Pesquisa em educação: as sínteses necessárias

Todos os indicadores utilizados para avaliar a pesquisa em educação no país atestam que, na última década, houve um expressivo crescimento da produção do conhecimento na área. O número de programas de pós-graduação mais que dobrou na última década, chegando a quase 200 atualmente; a área de educação é a maior área acadêmica do sistema nacional de ciência e tecnologia, somando, em 2010,  mais de 14 mil pesquisadores, excluídos os estudantes, inscritos no diretório de pesquisa do CNPq; temos mais de uma centena de  revistas acadêmicas, centenas de encontros acadêmicos anuais e dezenas de editoras especializadas em todo o Brasil.

Se no plano quantitativo houve um sensível crescimento, quando se trata de avaliar a qualidade da produção, a percepção não é a mesma. Quanto a este aspecto, temos muitas dúvidas. Se, por um lado, é visível a melhoria da qualidade de nossa editoração de revistas e livros, por outro, não há consenso sobre o aumento da qualidade dos textos que nesses veículos são divulgados. Se as dissertações e teses são hoje em maior número, ainda restam grandes dúvidas sobre a capacidade que estamos demonstrando em ultrapassar o mero aumento do conhecimento, seja sobre os tradicionais ou os novos objetos de investigação, para uma verticalização das pesquisas e análises que resultem em conhecimentos e metodologias inovadoras.

Há, ainda, uma dúvida que comparece em quase todos os debates sobre o tema:  temos, de fato, demonstrado a capacidade de produzir conhecimentos e teorias novas sobre a realidade educacional brasileira ou estamos, ao fim e ao cabo, repetindo ou aplicando teorias e metodologias elaboradas por pesquisadores estrangeiros? 

É evidente que uma resposta a essa questão implica levar em conta não apenas o conhecimento acumulado mas também e, talvez,  sobretudo, as condições em que tal conhecimento é produzido. A forma de institucionalização da pesquisa no Brasil, via pós-graduação, e a peculiar organização de nossas  universidades, aliadas às formas e ao montante de financiamento,  certamente  criam limites à produção de conhecimento de ponta nas várias áreas do conhecimento, e não apenas mo campo da educação.

No entanto, sejam quais forem as razões mobilizadas para entender nossas dificuldades e nossas virtudes na produção de conhecimento novo e aprofundado nas várias especialidades (ou subáreas) da pesquisa educacional, o certo é que a expressiva quantidade de conhecimentos aportada à área pelas milhares de teses e dissertações elaboradas em nossos programas de pós graduação e pelas pesquisas realizadas pelos professores que neles atuam, coloca a necessidade de elaborarmos sínteses dessa produção. Tais sínteses, seja na forma de estudos sobre o “estado da arte”, ou sobre o “estado do conhecimento”, como preferem alguns, ou ainda, na forma de revisões bibliográficas, são fundamentais para podermos avançar na produção de conhecimentos novos, teórica e metodologicamente, mais refinados e consistentes.

Estudos dessa natureza, certamente deveriam ganhar prioridade estratégica numa política de financiamento da pesquisa e da divulgação do conhecimento produzido na área de educação no país. Sem os mesmos, corremos o risco não apenas da repetição mas, sobretudo, da dependência em relação à elaboração teórico-metodológica de nossos colegas das instituições estrangeiras e, desse modo, de atualização das relações  não igualitárias de intercâmbio científico-acadêmico.

Ciente dessa situação e visando colaborar para sua superação, a equipe do Projeto Pensar a Educação  Pensar o Brasil  – 1822/2022 lançará, na próxima semana, o periódico Pensar a Educação em Revista, o qual publicará trimestralmente revisões bibliográficas sobre os diversos campos da pesquisa educacional brasileira. Tal revisão será elaborada por pesquisadores(as) experientes, que também indicarão os textos mais importantes sobre aquele assunto, os quais estarão disponíveis para a consulta dos leitores no site da revista. Esperamos, desse modo, colaborar não apenas com a divulgação do conhecimento em educação, mas também com a elaboração de teorias e métodos de pesquisa que contribuam para entender e transformar o Brasil e, mais especificamente, a nossa educação pública.

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