Escolhas

Janayna Alves Brejo

Algumas pessoas dizem que o melhor a se fazer é não assistir mais os noticiários na televisão ou, ainda, não acompanhar reportagens apresentadas nas redes sociais, uma vez que trazem muitos acontecimentos ruins, explorando apenas o que ocorre de trágico, de injusto, de desonesto. Ao refletir sobre isso, fico pensando qual seria o melhor caminho: deixar de assistir/ler para não se intoxicar, ficando desinformado; ou, então, encarar de frente essas reportagens, assumindo uma postura sensível e coerente diante das atrocidades que acontecem.

Essa é uma escolha de cada um e permeia não somente a decisão de assistir/ler, mas também a de ter maturidade para selecionar essa ou aquela notícia, pois sabemos que muitos programas, jornais, reportagens, entre outros, ganham popularidade na repetição desenfreada do “slogan” da tragédia, sem ter diante dela uma postura humana e solidária.

Penso que podemos sim acompanhar o que acontece pela televisão, pela internet, pelo jornal impresso, se conseguirmos avaliar a forma como a notícia é apresentada, mesmo porque uma reportagem carregada de exageros e de sensacionalismo não nos fará bem. Porém, essa seleção precisa ser realizada, pois se estamos no mundo, precisamos saber o que ocorre ao nosso redor, para que possamos contribuir por dias melhores e mais justos.

Por outro lado, infelizmente, algumas pessoas parecem se sentir realizadas propagando as notícias ruins e, deste modo, não se cansam de repetir frases desanimadoras do tipo:

_ Esse mundo está perdido;
_ Esse país não tem mais jeito;
_ O ser humano está doente;
_ A pandemia não serviu para nada, pois cada um só pensa em si…

Essas são afirmações que ouvimos diariamente de pessoas pessimistas, que não sentem vontade de contribuir para mudar a realidade, ou seja, não querem investir nem mesmo com uma palavra positiva, uma vez que preferem enfatizar sentimentos ruins na busca de implantar no outro o desânimo, fazendo com que a sua “profecia” de que “nada vai bem e de que tudo ainda pode piorar”, se concretize.

É bem verdade que situações muito graves e intoleráveis estão ocorrendo à nossa volta. E, talvez, o maior exemplo disso sejam os ataques incansáveis e desumanos realizados pelo Governo da Rússia à Ucrânia, pautado em caprichos de um presidente que se acha superior e invencível, acreditando ser a pessoa mais poderosa do mundo…

Diariamente, também acompanhamos cenas de racismo, de feminicídio, de intolerância religiosa, de homofobia, de incalculáveis crimes de ódio, que, ao invés de serem prontamente combatidos em nossa sociedade, muitas vezes são estimulados por pequenos grupos desumanos, como observamos frequentemente nas redes sociais.

Dentro desse contexto, sofrer injustiças ou viver de forma precária, desigual e desumana tem sido configurado com algo natural. Nessa perspectiva, se olharmos de frente para esses acontecimentos, iremos concluir que vivemos hoje uma verdadeira distopia social, em que situações como sofrimento e autoritarismo estão sendo normalizadas. Fato que, ao meu ver, é definitivamente inaceitável.

Ocorre que, como diz o ditado popular “o mal faz barulho e o bem é discreto”… Então, pergunto a vocês:

Até quando seremos discretos?
Até quando seremos apenas espectadores dessas atrocidades, sem nada fazer para mudar esse quadro?
Até quando vamos “vomitar” frases feitas, demonstrando uma indignação falsa?
Até quando vamos normalizar o absurdo?

Precisamos sair da nossa posição de conforto, precisamos parar de reclamar da situação do mundo hoje e seguir em frente… É urgente uma mudança de postura, de modo a nos colocar no lugar das pessoas que sofrem: seja com a guerra, seja com a fome, seja com o preconceito, seja com qualquer tipo de injustiça. Precisamos acordar e recuperar a capacidade de nos afetar com a situação do outro, pois acredito que nos salvaremos somente pela solidariedade, pela utopia do afeto.

Mesmo porque basta observar que tudo aquilo que oferecemos ao mundo retorna para nós, assim como acontece com um agricultor que colhe hoje o que plantou ontem. Por isso, é importante que escolhamos bem as sementes e o terreno antes de plantarmos para que tenhamos uma boa colheita.

Por tudo isso, torna-se fundamental que saiamos da posição de vítima, ou seja, de quem se nega a observar com seriedade os acontecimentos a sua volta e, por esse motivo reclama de tudo, para a posição de mudança, deixando de lado o comodismo e a zona de conforto, rumo à prática de atitudes coerentes e de ações que privilegiem o bem comum.


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