Universidade Rediviva na Sociedade do Conhecimento – Parte II – Tentativa de mudança

Antonio Teixeira

 Marcha e contramarcha

 Tentativas de mudança dos métodos de ensino na universidade pública não foram bem sucedidas. Haja vista a dificuldade de implantar novos métodos de ensino conforme idealizado no Plano Diretor da Universidade de Brasília. De acordo com aquele Plano Diretor, os professores deveriam apresentar os assuntos em blocos e se revezar em sala de aula ou se juntar para compartilhar o conhecimento complementar. O sucesso do ensino multidisciplinar seria indicado pelo entusiasmo de alunos. Uma plêiade de professores optou pela didática revolucionária que envolvia simultaneamente várias áreas de conhecimento. Todavia, a escassez de docentes motivados para assimilação do método de ensino em bloco de conhecimento, alterou a posição dos pratos da balança: muitos docentes não optaram pela didática que exigia compartilhar conhecimento interdisciplinar em ambiente de liberdade. E foi assim que a imaginada revolução dos métodos de ensino cedeu ao modelo da pregação em sala de aula.

 Estado atual das universidades

A pesquisa e o ensino na universidade brasileira ainda não alcançaram qualidade comparável com aquela que se observa nas melhores universidades estrangeiras. Considerando a inigualável diversidade nas raças humanas miscigenadas, a universidade tem o dever de se preparar empaticamente para revolucionar a didática para o porvir de novos tempos de criatividade e contribuição para o desenvolvimento material e espiritual do país. O que a natureza fez movida apenas pela aleatoriedade em tempo da escravatura de aborígenes, de negros, e de elementos de outras raças que aqui chegaram em tempos de guerra, ainda é fenômeno para ser estudado. Algo semelhante, porém, em menor escala, está sendo feito nos países do Hemisfério Norte que aceitam imigrantes e refugiados de países do oriente médio da Ásia e da África. A pesquisa na universidade pode ser considerada incipiente onde os novos conhecimentos que suscitam novas tecnologias e inovações continuam escassos.

O ensino de graduação

A estrutura cartesiana de currículos dos cursos oferecidos nas universidades separa o conhecimento universal em áreas de ciências da terra e da vida, e as subdivide em exatas e humanas. Em cada uma das áreas e subáreas os currículos compartimentam o conhecimento em disciplinas, como um bolo fatiado. A Reforma do Ensino de 1968 criou departamentos e manteve as disciplinas engessadas, sem que houvesse atualização de conteúdo e dinamização do processo de aprendizagem. Por último, as tecnologias digitais permitem a modernização de métodos de ensino e a didática com abordagem multidisciplinar – como pilares para a construção do conhecimento novo.

Os caminhos da evolução são ilimitados e as universidades podem implementar programas de inovação da didática de ensino. Eximir-se dessa responsabilidade significa deterioração de prestígio social, questionamento de tipo custo/benefício diante da crescente evasão de alunos em cursos oferecidos. Dados do Ministério da Educação revelam média de 21% de evasão da universidade nos últimos 10 anos, ou seja, cerca de 900 mil jovens abandonaram o estudo. Certamente, todo sistema educacional passa pela crise agravada pela corrupção dos valores cívicos, ético e moral na sociedade de consumo e do cansaço.

A pesquisa

A pesquisa científica feita no Brasil tem alguma contribuição importante em algumas áreas do conhecimento. Todavia, a qualidade das teses e dissertações estão devendo informação científica de interesse para compreender e embelezar a vida e para assegurar efetiva interação universidade-empresa com novas tecnologias e inovações. Por exemplo, aprovam-se teses e dissertações que são meras revisões de literatura nas ciências da vida. Nesse contexto, Capes-MEC e MCT-CNPq não fazem avaliação para além de índices de impacto de publicações. Ao deixar de enfatizar a qualidade da contribuição científica, apenas realça a competição. Não se procura avaliar a originalidade da pesquisa e tampouco o significado da contribuição publicada. Frequentemente, repete-se o que já foi publicado.

Crise ética e moral agrava a sociedade

 Aulas expositivas de assuntos descolados da realidade não favorecem a compreensão holística da vida que esclarece perguntas e dá acesso à beleza do aprender-fazendo com alegria. Essa seria uma das causas do desinteresse e da evasão crescente de jovens subjugados pela tristeza e pela depressão, doença endêmica neste século XXI. Uma reforma didática é necessária para corrigir essa anomia.

 Há inadequação do ambiente de convivência onde docentes e alunos estão submetidos à mesma opressão do cotidiano na qual o mercado protege a liberdade pública e individual, mas invade a liberdade íntima e interfere nas opções decisivas do indivíduo a partir da consulta ao seu âmago. O consumo desenfreado requer competição renhida por melhor salário. A debacle mundial da economia liberal, que já não pode otimizar o lucro, leva à frustração e questionamento sobre o sentido da vida. Em consequência, tristeza, depressão e suicídio aumentam e a Organização Mundial de Saúde (OMS) informa que morrem um milhão de pessoas, a cada ano. Depressão e suicídio são a segunda causa mais frequente de óbito entre jovens entre 18 e 30 anos de idade. De fato, muitos alunos se queixam de ansiedade, estresse e depressão em decorrência da opressão que culmina com estafa e insatisfação. O “Mal do Século”, depressão e suicídios, tem efeito desagregador de famílias e de colegas em salas de aulas. Ao perder a capacidade de decidir o que é melhor para a sua vida, desde o par de tênis à profissão, o indivíduo pergunta qual é o sentido da vida. As taxas de evasão nas universidades continuarão a aumentar.

As universidades devem assumir o compromisso de prevenção e pósvenção da depressão e do suicídio.

 Em casa, jovens e adultos acostumam-se aos jogos em smartphone, tablet etc., à medida que se distanciam do relacionamento interpessoal. Diante da perplexidade dos pais, a família tende a terceirizar a educação dos filhos aos professores.

Na China, o acesso aos instrumentos digitais ficou restrito a poucas horas por dia, para diminuir a frequência de visitas aos websites de suicídios. A crise na sociedade do cansaço requer mais atividades criativas nas instituições de ensino e extensão fora dos limites dos Campi. Atualmente, há escassez de habilidades nas técnicas de prevenção e de pósvenção de suicídios nas universidades brasileiras.

Toda comunidade na universidade precisa desenvolver habilidades para estimular atitudes que denotam amor ao próximo, solidariedade, compaixão e interesse por causa social, por exemplo, na saúde pública e na educação. Ao invés disso, questiona-se o sentido da vida, pois são regidos pelas regras do mercado que, reconhecidamente, são fatores de corrupção da alma e dos valores. Tudo isso é agravado com a interferência do mercado na escolha da profissão que renderia acumulação de riqueza e uma “boa-vida”.

Diante da crise da economia neoliberal e da escassez de empregos, o diploma de cursos de graduação e de pós-graduação perde prestígio. Certamente a capacitação de mestres e doutores para o exercício da docência sofre com o refluxo e aumenta a anomia. Existe também o relaxamento das técnicas de aprendizagem com base em evidência que constrói conhecimento de interesse social.

As crises políticas, transitórias ou persistentes, esvaem os esforços das mentes criativas:- Não obstante, a universidade tem feito avanços no ensino e na pesquisa nas últimas décadas e isso não se pode desmerecer. No entanto, o conhecimento novo, que promove oportunidades e reforça a interação universidade-empresa, não encontra amparo em autoridades que exigem ciência de resultado comercial imediato.

São crescentes as dificuldades de compartilhar atividades didático-científicas em salas de aulas e nos laboratórios de pesquisa, nas universidades e nos institutos. A busca de solução fácil não resolve porque, talvez, as verdadeiras causas estejam fincadas no mercado de trabalho competitivo, do salve-se como puder, não obstante os agravos aos costumes éticos e morais. Entretanto, esse assunto deve ser cuidadosamente avaliado em cada grupo de atividade no âmbito da universidade. O professor pesquisador é um ser social como todos os cidadãos na comunidade.

O efeito negativo do pragmatismo de mercado precisa ser analisado vis a vis com a qualidade do ensino e da pesquisa. Medidas corretivas que orientam os professores pesquisadores para o conhecimento novo, devem prevalecer. Com esse mister sugere-se que os cursos universitários sejam avaliados por pares de universidades estrangeiras que tenham feito reconhecida contribuição à ciência.

A carência de inovação em todos os setores de atuação do sistema educacional brasileiro deve ser resolvida. Desmotivação, baixa produtividade, falta de contribuição na fronteira do conhecimento, devem ser analisadas. As perguntas que geram hipóteses originais que estimulam o espírito livre do indivíduo devem ser valorizadas em associação com os esforços de construção coletiva do saber que contribui para o bem estar geral.

Confira também a Parte I – O que foi feito


 Imagem de destaque: A Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

 

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