Uma revisão bibliográfica do ensino de Sociologia

Elaine A. Teixeira Pereira

Rita Cristina Lima Lages*

Este número do Pensar a Educação em Revista é dedicado ao tema Ensino de Sociologia no Brasil. Manifestamos nossa satisfação pela oportunidade de trazer aos leitores e leitoras essa discussão, dada sua pertinência no cenário atual, em que as Ciências Humanas e Sociais, especialmente a Sociologia, considerando o assunto em pauta, vêm sendo objeto de críticas e de ataques diversos.

Com certa frequência presenciamos o flagrante desprestígio dessas ciências tanto em declarações de líderes do governo e de suas equipes quanto em definições curriculares de escala nacional ou em normatizações relacionadas à pesquisa e à produção científica. Os ataques não ocorrem apenas fora do ambiente acadêmico e escolar, o que já seria bastante sério, mas também em seu interior. Eles estão mais ou menos explícitos, por exemplo, em reformulações curriculares de nível micro – quando a Sociologia, ou os “Fundamentos” em geral, perde espaço e carga horária em cursos de licenciatura das universidades –, ou nos argumentos dos que negam a importância e a necessidade da Sociologia (e dos conhecimentos teóricos, falando de maneira mais ampla) na formação docente e como base para o trabalho cotidiano das escolas de Educação Básica.

Mas, afinal de contas, por que se estuda e se ensina Sociologia? Segundo Bernard Lahire¹, autor de um dos textos escolhidos para compor este número da Revista, a questão “Para que serve o ensino da Sociologia?” remete à outra: “Para que serve a Sociologia?”. O sociólogo questiona a pertinência da própria pergunta e o quanto ela expressa uma espécie de cobrança pela “utilidade” dos conhecimentos científicos, ao mesmo tempo em que denuncia a relação desta com a legitimação do poder. Ainda segundo Lahire, das Ciências Sociais se espera a produção de conhecimentos acerca do mundo social, ou, dos fatos que podem ser observados, analisados, mensurados e que estão relacionados a formas de desigualdade, dominação, opressão. Logo, o ensino de Sociologia tem a possibilidade de desempenhar “um papel crucial para a vida coletiva e para a formação de cidadãos nas sociedades democráticas” (LAHIRE, 2014, p. 50).

Organizado pelos professores Marcelo Cigales, da Universidade de Brasília (UnB), e Cristiano das Neves Bodart, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o número do Pensar a Educação em Revista que o/a leitor/a tem em mãos apresenta dez textos sobre a temática, seguindo a linha editorial do periódico, além do texto inédito de autoria dos citados professores. Intitulado “O que ler sobre o ensino de Sociologia no Brasil?”, o texto tem por objetivo a revisão do assunto em pauta. Num exercício didático e a fim categorizar os textos por eles escolhidos, os professores recorrem a seis eixos temáticos que, de alguma forma, refletem as principais pesquisas produzidas no Brasil sobre o ensino de Sociologia: História da disciplina; Formação de professores; Prática de Ensino; Sentidos pedagógicos; Subcampo de Pesquisa; Currículo.

Conforme indicam Cigales e Bodart, o “ensino de Sociologia como tema de pesquisa acadêmica despertou maior interesse de parte da comunidade científica após a Lei 11.684, de 2008, que tornou a disciplina obrigatória no Ensino Médio em nível nacional” (p. 01). A  Sociologia escolar como  objeto de  pesquisa foi fortalecida, ainda, pela expansão dos cursos de licenciatura em Ciências Sociais e em Sociologia; pela criação de departamentos desse mesmo tipo nas Universidades; pela produção de teses, dissertações, artigos e dossiês na área e pela realização de eventos acadêmicos. Ademais, os autores falam sobre a importância de políticas e de programas educacionais para o avanço da área (ou subcampo Ensino de Sociologia), como o Programa Nacional do Livro Didático, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, o Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional. Juntamente aos avanços enumerados, é denunciado o cenário político dos últimos anos, que vem “negativamente afetando de maneira geral a educação pública e, de forma específica, o ensino da Sociologia” (p. 02).

Após apresentarem os dez textos, respeitando, para isso, os eixos criados para categorizá-los, Cigales e Bodart concluem o escrito de revisão explicitando que os trabalhos por eles escolhidos sobre o Ensino de Sociologia no Brasil constituem-se numa “agenda de leitura profícua aos que desejam conhecer minimamente as discussões já empreendidas” e, acrescidos de uma ampliada lista de referências bibliográficas, objetivam “subsidiar leituras e pesquisas sobre essa temática” (p. 12).

Finalizamos deixando o convite para a leitura deste número do Pensar a Educação em Revista, num momento em que a discussão acerca do ensino de Sociologia mostra-se pertinente e necessária. Mais uma vez recorremos a Bernard Lahire, quando o autor qualifica como uma ação “crucial”, em tempos de proliferação dos especialistas dedicados à manipulação política e de marketing, “transmitir o mais racionalmente possível para o maior número de pessoas” os “meios de decifrar e contestar os discursos de ilusão sobre o mundo social” (LAHIRE, 2014, p. 52).

Sigamos fazendo a nossa parte! Boa leitura!

 

¹ LAHIRE, Bernard. Viver e interpretar o mundo social: para que serve o ensino da Sociologia? Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, v. 45, n. 1, p. 45-61, jan/jun 2014.

* Editoras do periódico Pensar a Educação em Revista


Imagem de destaque: Diogo Nascimento

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *