Povos originários do Brasil e  o “circo de horrores” no Vale do Javari (AM)

Valter Machado da Fonseca

Esta não é a primeira matéria que escrevo em defesa dos direitos dos povos originários do Brasil e da América Latina. Na semana que passou não enviei nenhuma matéria ao jornal, pois fiquei quase que paralisado, petrificado diante dos covardes assassinatos de um dos nossos principais indigenistas Bruno Pereira e do militante da causa indígena, o jornalista britânico Dom Phillips no Vale do Javari na nossa Amazônia. Diante desses bárbaros assassinatos fiquei quase que na “paralisia da vontade”. Mais uma vez, os holofotes do planeta se voltaram para nossa floresta, não para exaltação de sua exuberância e magnificência, mas para a barbárie que se instalou na maior floresta tropical do planeta em detrimento do descaso e descompromisso do capitão de plantão do Palácio do Planalto e sua equipe.

Estes dois assassinatos, além de um fato histórico-político, trazem em seu seio todo o simbolismo da grande causa indígena e todo seu mosaico cultural, histórico e social. Não! O assassinato desses dois grandes militantes em defesa dos direitos dos povos originários não foi em vão. Estes monstruosos fatos políticos trazem à tona toda uma gama de reflexões que envolvem esta relevante temática. Aqui me vem à mente uma resposta do pensador indígena Ailton Krenak quando ele foi perguntado por um veículo da imprensa brasileira (não me lembro qual) acerca dos ataques neoliberais da equipe do “capitão” às comunidades indígenas. A resposta de Krenak foi a seguinte: “nós, povos indígenas, resistimos a esses ataques há cerca de 500 (quinhentos) anos e aí eu devolvo a pergunta a vocês homens brancos. Até quando vocês suportarão tais ataques” (KRENAK, 2020).

A resposta do pensador indígena é de grande significação para nossas reflexões, pois os ataques, assassinatos e desmandos contra as comunidades indígenas tiveram início com a chegada dos portugueses ao nosso país no ano de 1500 e perduram até os dias presentes de forma muito evidente. Cotidianamente percebemos, via grande mídia, que esses ataques são incessantes e intermináveis, sem nenhuma trégua. Podemos dizer que as comunidades indígenas em todos os tempos e de forma mais contundente neste desgoverno de caricatura nazifascista, lutam bravamente e continuamente pelo simples direito de existirem. Observem que a resposta de Krenak traz uma forte provocação de que a causa indígena é defendida basicamente por sua própria resistência, quando deveria ser uma luta de todos. Vejam que ele se volta em defesa de uma luta classista de todos os oprimidos.

Aqui é preciso relembrar as diversas lideranças que foram assassinadas em defesa da nossa Amazônia e do conjunto de comunidades que a habitam, como Chico Mendes, Dorothy Stang, além de inúmeras lideranças anônimas indígenas e não indígenas. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), somente em 2021 foram registrados 35 assassinatos no campo brasileiro, sendo 28 deles na Amazônia Legal. Isto sem falar dos crimes, torturas, desaparecimentos, assassinatos, campos de concentração para prisioneiros indígenas e envenenamento de comunidades inteiras durante a ditadura militar, fatos relatados pela Comissão da Verdade (CV) criada pelo parlamento brasileiro para investigar os crimes do regime militar/empresarial no Brasil. As comunidades indígenas do Brasil foram rebaixadas às condições de “não-humanos”, conceito construído desde o início do processo de colonização das Américas construindo, dessa forma, uma narrativa que visa a legitimação da matança dos povos originários.

Por fim, é preciso reafirmar que os assassinatos de Bruno e Dom não foram em vão. A partir desses acontecimentos monstruosos surge uma demanda urgente, de uma resposta unificada dos povos oprimidos de nosso país. Uma resposta que conclame os amplos setores classistas democráticos do campo dos oprimidos a organizarem a resistência às forças destrutivas que emanam da emersão dos grupos neofascistas em diversas partes do globo e, em especial no Brasil. Nenhum voto aos nazifascistas! Nenhum voto ao centrão!

Para saber mais
Assassinatos no campo em 2021 batem recorde dos últimos quatro anos. Acesse aqui.


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