Um Brasil popular contra a política profissional

Matheus da Cruz e Zica

Depois de assistir a uma palestra de Vladimir Safatle na qual o professor da USP afirma estar em marcha um golpe militar no Brasil, eu e alguns colegas pesquisadores da educação entramos num debate bastante estimulante sobre os destinos e desafios do Brasil perante uma extrema direita apologética da violência.

A partir dessa conversa resolvi formalizar parte do meu argumento. Depois de lançarem o manifesto “Mais uma vez convocados“, publicado na Revista Brasileira Estudos Pedagógicos n.74, 1959, no qual Fernando Azevedo, Lourenço Filho e Anísio Teixeira denunciam o conservadorismo e elitismo da Lei de Diretrizes e Bases votada naquele momento.

Anísio Teixeira volta a publicar na RBEP, N.76, de 1959. Texto intitulado: “A nova Lei de Diretrizes e Bases: um anacronismo educacional?“. Nele, o estudioso constata a impotência dos intelectuais no Brasil diante de um Congresso despreparado, de baixíssimo nível e propenso a defesa de particularismos.

A conclusão do artigo é impactante e se mostra de uma atualidade tremenda. Mostra que os problemas que enfrentamos atualmente não são de hoje. Paramos onde eles nos deixaram antes de 1964.

Leiamos com atenção:

Tudo leva a crer que este continente (América do Sul) está fadado a vir a encarnar o mundo antigo e, em face dos saltos para o futuro de quase todo planeta, efetuar esta parte da terra certos recuos providenciais para, ajudada pelas nossas santas tradições, ainda poder manter as doçuras em espiritualidades dos bons velhos tempos da injustiça e da desigualdade humanas.

Não deixa de ser melancólico assistir ao anacrônico, a que não falta sua ponta insolência, do Brasil de hoje, que minha geração ainda julgava novo e que a geração seguinte, essa que hoje debate e vota as nossas leis, aposta em mostrar que não é nenhum país jovem, mas antiga e sábia nação, liberta de ilusões, solidamente reacionária, disposta a restaurar o privilégio e a desigualdade como formas realistas e superiores de organização social. Embora essa orientação seja aparentemente a dominante no legislativo federal, conforta-nos a segurança de que tais resistências a mudança acabam por aguçar a consciência social, preparando-nos, assim, para mudanças possivelmente mais radicais. De nenhum outro modo poderá o Brasil en frentar os tempos novos e a nova sociedade que, de qualquer modo, se vem formando neste país em plena expansão democrática.

Anísio Teixeira avaliava no calor da conjuntura que o conservadorismo do congresso aguçaria uma reação mais radical da população, pois contraditoriamente a política profissional, o país estaria em “plena expansão democrática”… Como esteve enganado… Em 1964 veio o golpe e em 1968 veio o AI5.

Mas estava certo quando afirmou que só com uma reação popular mais radical “poderá o Brasil enfrentar os novos tempos”!

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