Quem é contra a educação?

EDITORIAL Nº239, 31 DE MAIO DE 2019
A imagem acima se constitui num exemplo paradigmático dos tempos em que vivemos: ela retrata um grupo de manifestantes pró Bolsonaro retirando uma faixa em defesa da educação do prédio da Universidade Federal do Paraná. Diferentemente dos manifestantes dos últimos dias 15 e 30 de maio, os bolsonaristas foram às ruas no dia 26 em defesa de um conjunto de políticas de morte e, é evidente, contra a educação pública.

Ao atuarem contra a educação pública em todos os níveis, da educação infantil à pós-graduação, o governo Bolsonaro, seu Ministro da Educação e os minguados manifestantes que foram às ruas no último 26 estabelecem um novo paradigma de atuação do Estado e, mesmo, dos grupos conservadores brasileiros em relação à escola. Nunca, mesmo nos momentos em que as regras do Estado Democrático de Direito foram suprimidas, como no caso do Estado Novo e da Ditadura civil-militar, tivemos governos que estivessem publicamente contra a educação pública.

O novo paradigma estabelecido pelo governo Bolsonaro investe contra a escola pública e os sujeitos que cotidianamente a põem em funcionamento – alunas e alunos, professoras e professores e demais profissionais da educação. São os novos inimigos da pátria a serem combatidos. No entanto, se o paradigma é novo, as formas de atuação do governo Bolsonaro e seus aliados não o são. Como seus correlatos regimes nazifascistas, a mentira tem sido a principal arma do bolsonarismo para desclassificar os adversários e criar um clima social e político de que é necessário eliminá-los para o bem da Nação.

Não é sem razão que o bolsonarismo oficial que ocupa a Explanada dos Ministérios tem apontado as ciências sociais e a filosofia como áreas que não mais merecem apoio, incentivo ou financiamento sob o argumento de que são doutrinadoras de nossa ingênua juventude. Para o governo Bolsonaro e para os grupos que o apoiam, a simples possibilidade de que as crianças e a juventude sejam convidadas a pensar sobre o mundo é, já, uma ameaça que precisa ser combatida.

Defender a escola pública é fundamental. É a mais capilar e inclusiva das instituições republicanas. E é, em parte, por isso mesmo que ela tem sido sistematicamente atacada pelos bolsonaristas, ardorosos defensores dos privilégios de alguns e das desigualdades que sempre marcaram a sociedade brasileira. O que se quer evitar é que a escola se configure como, ainda que minimamente, uma ameaça ao status quo, seja pela inclusão dos “outros” que dela sempre estiveram alijados, seja pela possibilidade de crítica que a educação representa.

Mais uma vez convocados e convocadas, os defensores e as defensoras da escola pública ocupam as ruas do Brasil e reafirmam o direito inalienável das novas gerações a uma escola pública de qualidade e, inclusive, de qualidade porque é pública. Se o bolsonarismo é herdeiro daquilo que de pior tivemos em nossa história, nossa herança é outra: estamos ao lado de Nísia Floresta, da Pagu, de Maria Lacerda de Moura, de Anísio Teixeira, de Mário de Andrade, de Paulo Freire, de Florestan Fernandes, de Aparecida Joly Gouvea e de milhões de professoras e professores que, de forma anônima, silenciosa e contínua, fizeram e fazem a diferença na infância do/no mundo.

A política defendida pelos bolsonaristas é a política da destruição e da morte. É, de fato, uma antipolítica. E isto em todas as áreas e não apenas na educação. É por isso, também, que a reação ao que está acontecendo tem que ultrapassar o campo educacional e tomar o Brasil de ponta-a-ponta. E isto passa, sem dúvida, pela articulação de todos os setores e movimentos democráticos. É nessa direção que devemos avançar para derrotar não apenas o governo Bolsonaro, mas o bolsonarismo que ele representa.


Imagem destaque: Foto: Reprodução/Facebook

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Quem é contra a educação?

A imagem acima se constitui num exemplo paradigmático dos tempos em que vivemos: ela retrata um grupo de manifestantes pró Bolsonaro retirando uma faixa em defesa da educação do prédio da Universidade Federal do Paraná. Diferentemente dos manifestantes dos últimos dias 15 e 30 de maio, os bolsonaristas foram às ruas no dia 26 em defesa de um conjunto de políticas de morte e, é evidente, contra a educação pública.

Ao atuarem contra a educação pública em todos os níveis, da educação infantil à pós-graduação, o governo Bolsonaro, seu Ministro da Educação e os minguados manifestantes que foram às ruas no último 26 estabelecem um novo paradigma de atuação do Estado e, mesmo, dos grupos conservadores brasileiros em relação à escola. Nunca, mesmo nos momentos em que as regras do Estado Democrático de Direito foram suprimidas, como no caso do Estado Novo e da Ditadura civil-militar, tivemos governos que estivessem publicamente contra a educação pública.

O novo paradigma estabelecido pelo governo Bolsonaro investe contra a escola pública e os sujeitos que cotidianamente a põem em funcionamento – alunas e alunos, professoras e professores e demais profissionais da educação. São os novos inimigos da pátria a serem combatidos. No entanto, se o paradigma é novo, as formas de atuação do governo Bolsonaro e seus aliados não o são. Como seus correlatos regimes nazifascistas, a mentira tem sido a principal arma do bolsonarismo para desclassificar os adversários e criar um clima social e político de que é necessário eliminá-los para o bem da Nação.

Não é sem razão que o bolsonarismo oficial que ocupa a Explanada dos Ministérios tem apontado as ciências sociais e a filosofia como áreas que não mais merecem apoio, incentivo ou financiamento sob o argumento de que são doutrinadoras de nossa ingênua juventude. Para o governo Bolsonaro e para os grupos que o apoiam, a simples possibilidade de que as crianças e a juventude sejam convidadas a pensar sobre o mundo é, já, uma ameaça que precisa ser combatida.

Defender a escola pública é fundamental. É a mais capilar e inclusiva das instituições republicanas. E é, em parte, por isso mesmo que ela tem sido sistematicamente atacada pelos bolsonaristas, ardorosos defensores dos privilégios de alguns e das desigualdades que sempre marcaram a sociedade brasileira. O que se quer evitar é que a escola se configure como, ainda que minimamente, uma ameaça ao status quo, seja pela inclusão dos “outros” que dela sempre estiveram alijados, seja pela possibilidade de crítica que a educação representa.

Mais uma vez convocados e convocadas, os defensores e as defensoras da escola pública ocupam as ruas do Brasil e reafirmam o direito inalienável das novas gerações a uma escola pública de qualidade e, inclusive, de qualidade porque é pública. Se o bolsonarismo é herdeiro daquilo que de pior tivemos em nossa história, nossa herança é outra: estamos ao lado de Nísia Floresta, da Pagu, de Maria Lacerda de Moura, de Anísio Teixeira, de Mário de Andrade, de Paulo Freire, de Florestan Fernandes, de Aparecida Joly Gouvea e de milhões de professoras e professores que, de forma anônima, silenciosa e contínua, fizeram e fazem a diferença na infância do/no mundo.

A política defendida pelos bolsonaristas é a política da destruição e da morte. É, de fato, uma antipolítica. E isto em todas as áreas e não apenas na educação. É por isso, também, que a reação ao que está acontecendo tem que ultrapassar o campo educacional e tomar o Brasil de ponta-a-ponta. E isto passa, sem dúvida, pela articulação de todos os setores e movimentos democráticos. É nessa direção que devemos avançar para derrotar não apenas o governo Bolsonaro, mas o bolsonarismo que ele representa.


Imagem destaque: Foto: Reprodução/Facebook

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