Por uma Educação Antifascista

Ruan Debian
Douglas Tomácio

Para iniciar nossa “conversa”, indagamos: o que é Educação? Estamos de acordo com a definição adotada pela tradição da pedagogia histórico-crítica, em que consideram a educação “[…] como o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.” (SAVIANI, 2020, p.173).

Por essa linha de raciocínio, percebemos que o conceito de educação aqui discutido transcende o que se entende pela convencional educação neoliberal escolar, ampliando a discussão para a formação ontológica do próprio sujeito enquanto ser humano. 

Dessa maneira, emerge uma segunda indagação, que é da maior importância: ora, qual educação queremos? Atualmente, experienciamos uma sociedade onde o “deus” capital prevalece, e seus mandamentos são a competitividade e a exclusão, altamente palatáveis pelo subterfúgio estratégico e falacioso da meritocracia. Mandamentos cuja intensificação egoísta se faz sentir pelo seguir descolado da crítica expresso por seus tantos fiéis. 

E assim, sob esvaziamento de seus sentidos, em processos robustos e acelerados de mercantilização, e contando com profissionais cada vez mais precarizados e vilipendiados, vemos o modelo educacional que, verticalizado e horizontalmente, deposita seus nefastos conteúdos e preceitos nos alunos. Uma lógica educacional por Paulo Freire chamada de “educação bancária” (FREIRE, 1987).

Depósitos e mais depósitos de valores que, no capital fundando-se e sob perspectiva norte-eurocentrada, brindam e blindam a desigualdade, desumanizam a alteridade que indaga, reagem frente aos avanços dos distintos e necessários movimentos sociais em suas lutas por outra ordem de mundo, em suas mais variadas facetas.  

Esse modelo de educação, sem lucidez crítica e afeita ao capital, reverbera socialmente em uma juventude que, também em seus moldes formada, revela-se completamente reacionária. E suas práticas horrendas, potencialmente ampliadas, podem ser vistas inclusive nas universidades brasileiras. 

Exemplo disso, é o fortalecimento nos últimos anos da exaltação facínora, seja ao fascismo, seja ao nazismo, que vem aumentando consideravelmente. Para citar apenas alguns tristes exemplos em 2022, de tantos casos, podemos destacar as pichações de suásticas nos muros da faculdade de saúde pública da Universidade de São Paulo (FMUSP). O mesmo símbolo apareceu nas paredes de uma escola localizada em Minas Gerais, na cidade de Contagem. Já no Sul, dando-nos a dimensão de um horror que parece percorrer as várias regiões do território nacional, membros de uma célula neonazista, todos estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foram presos por meio de operação da Polícia Civil catarinense.

No combate ao pensamento neonazista e neofascista crescente, e em diálogo com a perspectiva de educação advinda da compreensão histórico-crítica, uma resposta parece-nos mesmo necessária à indagação posta: queremos, precisamos, de uma educação antifascista! 

Daquela que, revisitando-se inclusive nos fundamentos que a mantém e fazendo-se crítica à estrutura social que, a todo tempo, insiste em nos tomar, se forje por meio das ações críticas e intencionais de educadores e educadoras que se mobilizam permanente e em conjunto com toda a comunidade. E o fazem no sentido de contribuir para que os sujeitos por nós formados não sejam os “homens punidos” no amanhã; para que o horror nefasto não ganhe forma de cotidiano que, doído e doloroso, atravessa o país fazendo dele terra em desesperança.   

Nesse caminho apontado, nossas esperanças são investidas, tomam nossos corpos em ações de ensinança partilhada, a fim de que que, num futuro próximo, possa prevalecer o artigo 1° da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”.  

Sobre os autores
Ruan é educador popular, graduado em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), discente de Ciência Sociais da UEMG, militante do coletivo Juntos e membro do CDDH de Betim. E-mail debianruan@gmail.com

Douglas é professor do Departamento de Educação (DE-Ibirité) da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). E-mail: dtlmeduc@gmail.com

Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

KERCHER, Sofia; CALDAS, Guilherme. Nazista e USP na Mesma Frase – de Novo. Jornal do Campus, 2022. Acesse aqui

SAVIANI, Dermeval. A Pedagogia no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2020. 

SILVA, Camila. Episódios neonazistas crescem sob o governo Bolsonaro, aponta relatório. Carta Capital, 2022. Acesse aqui


Imagem de destaque: Galeria de Imagens. 

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