Sabrina Moreira Santos
Imagina aquelas cenas do desenho animado Pica-Pau no deserto, onde ele procurava água incansavelmente e começava a ter miragens de lagos. Então, essa imagem do inalcançável muito se aproxima do papel que a produção científica ocupou por muitos anos. Mas, calma, logo retomaremos isso.
Na tarde dessa terça-feira, 9 de março, tivemos um incrível debate sobre Divulgação Científica e Extensão Universitária durante a mesa 5 do 9° Congresso Brasileiro de Extensão Universitária – CBEU. Diversas reflexões foram levantadas pelos convidados, Tatiana Roque (UFRJ), Felippo Bassi (MUSA) e Débora Reis (UFMG), que apontaram a necessidade de que a popularização da ciência ocorra por meio das demandas concretas da sociedade.
Os(as) pesquisadores(as) afirmaram o distanciamento histórico da universidade com a população, que ocorreu por diversos motivos, seja pelo próprio formato em que as instituições foram formuladas e seus objetivos. Entretanto, é importante ressaltar que em seu leito, a Universidade, carrega a relação com a sociedade, afirmada em seu tripé “Ensino, Pesquisa e Extensão”. E que conhecimento científico que não se aproxima da sociedade, também se distancia do seu papel de contribuir para as diversas relações sociais.
Por isso, uma das atribuições da Divulgação Científica é impulsionar e conscientizar pesquisadores sobre a importância de socializarem seus estudos. Para tal, precisamos retirar a produção acadêmica desse local a ser alcançado, igual às miragens do Pica-Pau que apontamos no início do texto. E aí você se pergunta, como assim? Já apontamos que a Universidade se afastou dos demais campos e, muitas vezes, se isolou e atribuiu ao conhecimento acadêmico o papel de ciência única, e não de ciência, apenas. Assim, por muito tempo, foi divulgado esse conhecimento a ser atingido, que possui características próprias e incompreensíveis aos que não pertencem à comunidade acadêmica.
Entretanto, há alguns anos, presenciamos um maior movimento contrário, em que a Universidade se desloca dessa miragem, buscando retomar sua vinculação com a sociedade e afirmando os princípios universitários. As produções acadêmicas estão presentes na vida de grande parte da sociedade, porém essa compreensão ainda é deficitária, tendo em vista que a ciência se distancia da realidade da população. Portanto, o que é levantado aqui, e durante a mesa 5 – Divulgação Científica e Extensão Universitária do CBEU, é o papel da popularização das ciências em transpor as produções acadêmicas em questões concretas. Arrisco a dizer, que uma das formas é usar o resultado para a compreensão do processo.
Mas para isso, precisamos ter certeza da ciência que queremos divulgar. Se continuaremos a socializar essa ciência que se aproxima da miragem, que precisa ser alcançada e, muitas vezes, é imóvel ao diálogo. Ou queremos divulgar a ciência que se faz presente nas melhorias na mobilidade urbana, nas contribuições para acesso à educação infantil, nas participações em defesa e garantia do auxílio emergencial durante a pandemia, no aperfeiçoamento de medicações.
Enfim, antes de qualquer coisa, precisamos ter consciência de qual ciência divulgar.
Imagem de destaque: Charles Gadbois / Wikimedia Commons
