Sobre um filme – o filmado: “O menino do Pijama Listrado”

Vanessa Aparecida da Silva Cruz1

“O menino do pijama listrado”, traduzido do inglês “The boy in the striped pyjamas”, idioma original da obra, foi escrito por John Boyne em 2006. Inicialmente, proposto ao público infanto-juvenil, acabou caindo no gosto de todas as faixas etárias. Com aproximadamente 5 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, o livro foi adaptado para o cinema em 2008, sob a direção de Mark Herman.

Na trama literária, John Boyne retrata parte de um contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), no qual o menino Bruno, de 8 anos de idade, filho de um comandante nazista, muda-se com sua família da Alemanha para a Polônia. Logo o garoto com forte perfil desbravador encontra um campo de concentração próximo à sua casa, sobre o qual seu pai é o principal responsável. Ali, Bruno conhece Shmuel, garotinho judeu com também 8 anos de idade e iniciam uma linda e comovente amizade. Shmuel usava uniforme listrado, como as demais pessoas do outro lado da cerca de arame. Bruno julgava que a roupa de seu amigo se tratava de um pijama listrado.

Shmuel de um lado, Bruno de outro iniciam uma amizade que se mantinha separada pela cerca de arame farpado, o que nos conduz a uma reflexão sobre barreiras simbólicas e ao mesmo tempo bastante concretas: de um lado os arianos puros (conceito atualmente desacreditado) e do outro os judeus e povos não-arianos. Tanto o livro quanto a obra fílmica chamam a atenção para um nacionalismo exagerado, para a hierarquia e segregação entre raças e gêneros, para a intolerância e o preconceito sociais. Entretanto, sob desenvolvimento de um tema bastante pesado, caracterizando um drama com descrição um tanto quanto real acerca do período da Segunda Guerra Mundial, o autor traz o texto sob a perspectiva do olhar infantil, estratégia que atenua a densidade dos temas retratados no livro.

Nesse sentido, o autor nos conduz de forma sutil a uma leitura com aspectos antagônicos e profundos. É em nós desperta aversão às práticas nazistas, a descrença na humanidade, a repugnância às barbáries dos campos de concentração. Ao mesmo tempo e distintamente, somos levados à comoção entre os enlaces da amizade entre dois garotos, capaz de fazê-los superar a barreira física e simbólica, a evidenciar a igualdade, o respeito e a solidariedade de forma genuína.

Com um final perturbador e intenso, o autor se preocupa em enfatizar que 

 … “assim termina a história de Bruno e sua família. Claro que tudo isso aconteceu há muito tempo e nada parecido poderia acontecer de novo. 

Não na nossa época.”

E nisso seguimos acreditando.

 

1 – Doutoranda e Mestra em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Graduada em Pedagogia e Ciências Biológicas. Professora do Ensino Superior na Universidade do Estado de Minas Gerais e na rede municipal de ensino de Betim.


Imagem de destaque: Imagem Filmes

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