Edgleide de Oliveira Clemente da Silva
Em decorrência das inúmeras discussões calorosas, que ocorriam nas reuniões da Sociedade Comemorativa da Independência do Império, sobre os fatos históricos que envolveram a Emancipação política do Brasil, sua Diretoria, em 21 de outubro de 1872, solicitou ao autor Alexandre José de Mello Moraes, um exemplar da sua obra Brazil Historico (1861). Convictos dos anseios patrióticos que animavam o autor, aguardaram com expectativa o escrito que responderia as dúvidas sobre o acontecimento histórico da proclamação da Independência brasileira.
Satisfazendo os desejos da Diretoria, Mello Moraes enviou três tomos do Brazil Historico (1861), exceto o primeiro, visto ter se esgotado do mercado de livros, e o 1º tomo do Brazil Reino e Brazil Imperio (1871), no qual expôs os acontecimentos políticos, de 1808 até a sagração e coroação do primeiro imperador. Seu padrão de glória era atestar que suas obras se embasavam em inúmeros documentos, considerados tesouros inesgotáveis de riquezas sobre a história pátria. Assumia, portanto, o compromisso de obscurecer o homem político e iluminar o historiador imparcial, buscando apreciar os acontecimentos como eles realmente aconteceram.
As valiosas considerações sobre a Emancipação foram recebidas pela Diretoria da Sociedade no Rio de Janeiro, no dia 30 de outubro de 1872, acompanhada de sua carta que manifestava gratidão pelo reconhecimento de seu trabalho. À época, diante da descrença das letras, eram raros os sujeitos que se dedicavam ao estudo das pesquisas históricas do país com abnegação, constância e desinteresse, diante a desnaturalização pelas paixões políticas. Logo, cabia agradecê-lo pela prova de consideração.
Em favor da instrução da mocidade fluminense, também doou às bibliotecas das escolas municipais do Rio de Janeiro, um exemplar de cada uma das suas produções. Como cultor das letras e das ciências, levava o conhecimento histórico a grande alcance e proveito dos jovens, com o intuito de promover o conhecimento de si mesmo e do país em que residia, como forma de melhorar a atuação do indivíduo na nação. Para tanto, distribuiu pelas municipalidades, liceus e escolas públicas do Império os seus livros.
Para Moraes, seus escritos eram um ato de amor pela sua terra e gente. Neles, buscava contar o passado da história civil e política brasileira, com base no plano de historiar e documentar todos os sucessos políticos de seu conhecimento, como também revelar os segredos de gabinetes e fatos ocultos, mas que viriam à luz através dos documentos. Um outro objetivo era evidenciar a ausência dos “verdadeiros” patriotas para a efetivação da Emancipação, mas que a História insistia em relatar o contrário.
Os sucessos civis e políticos do país se resumiam no monumento do Largo do Rocio (Praça da Constituição), que, segundo Mello Moraes, não passava de um mero ornamento de jardim, de triste recordação e sem muito custo. Do mesmo modo, a figura de bronze de José Bonifácio de Andrada e Silva, que ornava o Largo de São Francisco de Paula e o rotulava como patriarca da Independência, representava apenas a soberba, cegueira e ambição do “mando” presente no Brasil desde 1822, momento da separação.
Moraes também aponta que, apesar dessa titulação direcionada a José Bonifácio, ele foi suspenso do exercício de tutor do Imperador e de suas irmãs, por meio de um ofício da Regência endereçado a ele no dia 15 de dezembro de 1833. Esse pedido do governo só seria obedecido à força por Bonifácio, pois o considerava injusto, déspota e premeditado, e se fosse executado serviria apenas para envergonhar o Império. Do outro lado, a Regência mantinha a ação e mandava comunicar a todos os presidentes a destituição do conselheiro José Bonifácio de tutor dos “meninos imperiais”.
Pelo fato de José Bonifácio ter resistido a intimação feita pelos juízes de paz, de passar a tutela dos meninos imperiais ao Marquez de Itanhannem, foi ordenado ao capitão João Nepomuceno Castrioto, prendê-lo. Ao ver que a situação não seria revertida entregou-se à prisão. Logo após ser preso, Bonifácio foi encaminhado para a ilha de Paquetá. Por uma resolução da Câmara dos deputados, de 27 de maio de 1834, foi confirmada a remoção da tutoria dos meninos imperiais e no dia 5 de julho, ele compareceu perante o júri da Corte para responder por seus crimes.
Foi defendido pelo Dr. Candido Ladisláo Japiassú de Figueira e Mello e conseguiu a sua absolvição. Depois de ser absolvido pelo júri, passou a sua residência para o bairro de São Domingos, em Niterói, onde faleceu na madrugada do dia 6 de abril de 1838, com 75 anos de idade. No dia 26 do mesmo mês foi baixado um decreto concedendo às suas filhas Gabriella Frederica e Carlota Emília, a pensão de 2:800$, repartida por ambas, e a filha legitimada Narcisa Cândida, o valor de 1:200$. Essas remunerações foram entregues em decorrência aos serviços prestados pelo Conselheiro à Independência e ao Império, intencionalmente forjadas pela História.
Sobre a autora
Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação – ProPEd da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e integrante do Núcleo de Ensino e Pesquisa em História da Educação NEPHE/UERJ.
Imagem de destaque: Figura: Livro Historia do Brasil-Reino e Brasil Imperio (1871). Fonte: Biblioteca Digital do Senado do Brasil. Acesse aqui.