheiro para oferecer, direta e indiretamente. É o investimento que um candidato ou até mesmo o partido faz na cadeira parlamentar.

Veja a lista dos candidatos na sua cidade. Você raramente identificará um empresário disputando um cargo de Vereador. E aqui encontramos um dilema terrível. A maioria dos candidatos já se vendeu a alguém da elite econômica para defendê-la no parlamento (a grande doação de campanha cumpre essa função de forma legalizada). Busque identificar quem são os maiores tomadores dos serviços públicos urbanos. Lá estará o financiador de algum candidato a Vereador. Ao final, você identificará bancadas inteiras que defendem as empresas de ônibus, os recolhedores do lixo (não os garis, que fique claro!), as imobiliárias, as construtoras, os bancos, os grandes varejistas, etc. Eles são pagos para preparar a cidade para eles com um discurso de que é para você!

A pergunta que devemos fazer no momento da escolha do nosso candidato é: a qual partido político ele pertence? Qual o candidato a prefeito desse partido? Esse ano, no Brasil, não existem mais coligações para vereadores, mas se manteve as coligações para o candidato a prefeito. E porque devemos fazer essa pergunta? O candidato a prefeito que vencer as eleições leva tudo. Leva para si e a sua coligação – seu partido ficará com o maior quinhão – toda a cidade, toda a receita que será distribuída entre aqueles que o apoiaram. Se quem apoiou o vencedor foram aquelas empresas listadas acima, creia: não sobrará muita coisa para a educação ou a saúde. Além de levar a receita do município, os candidatos vencedores dos partidos que apoiam o prefeito levam os cargos inferiores. Isso cria uma verdadeira luta (corporal, às vezes) entre os cabos eleitorais. O cabo eleitoral é a figura mais próxima de você e está disputando um emprego no serviço público, por isso ele quer o seu voto, desesperadamente. Aprenda, pois a tomar-lhe o nome e o telefone para cobrar dele uma atitude.

Então, uma boa medida política é a sua necessidade. Se a sua necessidade está ligada à vaidade, aos objetos de uma vida fútil você está muito próximo da corrupção. Quanto mais privado for o seu interesse mais suscetível à corrupção você é. E o seu candidato é a sua cara!


Imagem de destaque: Yolanda Assunção

 

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