“É tudo para ontem”: um convite à leitura de Emicida

Alexandra Lima da Silva

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O documentário Emicida. AmarElo: é tudo para ontem estreou no dia 8 de dezembro na Netflix. Veio ao mundo na semana seguinte ao assassinato das primas Emilly e Rebeca, meninas negras e nascidas na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro que não tiveram tempo de conhecer o Teatro Municipal, palco do memorável show de Emicida, cenário principal do filme. Ouvir “ano passado eu morri mas esse ano eu não morro” evoca resistência, luta, mas também evoca a dor. Uma dor que não pode mais ser sufocada ou negada. Principalmente num país em que crianças negras são assassinadas no caminho da escola, dentro de casa, no portão, enquanto brincam, enquanto sonham.

O documentário se estrutura lindamente em três atos: plantar, regar e colher.

É para os jovens que Emicida canta e produz.

Mas também é para os ancestrais, pois, afinal, “tudo o que nós têm é nós”.

Reconhece quem veio antes, homens negros e mulheres negras, protagonistas na História do Brasil.

Com sabedoria e densidade, Emicida repete, mais de uma vez no documentário: “exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje”. Por isso, há urgência no movimento de ocupação, de reparação e de reconhecimento na luta pelas vidas negras.

É preciso conversar com a juventude.

É preciso enxugar as lágrimas, mas voltar de volta ao ringue, respeitando a “fúria da beleza do sol”.  A dor não nos define. A luta sim.

Emicida também canta para aqueles que ainda não nasceram.

Para assistir:
Emicida. AmarElo: é tudo para ontem. Netflix, 2020.


Imagem de destaque: Reprodução/Netflix

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