Precarização do trabalho docente em tempos de pandemia: a experiência de Minas Gerais

Janaína Junqueira Valaci Cruvinel

Karina Klinke

Docentes não tiveram opção de escolha, nem de viver a pandemia de COVID-19 e tampouco de transformar a educação presencial em ensino remoto, uma educação mediada por tecnologia ou, simplesmente, em casa.

Muitas questões as(os) aflige: quais as condições materiais de estudantes de diferentes idades, muitos em condição de precariedade econômica e psíquica, aprenderem a estudar remotamente? Quais as condições de trabalho às quais docentes são submetidas(os) ao assumirem a responsabilidade de um modelo desconhecido de ensino? Os sistemas de ensino têm quais condições de oferta que atenda tanto estudantes quanto docentes? Afinal, para que o ensino seja remoto, todas as pessoas envolvidas têm que participar e interagir, logo, as dificuldades (doença, falta de recursos, sofrimento emocional etc.) geram dúvidas sobre a validade deste modelo de ensino em meio a uma pandemia.

Até 13 de abril as escolas públicas de Educação Básica, mesmo fechadas, aguardaram ansiosamente por contato da SEE/MG, a fim de que docentes participassem das decisões para o futuro da educação. Sem consulta prévia, foi apresentado a estudantes e docentes um sítio, um canal de TV e um aplicativo de celular, por meio dos quais essas(es) estudantes deveriam extrair o conhecimento e a aprendizagem.

E a dúvida foi instaurada para as(os) docentes: suas(seus) alunas(os) estão assistindo as aulas e fazendo as atividades? Percebe-se que poucas(os) estão se envolvendo e, das(os) que se envolvem nos grupos de WhatsApp, restringem-se a perguntar: “por que não são aulas com nossos professores da escola?”, “é para copiar no caderno?”, entre tantos outros questionamentos que refletem a impossibilidade de aprender por meio remoto. Alguns Institutos e Universidades Federais aderiram ao ensino remoto, outros não, com ou sem consulta a docentes, discentes e técnicos-administrativos em educação.

As escolas em todos os níveis de ensino têm se organizado, reinventando-se e buscado formas para integrar estudantes neste novo modelo de educação, porém não é assim tão simples, pois existe uma parcela que reside em zonas rurais, outra que não tem telefone celular, alguns que não têm interesse neste retorno e famílias que até o momento não compreendem como, onde e o porquê estudar neste formato.

Também em um repente, docentes se viram trabalhando dentro de casa, realizando atividades que antes não faziam parte de sua rotina. Em sua maioria professoras, que também são mães, além de trabalharem virtualmente, precisam prestar assistência às(aos) filhas(os) que estudam virtualmente no mesmo formato e, muitas vezes, no mesmo horário.

Será que existe aparelho eletrônico para atender a todas(os) dentro de uma mesma casa? O sinal de internet é suficiente? Há municípios em que não há esta oferta com qualidade, na zona rural, menos ainda. Será que existe tempo para preparar as aulas online, atender os grupos de WhatsApp, abrir o e-mail institucional que diariamente envia um novo memorando e anexos a serem preenchidos? Quem vai pagar por este tempo? São profissionais da educação e, além de baixos salários, têm que despender os parcos recursos para a compra de insumos e manutenção da oferta de serviços.

O que está posto exige uma análise mais ampla e cabe aqui chamar a comunidade educacional para refletir e dialogar, afinal, desde o início da pandemia do COVID-19, muitos têm se debruçado diante deste cenário educacional. O foco de atenção no modelo de ensino remoto tem se mostrado perturbador, pois não podemos permitir que as desigualdades, que fazem as exclusões sociais, aumentem cada vez mais. É uma lógica perversa e opressora, haja vista que a burocratização tem avolumado no cotidiano das(os) profissionais da educação.

Ao que percebemos até o momento, de um lado os dirigentes governamentais assumem o discurso de um ensino remoto válido e acessível, mas o cotidiano na comunidade escolar vivencia um ensino precário e de baixo acesso. Tanto, que a Assembleia Legislativa de Minas Gerais publicou, em 08/06/2020, que “a modalidade deixa de fora mais de 700 mil estudantes que não têm acesso à internet, a dispositivos eletrônicos adequados ou mesmo ao sinal da Rede Minas de Televisão”.

É exatamente em meio a esta mescla de discursos e normativas verticalizadas, que as determinações chegam para serem cumpridas e sequer é analisado e respeitado o cotidiano dos envolvidos, ou seja, educadoras(es), estudantes e suas famílias. É neste contexto autoritário que o papel das(os) profissionais da educação é precarizado em um novo modelo de ensino: enquanto docentes se desdobram em suas tarefas diárias, outros atores sociais são convocados a pensar a educação.

E com o retorno às aulas presenciais que se avizinha, o que cabe às(aos) docentes?


Imagem de destaque: worak / flickr https://zp-pdl.com/apply-for-payday-loan-online.php https://www.zp-pdl.com https://zp-pdl.com/apply-for-payday-loan-online.php http://www.otc-certified-store.com/eye-care-medicine-usa.html

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