Quando a régua da “moral cristã” rege a vida coletiva, como fica a escola?

Raquel Melilo

Renata Fernandes Maia de Andrade

Jair Messias Bolsonaro é cristão. É assim que se autodetermina e não temos a pretensão de julgar suas práticas políticas e pessoais para tentar entender se a autodeterminação é o suficiente. A questão aqui é outra. Por que esta informação, da religião professada pelo chefe de Estado, parece ser tão importante? Por que deveríamos saber algo que é, em última instância, uma decisão individual do cidadão Jair Messias Bolsonaro? Nós não só sabemos que nosso presidente é cristão como passamos a entender que princípios bíblicos guiam suas decisões (pelo menos é isso que ele diz). Daí, justifica-se aescolha de um ministro do STF que seja terrivelmente evangélico. E não seria o primeiro ministro com este status haja vista a nomeação de Damares Alves para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Sob o comando de uma ministra terrivelmente evangélica, a mulher e a família que a pasta representa também tem que seguir um modelo cristão. Destaca-se: um modelo.

Este modelo cristão também está presente no slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Um slogan de campanha virou marca de um governo, e portanto, do Estado. Isso tudo faria sentido se vivêssemos em uma teocracia, onde o líder religioso é também chefe de Estado. Em uma sociedade moderna, estruturada politicamente como uma república, e guiada por instituições democráticas, a religião não deveria ser a marca de um governo.

Estamos tentando fugir do óbvio: o Estado brasileiro é laico. Ou seja, não professa nenhuma religião ou credo. A vida coletiva, portanto, é guiada por outros valores sociais construídos historicamente.  A religião é dissenso.  Fé como explicação do sobrenatural e como ferramenta mental para que possamos viver com nossas limitações morais: a culpa de sermos moralmente imperfeitos, o conforto em acreditar em um perdão aos pecados mais humanos e a esperança na salvação eterna. A religião ajudou a humanidade a criar grupos coesos, que compartilhavam mitos. Mas foi o desenvolvimento das habilidades cognitivas que fizeram com que o ser humano dominasse técnicas e produzisse tecnologia. A racionalidade evoluiu até que se tornasse ciência.

A escola não é lugar de crenças.  Escola é lugar de ciência. E a ciência, ao contrário da religião, opera na lógica do consenso. Isso não significa concordância. Consenso, segundo a lógica científica, significa operar o pensamento segundo parâmetros pré-estabelecidos, construídos coletivamente. Na ciência não se compartilha mitos, compartilha-se conhecimento. E conhecimento compartilhado significa dinâmica e mudança.

Não queremos dizer que não se possa falar de religião no ensino formal. A escola, dentre várias atribuições, tem a função de explicaras diferentes estruturas sociais e o papel da religião para a cultura. Neste sentido, se apresenta outra perspectiva sobre as religiões, relacionadas à identidade de um indivíduo, povo ou sociedade.  Assim, a escola consegue cumprir um importante papel social:  fornecer ferramentas de convivência ética universalmente aceitas. Os mitos são esquecidos. A racionalidade valoriza outro indivíduo: aquele que compõe a sociedade e pode transformá-la para a realização do bem comum. Isto sim, é princípio cristão.


Imagem de destaque: Presidente Jair Bolsonaro participa de oração coletiva com os lideres religiosos. Foto: Alan Santos/PR

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