Por que eu deveria aprender Linguística hoje?

Dalmo Buzato¹

Quando pensamos em quem trabalha na Google, por exemplo, logo imaginamos programadores, cientistas da computação, engenheiros de software… E quem trabalha na NASA? Astrônomos, astrofísicos, físicos, químicos, certo? E no FBI, ou na Polícia Federal? Com certeza, médicos legistas, detetives, investigadores, peritos, analistas. Pois bem, inicialmente, nós nunca pensamos que existem linguistas trabalhando nesses lugares… Mas eles estão! E hoje, eu vou mostrar porque você deveria saber mais sobre a Linguística e que, na verdade, os linguistas estão em todos os lugares!

A Google, enquanto eu escrevo este texto, está com 10 vagas abertas para linguistas em suas unidades ao redor do mundo. As funções são as mais variadas, trabalhar com processamento semântico, reconhecimento de voz, línguas de sinais, análises de uso e experiência do usuário etc… Facebook, Instagram, Twitter e o Youtube são outras empresas que estão sempre contratando linguistas também… Mas por que linguistas trabalham nesses lugares? 

A resposta é simples! Porque tudo o que fazemos, seja no mundo real, ou no mundo virtual, utiliza a linguagem! É só pensar, desde as mensagens no whatsapp, os tweets no twitter, as legendas do Instagram ou mesmo esse texto aqui! Todos esses textos precisam ser processados, e o mais importante, toda essa carga infinita de texto possui informações importantíssimas sobre os usuários, as pessoas, seus sentimentos e a sociedade, e isso é muito relevante para essas empresas. E o profissional habilitado para lidar com essas questões relacionadas à linguagem é o linguista. 

Outro ponto facilitador é a interdisciplinaridade da área: linguistas também são cientistas da computação, matemáticos, fonoaudiólogos, psicólogos, publicitários! Isso gera um grande aglomerado de possibilidades e projetos transdisciplinares, que superam as “caixinhas imaginárias” do conhecimento, e conseguem ver os fenômenos do mundo de maneira mais holística, do jeito que eles são de verdade. 

Mas, e se em um belo dia, você acorda, vai no Instagram e se depara com a seguinte notícia: Alienígenas chegaram ao planeta Terra! Quem os governos e as autoridades deveriam enviar para tentar uma comunicação com os nossos visitantes? Astrônomos? Biólogos? Não, linguistas! É exatamente isso que ocorre no filme Arrival, lançado em 2016 (aliás, esse é um ótimo filme!). Não há outro profissional capacitado para lidar com as questões da linguagem, seja extraterrestre ou humana, senão os linguistas. Se a linguagem envolver a emissão sonora, existem os fonéticos e fonólogos. A linguagem, com certeza, deve ter uma estrutura, e para isso, existem os sintaxistas. Para estudar as relações de significado, existem os semânticos, os analistas do discurso e tantos outros especialistas. O ponto é: em pouco tempo, teríamos uma descrição avançada da linguagem, principalmente com auxílio de biolinguistas e linguistas computacionais, por exemplo. 

Atualmente, matemáticos e linguistas trabalham juntos na emissão de sinais codificados pelo espaço para noticiar a nossa existência, caso exista outra espécie inteligente capaz de decodificar a mensagem no universo. A mensagem é escrita por meio da matemática, pois além de ser uma linguagem, a matemática é universal, e suas regras são válidas em todas as dimensões do universo. E, bom, agora você já sabe porque linguistas trabalham na NASA.

Mas talvez, você, caro leitor, não queira se comunicar com alienígenas, nem com computadores. Talvez, neste momento, você está pensando em como dizer que gosta do seu crush ou em como “dar um fora” sem ser mal-educado. Você já deve saber que a linguagem carrega emoções, sentimentos, e muitas vezes, somente pela voz de uma pessoa já sabemos se ela está em dia bom ou ruim. Peritos, interrogadores e analistas perceberam isso, e juntamente com linguistas, vêm desenvolvendo um campo muito curioso nos estudos da linguagem: a Linguística Forense! 

A Linguística Forense vê a língua como uma evidência e procura solucionar problemas jurídicos, por meio da análise e compreensão de discursos e interações produzidas em ambientes judiciais, policiais ou políticos. Por meio dessa área, a linguagem, ou melhor, a interação pela linguagem, passa a ser uma evidência judicial, como uma impressão digital ou uma mancha de sangue, por exemplo. 

Eu poderia escrever vários outros parágrafos sobre as relações da linguística com a neurociência, a psicologia, a medicina, a publicidade, a filosofia… Pois de fato, a ciência da linguagem consegue fazer pontes com todas essas áreas. Mas por onde começar? Existem diversos caminhos, mas acredito que um dos melhores seja conhecer a olimpíada do conhecimento voltada para a linguística e os fenômenos da linguagem, a Olimpíada Brasileira de Linguística, vulgo OBL. No site do evento existem diversas questões de provas anteriores e vários vídeos curiosos! Pois bem, eu vou ficando por aqui, até mais!

 

1Dalmo Buzato é estudante de Informática do CEFET-MG Campus Contagem. Interessado por questões que envolvem a linguagem e a mente humana. Atua na divulgação científica em Linguística com o projeto @planetadalinguistica. E-mail: cefetdalmo@gmail.com.


Imagem de destaque: Pixabay.

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