Sobre a proposta de Milton Friedman para a educação

Lucas Carneiro Costa

A proposta de Milton Friedman de criar vouchers não é suficiente para resolver o problema da educação brasileira. Afinal, os estudantes de baixa renda têm duas grandes necessidades sociais, que são: (a) receber uma boa educação, para que possam ascender socialmente; e (b) receber condições sociais para ter uma vida saudável.

Não adianta “dar escola boa” aos estudantes se estes não têm o que comer em casa. A proposta de Milton Friedman só atende a um ponto específico das necessidades sociais das crianças, que é receber uma boa educação. Então, é preciso rever a proposta – e tentar suprir essa necessidade dos que não tem condição.

Se caso estudantes forem enviados para uma instituição privada, eles podem passar por outras dificuldades e problemas. O primeiro é a segregação, porque o estilo de vida de uma escola particular é muito diferente de uma escola pública. O segundo é que os estudantes não conseguirão efetivamente acompanhar a rotina da escola por vários motivos, que vão desde motivos físicos até pela diferença de ensino num primeiro contato. Se não criarmos os mecanismos necessários para manter as crianças na escola, não irá adiantar de nada dar o voucher para que ela estude numa escola particular. Ela irá sair da escola em instantes! E o pior, sairá com muitos traumas e receios da escola.

Não é porque as escolas particulares são consideradas “melhores” que devemos jogar todas as crianças nesse ambiente. As escolas precisam estar em sintonia com a realidade da criança – precisam ensinar no ritmo dela e dar as ferramentas necessárias para que ela tenha um ótimo desenvolvimento. Além disso, não podemos fugir do problema: precisamos melhorar as escolas públicas, criar projetos que permitam a permanência da criança na escola e fazer um profundo diálogo com as famílias. Aliás, se fizéssemos isso desde sempre, ninguém estaria discutindo “vouchers” hoje.

Quem fala de “vouchers para a educação” não entende nada de educação. Pode-se entender de economia, mas as metodologias e soluções da economia não cabem na educação – principalmente neste caso. Até arrisco a dizer que quem defende essa proposta nunca passou na porta de uma escola pública e não conhece a realidade da pobreza no nosso país.

 

Sobre o autor

Mestrando em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa e graduado em Pedagogia (Licenciatura) pela Universidade do Estado de Minas Gerais. 


Imagem de destaque: Galeria de Imagens

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