Quem são os nossos conservadores?

Raquel Melilo 

Renata Andrade

O movimento conservador ganha força no Brasil. Menos que um fato, isso é uma impressão. Dizemos isso porque o conservadorismo, como movimento da sociedade civil, é amorfo. Sem liderança ou identidade, fica difícil entender a dinâmica toda deste movimento. Soma-se a isso o fato de que o termo “conservador” é polissêmico. Sempre foi. Mas hoje várias pessoas e políticos, de diferentes correntes de pensamento, o tomam como constructo de suas identidades individuais ou partidárias. Mas o conservador que mais ganha destaque no debate político é o que defende a família e os valores cristãos. Ou seja, criou-se, em parte do imaginário coletivo, a ideia de que o conservador é a figura que pretende manter valores morais caros à sociedade. Defende-se, antes de mais nada, a vida e a família. Defesas legítimas, com toda certeza. Mas cercadas de confusões lógicas. Porque alguns que defendem a vida defendem também assassinato de bandido. Há ainda aqueles que defendem tanto a família que criam para si vários núcleos familiares, com casamentos seguidos. Esse é conservador à brasileira. Isso não é conservador nem aqui, nem na China.

Na China, em finais do século XIX, o movimento conservador designava um grupo formado por políticos e intelectuais que se opunha à modernização do império. As instituições acadêmicas deviam, para estes conservadores, preservar e ensinar somente os princípios confucionistas. De outro lado, estavam os modernizadores, defensores da Ciência Moderna e da ocidentalização de alguns setores chineses, sobretudo os produtivos. Eram liberais, em certo sentido. Porque parte da modernização que defendiam visava conectar o Império chinês ao comércio internacional. Para isso era necessário criar mais portos, ferrovias e sistemas de transmissão de informação e energia (telégrafos e eletricidade). Havia então uma oposição Conservadorismo/Modernização no contexto chinês, com contornos bem flexíveis também. Mas com identidades muito mais definidas que as nossas identidades, mais de um século depois.

No Brasil atual não é possível pensar na mesma contraposição conservadores x modernizadores. O conservadorismo, como ideologia especifica, é contemporâneo ao socialismo e liberalismo do século XVIII. Isso na Europa. Aqui, experimentamos formatos e visões de conservadorismo que foram surgindo e se moldando através do tempo e do espaço. Em função disto, assumimos que há vários tipos de conservadorismo. Por isso, vamos pegar emprestado as classificações propostas por Andrew Vincent, em “Ideologias Políticas Modernas”. Para ele, há cinco diferentes tipos de conservadorismo: tradicionalista, romântico, paternalista, liberal e da Nova Direita. No conservadorismo tradicional, há forte ênfase ao costume, à tradição e à convenção. Neste tipo de conservadorismo, quaisquer mudanças devem brotar nas tradições da comunidade. No conservadorismo romântico, há acentuada nostalgia de um passado idealizado, mesmo que este passado seja rural e escravista. No conservadorismo paternalista, há uma defesa de uma submissão, por parte dos cidadãos, ao Estado. O governo é encarado como uma figura paternal, que estabelece metas e assegura a equidade e igualdade de oportunidades. Já no conservadorismo liberal, os dogmas do Liberalismo clássico são absorvidos e assimilados: individualismo, Estado mínimo e direitos pessoais. Por último, está o conservadorismo da Nova Direita. De acordo com Andrew Vincent, este tipo de conservadorismo é mais complexo. Sua coerência lógica está baseada no neoliberalismo, nos critérios de mercado. Seu fundamento é o fracasso do Estado como regulador da vida econômica e social das sociedades.

Com tantas possibilidades de enquadrarmos os nossos conservadores em alguma destas classificações, a questão ainda não parece resolvida. Mas há um elemento comum entre todos: a defesa de uma ordem hierárquica da sociedade. Nem todos, no entanto, são defensores da manutenção da estrutura desigual. Para maioria dos conservadores, a liberdade individual é a solução para o problema da pobreza. Mas esta liberdade tem um limite. O indivíduo é livre para sair da pobreza. Neste sentido seu corpo tem que servir à produção como ferramenta de trabalho. Tem existência subjetiva somente para conservar tradições e valores.

Como parte do tecido social, somos este corpo. Então não devemos nos perguntar quem são nossos conservadores e sim qual projeto de sociedade eles defendem.


Imagem de destaque: Rovena Rosa/ Agência Brasil

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