Editorial do Jornal Pensar a Educação em Pauta 278
São notórias a falta de coordenação e as ações criminosas do governo federal e de seus aliados no combate à pandemia e, assim como o aproveitamento desta para o estabelecimento de políticas que retiram direitos e favorecem ao capitalismo selvagem. Tais iniciativas resultam em desnecessárias mortes de brasileiros e brasileiras e num esgarçamento ainda maior do tecido social, além de ofuscar o trabalho que muitas instituições públicas e a sociedade civil, por meio de ações individuais e coletivas, têm feito em defesa da vida e no enfrentamento dos impactos da crise junto ás populações mais vulneráveis.
As instituições públicas como a Fiocruz e as universidades públicas e institutos federais se destacam como protagonistas de ações de pesquisa sobre as possibilidades de vacina e sobre equipamentos, bem como na produção de serviços e insumos (informações seguras e relevantes, equipamentos de proteção individual, álcool gel, dentre outros) que possibilitam ao poder público e à população melhor enfrentar a pandemia e minorar seus impactos junto à população.
O impacto da pandemia entre a população mais pobre seria muito maior não fossem as ações dos movimentos sociais e dos coletivos mais diversos que atuam nas periferias e regiões mais pobres das grandes cidades brasileiras e no interior do país. Pouco alardeadas pelos grupos midiáticos tradicionais, que preferem fazer propaganda da “Solidariedade S.A”, as ações destes grupos são as que têm mais capilaridade no território e impacto direto e imediato na proteção à vida da população mais pobre.
Ao lado dessas ações institucional e/ou coletivamente organizadas, há um incontável número de iniciativas individuais que combatem a pandemia e que salvam vidas. Na verdade, há que se considerar que, para que todas essas ações políticas e solidárias se efetivem é sempre necessário uma disposição, uma disponibilidade, um gesto e um bem querer que mobiliza os indivíduos, cada um deles e delas, em direção ao outro, buscando atender ás suas necessidades e, muitas vezes, atenuar o seu sofrimento e a sua dor.
A saída dessa crise em direção a um país mais igualitário, justo e democrático e em que as instituições públicas respeitem a população e que atuem em defesa da vida, passa necessariamente pelo reconhecimento das ações hoje em curso como ações políticas de primeira grandeza, ás quais são possibilitadas pelas instituições de Estado, pelos coletivos que se auto organizam e pela sensibilidade e disponibilidade de cada um e de cada uma que delas participam.
Será preciso muito mais, é certo, para o enfrentamento de governos descomprometidos com as necessidades da população mais pobre e com a proteção do meio ambiente e de todos os seres que nele habitam. É necessário que as instituições, os movimentos, os coletivos e os indivíduos que hoje agem em defesa da vida sejam capazes de ampliar os horizontes temporais e geográficos de suas ações e pensar os horizontes mais amplos de suas ações.
Assim como o impacto da pandemia no Brasil está diretamente ligado as imensas desigualdades aqui estabelecidas em mais de 500 anos de história e, certamente, pelas ações criminosas do governo Bolsonaro e de seus aliados, nossas grandes mazelas não passarão com o passar desta crise. Pelo contrário, a tendência é que elas se exacerbem. Por isso, é preciso construir as bases para uma unidade política na ação de enfrentamento ao governo Bolsonaro e seus aliados e aos grupos empresariais, militares e religiosos que eles representam.
As eleições municipais de 2020 serão, certamente, um momento importante, no futuro próximo, para darmos uma expressão pública aos esforços e a essas redes de solidariedade e apoio amplamente disseminados no território brasileiro. Uma das formas de dar continuidade e consequência política ás nossas ações em curso e combater o bolsonarismo em suas várias faces de expressão e atuação é atuar para a escolha de vereadores e vereadoras e de prefeitos e prefeitas comprometidos(as) com a vida e o bem estar da população.