Psicologia, percepção e cognição: construções e desconstruções

Vagner Luciano de Andrade

Alexandre Gomes Nick*

 

O presente trabalho dedica-se, a partir de alguns teóricos, a explicitar os múltiplos diálogos tecidos entre Psicologia, Percepção e Cognição. Tendo como referência Karl Marx para quem “o homem é, em sua essência, produto do meio”, a Psicologia apresenta diversas perspectivas sobre o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem relacionando-os à percepção e à memória. Para Agnela da Silva Giusa, “o todo é apreendido de forma súbita, por reestruturação do campo perceptual”. A ideia de desenvolvimento atrela-se sempre à noção de evolução e crescimento, ambos intermediados pelo meio, seja ele ambiental ou cultural. Do latim “cognitio”, “cognitionis”, a cognição, ou conhecimento é o ato ou processo de conhecer, envolvendo atenção, imaginação, juízo, linguagem, memória, pensamento, percepção e raciocínio.  Assim, numa perspectiva humana, o desenvolvimento cognitivo traduz-se pela evolução do conhecimento de um indivíduo inserido em um meio. Para Ronald Forgus a aprendizagem “é definida como o processo pelo qual a informação é adquirida através da experiência e se torna parte do armazenamento de fatos do organismo”. Este teórico crê que a percepção define-se como “o processo pelo qual um organismo recebe ou extrai certas informações acerca do ambiente”, sendo o âmago da aquisição do conhecimento. Para Sdarnoff e Martha Mednick a aprendizagem resulta numa transformação do comportamento, ocorrendo como um resultado da prática. Ela não é diretamente observável e constitui uma transformação relativamente permanente no indivíduo.

De acordo com David Ausubel, a aprendizagem deve ser significativa, já que é por excelência o mecanismo humano de aquisição e armazenamento de uma vasta quantidade de ideias e informações. Para ele, a verdadeira essência do processo de aprendizagem é que as idéias expressas devem ser relacionadas às informações previamente adquiridas pelo aluno. Desta forma, para que seja significativa, a aprendizagem deve levar em consideração as experiências e o conhecimento prévio do sujeito, motivando-o ao crescimento. Assim sendo, define-se como aprendizagem o processo cognitivo pela qual o indivíduo adquire certo conhecimento, seja por meio da percepção, de prática, da experiência ou com o auxílio de um mediador (outro indivíduo portador do conhecimento), e adequa-o às suas estruturas de organização cognitiva, podendo futuramente, com propriedade, utilizar o que foi aprendido em outra situação ou contexto. Mas como se dá a relação cognitiva com os meios ambiental e cultural?

Fonte: libreriaolacacia.com

Para os teóricos ambientalistas, entre eles Burrhus Frederic Skinner e John Broadus Watson, as crianças nascem como “tábulas rasas”, que vão aprendendo tudo do ambiente por processos de imitação ou reforço. Nesta visão behaviorista, aprender tem origem na experiência, no meio físico e social e é sinônimo de mudança de comportamento através do treino e do condicionamento. Para os Comportamentalistas, a aprendizagem ocorre simultaneamente ao desenvolvimento, na qual há acumulação de respostas aprendidas. Para Romeu Gomes essa visão confere à escola uma função transformadora da sociedade, na medida em que procura adequar o caráter e o comportamento dos alunos inserindo-os culturalmente no meio físico em que vivem. Porém, a aprendizagem é apenas um reflexo do ensino, na qual o professor traz respostas corretas que são apropriadas e resignificadas pelo aluno.

Para Gomes, nesse grupo “as condições hereditárias (…) são determinantes para o desenvolvimento dos indivíduos e, portanto, para definir sua capacidade de aprendizagem ou de percepção”. Os teóricos Inatistas, como Noam Chomsky, acreditam que as crianças já nascem com tudo que precisam na sua estrutura biológica para se desenvolver. Nada é aprendido no ambiente, e sim apenas disparado por este no formato de “estímulos”. O patrimônio genético define as capacidades do ser humano de se desenvolver e é esse desenvolvimento que possibilita aprendizagens. As estruturas mentais do indivíduo são assim, vistas como estáticas, onde o desenvolvimento e a aprendizagem são processos interdependentes que interagem afetando-se mutuamente.

Para os teóricos Construcionistas, tendo como ícone Jean Piaget, o desenvolvimento é construído a partir de uma interação entre o desenvolvimento biológico e as aquisições da criança com o meio social e cultural. Nesta visão epistêmica, o conhecimento é contínuo, onde há sempre uma interpretação abstrata, uma assimilação universal do sujeito sobre aquilo que ele pretende conhecer.  Para Piaget, as estruturas mentais são ativas e agem se transformando através das interações do sujeito com o meio possibilitando a compreensão do mundo que o rodeia. A ação/relação de cooperação entre os sujeitos (professor/aluno) é tida como importante para o desenvolvimento do conhecimento ser construído na abordagem construtivista/piagetiana. Essa abordagem é influenciada pela teoria modular de Jerry Fodor, segundo a qual o humano se desenvolve como produto da interação de mecanismos genéticos e ecológicos, envolvendo características humanas, variações individuais e experiências únicas de cada indivíduo.

Na visão de desenvolvimento psicanalítica, temos como expoentes Sigmund Freud, Melanie Klein, Donald Winnicott e Milton Erikson. Tal perspectiva procura entender o desenvolvimento humano a partir de motivações conscientes e inconscientes da criança, focando seus conflitos internos durante a infância e pelo resto do ciclo vital. A abordagem Sociointeracionista, Sociocultural ou sócio-histórica de Lev Vygotsky, segundo a qual o desenvolvimento humano se dá em relação nas trocas entre parceiros sociais, através de processos de interação e mediação. Para Vygotsky o sujeito é interativo: “é na relação com a cultura, com a linguagem e com o outro que nos constituímos seres humanos.” Para ele, o homem adquire conhecimentos a partir de relações intrapessoais e interpessoais e de troca com o meio, a partir do processo chamado Mediação. Transformado de ser biológico a ser histórico-cultural através desta ação mediada e compartilhada, “o sujeito aprende como um sujeito interativo, ativo e único no seu processo de construção do conhecimento”. Essa teoria (sujeito interativo) concorda com a de Piaget (sujeito ativo) quando defende a relação de interação entre sujeito e objeto na construção do conhecimento, mas distancia-se dele, quando diz que essa relação não é uma relação direta, mas mediada pelo outro, pela linguagem, pela cultura.

Fonte: Goconqr

*Alexandre Gomes Nick é Bacharel/Licenciado em Geografia e Análise Ambiental pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH) e especialista em Educação do Campo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail: alexandrenick1@yahoo.com.br

Imagem Destaque: Psicologiamsn

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