Por que é preciso reconhecer as teóricas negras? Um convite à leitura de Beatriz Nascimento

Alexandra Lima da Silva

Quantas historiadoras negras você já leu? E quantas foram incorporadas como leituras obrigatórias nas disciplinas que você leciona ou cursa?

No balanço da produção a respeito da categoria “intelectuais”, abundam estudos sobre “homens brancos de letras” como sendo quase sinônimo de erudição, conhecimento. Quando o recorte é pensar quem escreve a História do Brasil, também são abundantes os estudos sobre historiadores brancos. Ao longo de minha trajetória acadêmica e durante minha graduação em História na UFF, lembro de ter lido Marc Bloc, Jacques Le Goff, Carlo Ginzburg, Edward Palmer Thompson… A maioria homens, brancos, europeus…

Nunca tinha sequer ouvido falar em Maria Beatriz Nascimento, logo ela, que em 1975 ajudou a fundar o Grupo de Trabalhos André Rebouças na Universidade Federal Fluminense. O patrono do grupo é um intelectual negro mais estudado e reconhecido pela própria historiografia brasileira: André Rebouças, filho do Conselheiro Antonio Pereira Rebouças.

Beatriz Nascimento foi a alma deste grupo composto “por estudantes negras(os) de vários cursos que tinha, dentre seus objetivos, o propósito de introduzir e ampliar principalmente na universidade conteúdos acerca das relações raciais no Brasil, almejando o envolvimento do corpo docente” (RATTZ, 2009).

Enquanto é vasta e abundante a produção acadêmica sobre historiadores brancos como João Ribeiro, Rocha Pombo, Capistrano de Abreu, Adolfo de Varnhagen, é possível contar nos dedos estudos sobre historiadoras mulheres, com destaque aqui as historiadoras negras no Brasil. Isso num país em que a maioria da população se declara negra nos censos do IBGE.

Beatriz Nascimento é também a única intelectual negra a merecer um fundo próprio no Arquivo Nacional, o mais importante do país. Cabe interrogar: qual o lugar da documentação produzida por mulheres negras na memória nacional?

Reconhecer as contribuições de teóricas negras é um movimento mais que urgente no Brasil: no ementário dos cursos, no referencial teóricos de nossas pesquisas. Por isso, deixo aqui o convite à leitura do livro Beatriz Nascimentointelectual e quilombolaPossibilidade nos dias de destruição (2018), editado pela União dos Coletivos Pan-Africanistas (UCPA).

Referência:

Nascimento, Maria Beatriz. Beatriz Nascimento, Quilombola e intelectual: possibilidade nos dias da destruição. Filhos da África, 2018.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *