Reimaginar a educação no Brasil pós pandemia: uma necessidade urgente

Cláudia Maria Abreu Cruz

Em setembro de 2012, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); e a Organização Pan-americana da Saúde/ Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil lançaram o relatório “COVID-19 e Desenvolvimento Sustentável: avaliando a crise de olho na recuperação”. Para os pesquisadores, o documento objetiva contribuir com os esforços de diálogos e de recuperação dos impactos da COVID-19 no Brasil e estabelecer parâmetros para o devido acompanhamento do processo recuperativo ao longo dos próximos anos.

Conforme aponta o relatório, a pandemia da COVID-19 agravou ainda mais as desigualdades, afetando todos os aspectos da vida de populações no mundo inteiro. De maneira geral, embora todos os países tenham sido afetados, fica notório que, nas sociedades mais desiguais e mais pobres, as consequências da pandemia acabaram tendo um impacto muito maior.

Nas últimas décadas, o Brasil apresentou, por exemplo, importantes progressos e significativo desenvolvimento, diminuindo a desigualdade social. Entretanto, a partir do golpe parlamentar de 2016 e do desmonte de inúmeras políticas públicas, pode-se constatar que os efeitos da pandemia atingiram de maneira contundente a população mais vulnerável do nosso país, sobretudo no que tange os direitos econômicos, sociais, culturais,  sanitários e ambientais.

Diante desta constatação, se torna necessário e urgente pensar no enfrentamento desses efeitos de modo a responder ao impacto da crise exacerbada pela COVID-19 às questões estruturais de desigualdade e distribuição de renda no Brasil.

O Relatório das Nações Unidas também apontou para a necessidade de uma resposta política à COVID-19 que equilibre as prioridades de saúde pública e as atividades econômicas e sociais, além de dispor de medidas de curto prazo para conter a propagação do vírus e seus efeitos.

Importante ressaltar a solidariedade e indignação pelas quase 700 mil vítimas fatais da COVID 19 no Brasil desde 2020, milhares de órfãos/ãs e de afetados/as espalhados/as em todo território nacional, pessoas que não tiveram seus direitos garantidos por um Governo que administrou a pandemia de maneira irresponsável, na contramão do que foi feito na maioria dos países.

Os impactos da pandemia apontados pelo relatório nas várias áreas – saúde, educação, economia, social podem nos ajudar, em alguma medida, a fomentar diálogos no sentido da diminuição desses problemas e de possíveis ações devidamente analisadas e pensadas para uma necessária recuperação.

No âmbito dos impactos provocados na área da educação, destaca-se, de acordo com o Relatório, que pelo menos 147 países tiveram as escolas fechadas, o que resultou em mais de 1,4 bilhão de crianças e jovens afetados/as, o correspondente a cerca de 86% da população estudantil mundial. Na educação primária, os números variam de acordo com o nível de desenvolvimento do país e a taxa é maior nos países de baixo desenvolvimento humano.

No Brasil, dados do mês de junho de 2020 divulgados pelo Banco Mundial mostravam que mais de 47,9 milhões de crianças e adolescentes estavam sem aulas presenciais em abril de 2020. Os prejuízos foram enormes no processo de aprendizagem dos/as alunos/as em idade escolar, interrompendo o acesso a outros serviços básicos importantes, como alimentação escolar, atividades recreativas e extracurriculares, entre outras tantas que as instituições de ensino proporcionam.

A alternativa para a continuidade da aprendizagem após o fechamento das escolas foi o ensino remoto mediado por tecnologias. Entretanto, o acesso à tecnologia foi bastante desigual e as populações mais vulneráveis encontraram dificuldades em acessar o ensino remoto pela falta de acesso às tecnologias e à internet. Nos centros urbanos, as populações da periferia não tinham os recursos, equipamentos e internet adequados para acessar o ensino proposto. Em relação à população da zona rural a dificuldade de acesso também não foi diferente.

Neste contexto, grande parte das crianças e adolescentes no Brasil não tiveram acesso ao direito à educação adequada e, de acordo com os parâmetros mínimos, apesar dos incansáveis esforços de professores/as que tiveram que se reinventar, com todas as dificuldades e desafios que tiveram que encarar. Além de enfrentarem uma política de desmonte da educação adotada durante a pandemia, o não investimento do MEC em inclusão digital, cortes de recursos, entre outros. Tudo isso resultou em não aprendizagens com consequências incalculáveis.

Diante deste cenário precisamos reimaginar a educação no nosso país para garantir o direito de aprender de cada criança e adolescente, favorecendo o sucesso escolar de todos/as, começando pela valorização dos/as profissionais em educação, além de promover diferentes iniciativas e ações para reduzir a exclusão digital.

Os desafios são enormes. Terá que se realizar uma revolução na prática pedagógica, nos currículos escolares, propiciando a aprendizagem e o desenvolvimento de novas habilidades para promoção de educação verdadeiramente emancipadora para todas as crianças e adolescentes. Garantindo a universalização do acesso à internet e a diminuição do abismo tecnológico, que é resultado de desigualdades estruturais da sociedade brasileira. Neste contexto, serão necessárias novas políticas públicas para verdadeiramente promover transformações sociais que favoreçam a transição para uma sociedade mais igualitária, mais justa, mais inclusiva.

Sobre a autora
Pedagoga e professora aposentada, trabalho voluntário em alfabetização.


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