A pós graduação brasileira e sua produção científica têm na classificação QUALIS da CAPES um de seus principais termômetros. A categorização de periódicos científicos avalia e classifica as publicações a partir da qualidade de artigos e publica anualmente uma atualização. Contudo, um sistema tão grande que conta com quase 26 mil periódicos científicos em sua base, precisa de aperfeiçoamento constantemente, além de uma observação atenta de seus resultados.
Existe entre os pesquisadores a percepção de que há periódicos potencialmente predatórios nos estratos mais altos da classificação da CAPES (A e B). Para entender melhor esta percepção e verificar qual é, de fato, a extensão do problema, os pesquisadores Paulo Inácio Prado (USP), Roberto André Kraenkel (UNESP) e Renato Mendes Coutinho (UFABC) criaram o Preda Qualis.
O site reúne e compila listas de periódicos potencialmente predatórios e cruza com a os títulos presentes na base QUALIS. Os resultados apontam que dos 26477 periódicos científicos listados pouco mais de 480 estão entre os potencialmente predatórios. Roberto Kaenkel destaca que “nesta pequena fração a maioria não foi descartada da avaliação, o que é feito atribuindo-lhes estrato C. Isto assinala a necessidade de melhora dos filtros da CAPES para evitar valorizar este tipo de periódico.” A plataforma Preda Qualis ainda apresenta uma avaliação detalhada, inclusive dividindo os dados, a partir das 49 diferentes áreas de avaliação da CAPES.
Para o pesquisador, divulgar os resultados do levantamento que ele e os colegas realizaram contribui “para o debate público e possibilita o aperfeiçoamento da base de periódicos Qualis.” Ele lembra que a presença de periódicos potencialmente predatórios trazem consequências para a pesquisa e pesquisadores. “Primeiro, podem existir bons trabalhos que tenham sido publicados nestes periódicos, muitas vezes por pesquisadores desavisados. Isso acaba por prejudica-los, pois o fato do periódico estar listado como potencialmente predatório poderá levar a comunidade científica a não dar ao artigo seu devido valor. Por outro lado, a pressão por mais e mais publicações pode levar pesquisadores a recorrerem à periódicos predatórios, nos quais é fácil publicar artigos que ainda não atingem o padrão de qualidade necessário para serem publicados por revistas mais bem avaliadas. Neste sentido, é importante que o mundo acadêmico brasileiro tenha uma noção clara das práticas editoriais dos periódicos predatórios e reflita sobre os risco da contabilidade acrítica de artigos publicados como medida de qualidade.”
Qualis
O Qualis-Periódicos é um sistema usado para classificar a produção científica dos programas de pós-graduação no que se refere aos artigos publicados em periódicos científicos. Como resultado, disponibiliza uma lista com a classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção. A classificação é realizada pelos comitês de consultores de cada área de avaliação, seguindo critérios previamente definidos pela área e aprovados pelo CTC-ES, que pocuram refletir a importância relativa dos diferentes periódicos para uma determinada área. A classificação de periódicos é realizada pelas áreas de avaliação e passa por processo anual de atualização. Esses veículos são enquadrados em estratos indicativos da qualidade – A1, o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C – com peso zero. O mesmo periódico, ao ser classificado em duas ou mais áreas distintas, pode receber diferentes avaliações. Isto não constitui inconsistência, mas expressa o valor atribuído, em cada área, à pertinência do conteúdo veiculado.
Periódicos Predatórios
São revistas que cobram para publicar artigos acadêmicos, mas não fazem a avaliação adequada da qualidade dos textos científicos. Os periódicos predatórios aceitam artigos rápido e sem critério. Assim, burlam um dos princípios fundamentais que a ciência tem para zelar pela qualidade do conhecimento que produz e traz a público.
Yolanda Assunção