Editorial Jornal Pensar a Educação em Pauta, nº 243, 28 de junho de 2019
Nas recentes manifestações de rua ocorridas no Brasil contra a reforma da previdência e a favor da escola pública e da democracia, era nítido que o grupo mais numeroso de manifestantes era aquele ligado diretamente à escola pública, ou seja, as(os) alunas(os) e as(os) profissionais da educação.
O protagonismo dos sujeitos da educação nos atos anti bolsonarista é explicável por um conjunto de fatores, dentre os quais se destacam aspectos eminentemente políticos e ideológicos, tais como os ataques do Ministro da Educação à escola pública, da educação infantil à pós-graduação; a perseguição ao pessoal da escola como sendo os novos “inimigos da pátria”; a atuação, em âmbito nacional, de movimentos como o “escola sem partido”, que propõem o rígido controle sobre a atuação docente em sala de aula; a acusação do Ministro da Educação e dos grupos de direita de que as professoras e os professores são “doutrinadores” das crianças e jovens, dentre outros.
Todavia, não podemos esquecer que, ao lado desses fatores, há outros, de ordem econômico-financeira, de grande importância. Por um lado, no que diz respeito à reforma da previdência, há um consenso de que uma das categorias mais impactadas, negativamente, é a de professoras e professores. Além de trabalhar mais tempo, terão uma aposentadoria menor do que a que receberiam segundo as regras atuais.
No entanto, ao mesmo tempo em que agem para “preservar o futuro”, as professoras e os professores brasileiras(os) lutam em vista a superação das difíceis condições de exercício da profissão docente no país. Dados publicados recentemente demonstram que as professoras e os professores brasileiras(os) estão entre as(os) que mais sofrem violências no mundo e, ao mesmo tempo, estão entre aquelas(es) que recebem a mais baixa remuneração entre suas(seus) colegas dos vários países pesquisados. A estes aspectos se somam, ainda, as difíceis condições de trabalho enfrentadas em muitas escolas e a precariedade, quando não a ausência pura e simples, de carreiras para as(os) profissionais da educação em quase todo o país.
Certamente o enfrentamento dos grandes desafios contemporâneos da educação, relacionados, sobretudo, à qualidade da escola, seria facilitado se tivéssemos resolvido, societariamente, os problemas estruturais da educação no Brasil – como a valorização da profissão docente, por exemplo. Mas nunca tivemos, de fato, a consciência e a vontade coletivas de resolvê-lo. A ação do atual governo, sobretudo por meio do próprio Ministério da Educação é, disso, prova cabal. A sua principal proposta não é valorizar a escola pública e suas(seus) profissionais. Antes, pelo contrário, se propõe a reforçar a escola privada e as práticas históricas de exclusão escolar e social.
A escola pública é tão combatida hoje porque, a despeito das críticas a ela feitas, sobretudo por quem não a frequenta ou frequentou, ela é uma instituição que vem dando certo. É a mais capilar e inclusiva de nossas instituições públicas. É nelas que mais de dois milhões de profissionais se mobilizam, todos os dias, para receber, da melhor forma possível, as novas gerações, garantindo-lhes o direito à educação.
Quando, pois, tais profissionais, além do exercício profissional cotidiano, ainda encontram energia e alegria para defenderem a democracia, o Estado de Direito, a educação pública de qualidade e para combaterem o autoritarismo do atual governo, eles devem ser saudados e respeitados como construtores de um país mais justo e igualitário, e não tratados como inimigos da pátria. Essa, no entanto, parece ser uma dimensão de reconhecimento e respeito a que os bolsonaristas jamais alcançarão. Pena para nós, mas, reconheçamos, para eles(as) também!
Imagem de destaque: Tomaz Silva / Agência Brasil