Brasil, país racista!

Semana passada, quando nos preparávamos para realizar mais um Dia Nacional da Consciência Negra, milhões de pessoas no Brasil e no mundo assistiram estarrecidas ao assassinato de mais uma pessoa negra no Brasil. O que aconteceu com João Alberto, que entrou em um supermercado da rede Carrefour para fazer compras e foi assassinado pelos seguranças da loja com anuência de um policial militar do Rio Grande Sul, é uma demonstração cabal do quanto, para a população negra brasileira, viver é perigoso.

A tragédia, tão eloquente pela sua violência quanto pelo seu visível racismo, não foi assim compreendida pelas autoridades da República Brasileira. Em mais uma demonstração de seu desprezo pelos estudos sobre o tema, pelos movimentos sociais que representam a população negra e, sobretudo, pelas vidas das pessoas negras do país, o vice-Presidente da República, Hamilton Mourão, disse em cadeia nacional que, no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, “não há racismo”. E, muito menos, racismo estrutural, emendou o Presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, para quem o chamado racismo estrutural é mais uma invenção das esquerdas nacionais e internacionais para dominar o mundo.

Triste um país em que o vice-Presidente da República se refere aos negros e negras de sua nação como “pessoas de cor”, e ainda afirma que não há racismo! Não por acaso, a racialização das relações sociais começa justamente aí, pela naturalização das construções sociais. Falar que pessoas negras são “pessoas de cor” é naturalizar a branquitude como sendo um padrão e, como tal, nem precisa ser nomeada. É por isso que ser uma pessoa branca não é ser uma “pessoa de cor”.

O racimo não é uma questão biológica. É uma construção social a partir das características corporais dos sujeitos, às quais se atribuem valores e posições na sociedade. Não é por acaso que o racismo fazpar perfeito para os preconceitos de gênero e orientação sexual, atribuindo aos “outros” que não sejam héteros, brancos e masculinos, atributos e características que lhes conferem menos valor e posições subalternas no mundo social.

Ao contrário do que disseram o vice-Presidente da República e o Presidente da Fundação Palmares, no Brasil tem racismo e, mais que isso, racismo estrutural. Não é o acaso que faz com que, no Brasil, a população negra brasileira seja mais pobre, ganhe menores salários, tenha menos chances de cursar a universidade e seja mais encarcerada e mais assassinada, inclusive pela polícia. Os nossos racismos estruturais e institucionais agem cotidianamente para criar barreiras e dificuldades, quando não impossibilidades, para a melhoria da vida da população negra no Brasil.

Felizmente há um crescente movimento de lideranças e coletivos de negros e negras contra o racismo e contra todas as formas de discriminação e violência. Há, de norte a sul do país, e em boa parte do planeta, pessoas e grupos que jogam suas energias vitais para anunciar e construir novas, democráticas e solidárias relações. No Brasil, como sabemos, tais propósitos têm encontrado inimigos em todos os recantos, a começar pelas próprias autoridades da República.

O combate ao racismo é uma tarefa de todos e de todas nós. Não deixaremos de ser um país racista, machista, homofóbico e, portanto, violento e desigual, se não compreendermos que os “outros”, os “diversos”, somos todos nós. Nossa diversidade é parte das nossas riquezas culturais e humanas e não podem ser transformadas em justificativas para as nossas imensas desigualdades. Diversos sempre fomos e seremos, e podemos ser mais iguais se agirmos neste sentido. Inclusive para banir da cena pública brasileira os racistas e as racistas que, hoje, ocupam os altos escalões da República.


Imagem de destaque: Ato por Aghata Félix, pela vida e contra o genocidio negro, Setembro de 2020. Foto: Pân Santos/@eu_pamt

 

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Brasil, país racista!

Editorial da edição 302 do Jornal Pensar a Educação em Pauta

Semana passada, quando nos preparávamos para realizar mais um Dia Nacional da Consciência Negra, milhões de pessoas no Brasil e no mundo assistiram estarrecidas aoassassinato de mais uma pessoa negra no Brasil. O que aconteceu com João Alberto, que entrou em um supermercado da rede Carrefour para fazer compras e foi assassinado pelos seguranças da loja com anuência de um policial militar do Rio Grande Sul, é uma demonstração cabal do quanto, para a população negra brasileira, viver é perigoso.

A tragédia, tão eloquente pela sua violência quanto pelo seu visível racismo, não foi assim compreendida pelas autoridades da República Brasileira. Em mais uma demonstração de seu desprezo pelos estudos sobre o tema, pelos movimentos sociais que representam a população negra e, sobretudo, pelas vidas das pessoas negras do país, o vice-Presidente da República, Hamilton Mourão, disse em cadeia nacional que, no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, “não há racismo”. E, muito menos, racismo estrutural, emendou o Presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, para quem o chamado racismo estrutural é mais uma invenção das esquerdas nacionais e internacionais para dominar o mundo.

Triste um país em que o vice-Presidente da República se refere aos negros e negras de sua nação como “pessoas de cor”, e ainda afirma que não há racismo! Não por acaso, a racialização das relações sociais começa justamente aí, pela naturalização das construções sociais. Falar que pessoas negras são “pessoas de cor” é naturalizar a branquitude como sendo um padrão e, como tal, nem precisa ser nomeada. É por isso que ser uma pessoa branca não é ser uma “pessoa de cor”.

O racimo não é uma questão biológica. É uma construção social a partir das características corporais dos sujeitos, às quais se atribuem valores e posições na sociedade. Não é por acaso que o racismo fazpar perfeito para os preconceitos de gênero e orientação sexual, atribuindo aos “outros” que não sejam héteros, brancos e masculinos, atributos e características que lhes conferem menos valor e posições subalternas no mundo social.

Ao contrário do que disseram o vice-Presidente da República e o Presidente da Fundação Palmares, no Brasil tem racismo e, mais que isso, racismo estrutural. Não é o acaso que faz com que, no Brasil, a população negra brasileira seja mais pobre, ganhe menores salários, tenha menos chances de cursar a universidade e seja mais encarcerada e mais assassinada, inclusive pela polícia. Os nossos racismos estruturais e institucionais agem cotidianamente para criar barreiras e dificuldades, quando não impossibilidades, para a melhoria da vida da população negra no Brasil.

Felizmente há um crescente movimento de lideranças e coletivos de negros e negras contra o racismo e contra todas as formas de discriminação e violência. Há, de norte a sul do país, e em boa parte do planeta, pessoas e grupos que jogam suas energias vitais para anunciar e construir novas, democráticas e solidárias relações. No Brasil, como sabemos, tais propósitos têm encontrado inimigos em todos os recantos, a começar pelas próprias autoridades da República.

O combate ao racismo é uma tarefa de todos e de todas nós. Não deixaremos de ser um país racista, machista, homofóbico e, portanto, violento e desigual, se não compreendermos que os “outros”, os “diversos”, somos todos nós. Nossa diversidade é parte das nossas riquezas culturais e humanas e não podem ser transformadas em justificativas para as nossas imensas desigualdades. Diversos sempre fomos e seremos, e podemos ser mais iguais se agirmos neste sentido. Inclusive para banir da cena pública brasileira os racistas e as racistas que, hoje, ocupam os altos escalões da República.


Imagem de destaque: Ato por Aghata Félix, pela vida e contra o genocidio negro, Setembro de 2020. Foto: Pân Santos/@eu_pamt

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