Por que falar de educação?

Vivemos tempos difíceis. São tempos em que estão em questão as garantias democráticas arduamente conquistadas pela população brasileira que se revoltou contra o arbítrio autoritário e se dispôs a construir um país em que o estado de direito, a valorização da igualdade e o respeito à dignidade humana não são valores e práticas contrárias ao reconhecimento às diferenças e à valorização de nossa diversidade.

Nestes tempos difíceis, o Congresso Nacional impõe uma pauta conservadora à sociedade brasileira, retomando projetos caídos no esquecimento e nas brumas do autoritarismo, reafirmando valores religiosos e fundamentalistas contrários ao Estado laico e ao reconhecimento das diversidades de gênero, de religião, de cultura e outras que nos constituem.

São tempos em que se atenta contra as conquistas trabalhistas, o direito ao trabalho e às garantias de um mínimo de bem estar social para aqueles que, nada mais tendo, vendem parte de seu tempo e de suas vidas num mercado de trabalho regulado pelo lucro rápido e fácil.

Estamos vivendo tempos em que, contrariando toda a lógica das relações e das responsabilidades intergeracionais, estamos imputando às novas gerações a responsabilidade pelos desacertos de uma sociedade que, organizada e gerida pelos adultos, não consegue produzir condições de vida digna para aqueles que trazemos ao mundo.

Como não falar o quão difíceis são esses tempos em que milhares de pessoas – de crianças a idosos – vão às ruas para, a pretexto de combater o governo e a corrupção, pedir o retorno das ações e dos tempos de arbítrio e de banimento da razão democrática.

São tempos também que, para impingir derrotas ao governo, muitos dos que outrora militavam por todas essas conquistas democráticas e de reconhecimento, ou pela construção da soberania e do patrimônio público brasileiros, hoje se calam ou os negociam a favor de alianças eleitorais e de soluções de conteúdo reacionário e autoritário.

Talvez, diante disso tudo, a educação e sua qualidade sejam os menores de nossos problemas! Ou, mais uma vez, vamos fingir acreditar que esses são, também, problemas que têm sua origem na falta de educação do povo brasileiro?

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