Quem ouviu D. Pedro dizer "Independência ou Morte"?

Anselmo Alencar Colares*

A cena, meramente ilustrativa, já está comprovada ter sido criação artística de Pedro Américo. Quadro feito por encomenda, para mostrar a imagem de um Brasil altivo e um governante heróico, líder, com trajes militares e fiéis seguidores acéfalos, empunhando as armas da época, dispostos a “morrer pela pátria e viver sem razão”, como dizem os versos da canção “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, cantada muitos anos mais tarde, no ápice da ditadura instalada decorrente do conluio entre o capital internacional, do alto empresariado nacional, de setores das forças armadas, do judiciário e de políticos brasileiros que bajulavam os países que supostamente eram melhores, sob o ponto de vista das elites, é claro.

O dia seguinte àquele 7 de setembro de 1822 permaneceu igual para a esmagadora maioria dos brasileiros, e assim continuaram os dias seguintes. Até hoje, e tudo indica que amanhã, e depois… e bem depois.

As palavras da curta frase até que são significativas e representativas. De fato, aconteceu – ou se ampliou – a Independência (de uns poucos, quase invisíveis, como as testemunhas do grito) e a morte de muitos. Morte lenta, resultado de uma espada que se ergue para o alto e lá permanece sobre a cabeça das pessoas que estão abaixo dos cavalos – era o que havia de mais sofisticado meio de transporte na época – e para as quais os pseudolíderes continuam a encomendar quadros, agora em outros formatos e chamados de fakes, mas com a mesma intenção: construir uma narrativa que mantenha a velha e cruel dominação das elites que se renovam, e das tradições carcomidas que insistem em fazer pose de aristocratas – reis, rainhas, príncipes… – ou membros da corte, não se importando a função que ocupem. Mesmo que seja a de bobos, alegrando aos independentes que fazem escárnio da morte, sob todas as formas, dos que permanecem fora do quadro.

Os independentes são os neo colonizadores. Donos do capital volátil e voraz que gera e amplia as desigualdades, que escamoteia e/ou aprimora a escravidão.

A cena do grito do Ipiranga tem seu valor estético como obra artística, mas está longe de expressar as muitas palavras a serem ditas, de bocas famintas de pão e de justiça.

* Professor Titular da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA


Imagem de destaque: Independência ou Morte. Pedro Américo. Acervo do Museu Paulista

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