Produtividade: a face mais agressiva da Educação

Tiago Tristão Artero

A ideia de produtividade não é intrínseca à Educação.

Tomando como exemplo políticas públicas voltadas ao fornecimento de alimentos para escolas, com uma variedade de locais que enviam verduras, frutas e grãos, a dinâmica de funcionamento ocorre mobilizando assentamentos, quilombos, pequenas(os) produtoras(es), comunidades que vivem envolvidas com agroecologia e residem no campo, nas florestas. Ao alterar esta dinâmica, inserindo fatores de produtividade, de barateamento e concorrência entre estes locais, as comunidades tornam-se concorrentes e a exploração do trabalho se manifesta, bem como o desemprego. Provavelmente, em pouco tempo, alguém que não é da região irá apropriar-se daqueles espaços e impor métodos de produção degradantes da biodiversidade e escoar os lucros para uma pequena quantidade de pessoas.

Este é um caso em que uma alternativa, mesmo no sistema opressor do capitalismo, favorecia os processos coletivos e, com uma canetada, com uma pequena alteração burocrática, toda uma série de relações coletivas foi desarticuladas, onde, outrora, ocorria colaboração, troca de sementes, soberania e segurança alimentar.

Afirmo que a produtividade é a face mais agressiva da Educação. Artigos fatiados, como salame, que abastecerão muitas revistas, congressos e capítulos de livro. Um ensino cartesiano, excludente de outras dinâmicas de funcionamento social, que forma para alcançar um emprego ou alçar a um posto de comando, diferenciando-se da massa.

Poderia reportar aqui os diversos cartazes de escolas particulares, onde um leão representa a filha e o filho, ainda bebê, mas que já diferencia-se em sua formação para o mercado de trabalho. Poderia reportar, também, os diversos mecanismos estaduais e municipais que colocam as escolas como concorrentes umas das outras, beneficiando aquelas com maior rendimento em avaliações padronizadas, extremamente racistas, pedagogicamente.

A produtividade alimenta a “crise de cuidados”, que escraviza as mulheres, especialmente as mulheres mais velhas e, até mesmo, as crianças. Menciono “cuidados” como as tarefas de cuidar de alguém, de alguém considerado “improdutivo”, ou em tenra idade, ou muito mais velho. Enquanto os homens alçam voos em direção ao mercado de trabalho, as mulheres ficam em casa, de maneira não remunerada. Se elas precisam sair de casa para trabalhar (geralmente, cuidando de alguém, de alguma casa, de uma classe social mais abastada), seus filhos e filhas ou suas mães, já idosas, cuidam dos netos e netas, ou de alguém com deficiência.

Nós ensinamos produtividade na escola, assemelhando-nos aos coaches, alimentando este sistema de trabalho das(os) idosas(os) e das crianças. Afinal de contas, trabalhar, neste sistema empresarial no qual vivemos, é um privilégio daqueles que conseguem emprego e, especialmente, daqueles que não são obrigados, socialmente, patriarcalmente, a cuidar de ninguém.

A produtividade está abraçada com os sistemas de opressão… à Natureza, à mulher, aos países de economia primária, ao consumismo desenfreado que coloca como modelo de desenvolvimento países que, se seu modo de vida fosse espalhado mundo afora, necessitariam de 5 planetas Terra para dar conta de tamanha extração e degradação do solo e dos mananciais.

Quando ensinamos produtividade na escola, sabendo ou não, colocamos em risco nossas próprias vidas e das gerações seguintes. Afinal, onde está a maior fonte de água doce do mundo? Onde está a maior fonte de petróleo? E as reservas de nióbio que comporão as ligas de metais? E o lítio que move, e moverá mais ainda, a automação tecnológica via baterias? A resposta pode ser reflexiva, ou não. É na América do Sul. Parcos conhecimentos de geopolítica podem demonstrar que os países mais colonizantes são aqueles que, desesperadamente, querem apropriar-se, a qualquer custo (mesmo), destas riquezas naturais (que nomeamos, equivocadamente, como “recursos a serem explorados”).

Nossa pedagogia voltada à produtividade, mesmo que seja nomeada antirracista, inclusiva, democrática e a favor da equidade de gênero, se tiver como método, e até como fim, a produtividade alia-se ao racismo, ao racismo ambiental, ao racismo pedagógico, à violência policial, aos aspectos antidemocráticos estatais (e, avassaladoramente, privados também), ao patriarcado e a manutenção das relações colonizantes entre países.

A produtividade é a face mais agressiva da Educação e há centenas de exemplos de como poderia ser diferente… a começar por respeitar outras cosmovisões que não estão alinhadas ao modo de vida degradante da vida e da Natureza.


Imagem de destaque: kjpargeter

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