Virgínia Pereira da Silva de Àvila
Vivemos um tempo estranho. Hoje, de modo especial, 31 de agosto de 2016 revelamos ao mundo o pior da sociedade brasileira, quando 61 senadores se tornaram algozes da primeira presidenta do país. As manifestações destes(as) senhores(as) além de sofríveis foram permeadas por expressões raivosas e intelectualmente pobres. A cada pronunciamento dos senadores golpistas (sim, foi um golpe!) eu me perguntava: o que diremos aos nossos filhos, netos e alunos sobre esse momento da história política brasileira? O retrocesso já é visível, quer nos programas de inclusão social como no investimento em educação e saúde.
Infelizmente, somos uma sociedade marcada pela desigualdade social. Dito de outra forma, ainda não saímos do período colonial, ou como dizia Millôr Fernandes: o Brasil tem um longo passado pela frente. Soma-se a isso, o fato de vivermos numa sociedade pautada pela grande imprensa. Falta-nos, portanto, uma dose de espirito investigativo que passa necessariamente pelo desenvolvimento da capacidade de analisar, comparar, questionar e duvidar sobre o teor das notícias veiculadas nos telejornais. Neste aspecto, estimular o pensamento crítico e autônomo é tarefa que se impõe com urgência nos diferentes territórios educativos, formais e não formais.
Como professora e pesquisadora de cursos de licenciatura em pedagogia e pós-graduação stricto sensu, tenho observado uma espécie de esvaziamento do pensamento crítico e reflexivo entre os estudantes e pasmem, entre os professores também. Chama a atenção, inclusive, a baixa participação dos professores (e aqui faço referência a universidade em que trabalho) na discussão dos grandes temas nacionais e dos problemas que afetam a vida dos nossos estudantes, como transporte, restaurante universitário, sala de acolhimento para os(as) filhos(as) de alunos, servidores(as) e professores(as), entre outros. Talvez quando a crise provocada pela direita golpista chegar aos contracheques dos professores(as), essa situação se modifique. De toda maneira, vivemos a carência do trabalho coletivo e solidário, do conteúdo político e articulado em prol do bem comum, no caso, em prol da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão oferecidos aos nossos estudantes.
Em síntese, é como se estivéssemos perdendo a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Mas, o mais grave é que estamos substituindo a compaixão pelo desamor, pelo ódio ao diferente, pela misoginia escancarada na votação pelo impeachment da presidenta Dilma, por todas as cenas de homofobia, pelo racismo que mata a cada dia meninos e meninas, homens e mulheres negro(as) nas periferias deste Brasil. Marilena Chauí tem razão quando diz que a elite brasileira quer dividir as carências, mas não quer compartilhar os privilégios. Foi isto o que aconteceu no dia hoje, a imposição de um projeto excludente e antidemocrático. A história não perdoará.
Neste sentido, ter tido uma presidenta da envergadura de Dilma Vana Rousseff foi uma honra para as mulheres brasileiras.