Quanto vale? Reflexões sobre o valor do trabalho docente
Tatyanne G. Marques
Em sociedades capitalistas como as nossas, as profissões e as instituições têm o valor calculado a partir dos sujeitos que as ocupam. Neste sentido, ao ler os textos sobre o trabalho docente na América Latina propostos pela disciplina “Profissão docente na América Latina”, cursada no doutorado em Educação na UFMG, observei que este tem prestígio ou não a depender de quem exerce o ofício, em que tipo de instituição e em atendimento a quem.
Vejamos que quando a maioria dos docentes era de classes médias (especialmente falando das normalistas) o prestígio social era maior. Este prestígio – valor – relaciona-se também ao público com o qual esse profissional desenvolvia seu trabalho que, por volta de 40 anos atrás, no Brasil ou na Argentina, não era o mesmo de hoje. Veja como exemplo os estudantes do secundário da Argentina ou do Ensino Médio no Brasil. Há 3 ou 4 décadas atrás, este nível de ensino era composto por poucos estudantes quando comparados com a quantidade atual. O Ensino Médio, como afirma Fanfani (2010, p. 40), era uma antissala da universidade e como tal estava reservada somente para os herdeiros, ou seja, os filhos das classes dominantes e a alguns pobres que conseguiam, por mérito, furar esta estrutura. Neste contexto, os docentes tinham maior prestígio porque seu trabalho era feito com os poucos – estes, por sua vez, melhor posicionados na sociedade de classes – possibilitavam aos docentes um status exigido pelas etiquetas capitalistas.
Assim, os professores/as, especificamente do Ensino Secundário/ médio, tinham um perfil social muito diverso do atual – mas que ainda é muito diferente dos outros níveis da Educação Básica. Pode-se dizer que o contato deles com jovens das classes mais privilegiadas da sociedade forneceu-lhes prestígio “por contágio”, derivado da proximidade física com essas classes.
Hoje, o contágio para se obter prestígio está restrito. Afinal, houve a massificação do Ensino Médio na América Latina (por meio da obrigatoriedade da lei e do mandato social). Portanto, há cada vez mais crianças e jovens das classes populares na escola. Junto com este fenômeno – e não só por isto – há mais professores das classes populares. Afinal, os professores das classes médias não são mais atraídos por uma profissão que têm pouco prestígio. Prestígio, então, parece ser sinônimo, nestas sociedades capitalistas, de poder econômico, de bens. É tanto que os professores em seu trabalho valem pelas posições que ocupam: professor universitário (onde ainda se têm menos pobres) tem o maior prestígio; professores de Ensino Médio mais que os de Ensino Fundamental e estes mais que os de Educação Infantil. Quanto vale o professor de cada um desses níveis educacionais? Vejamos nos dados apresentados por Pinto (2009) em que, à medida que o nível de educação em que atua o docente decai, decai também seu salário. E eu acrescento, seu prestígio. Afinal, nos níveis mais baixos da educação, estão também os despossuídos.
Para possuir mais, todos entramos na lógica do privado, já que, em nossa construção social colonizada de todas as formas, cremos que quanto mais pagarmos, mais valor tem aquele bem/serviço. Assim, desqualificamos tudo que é público porque acreditamos que não tem valor. E todos vamos colocando nossos filhos e crenças na escola privada, nas instituições privadas – mesmo que, como educadores, atuemos e defendamos o público. Quanto vale? Esta é a questão por trás de tudo.
Tatyanne é Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia. Doutoranda em educação pela FaE/UFMG. Linha de pesquisa Educação, Cultura, Movimentos Sociais e Ações Coletivas. Email: tatygmarques@yahoo.com.br
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