A Escola Competitiva entristece, coloniza e embrutece

Tiago Tristão Artero

Nossas vidas e nossas escolas europeizadas e militarizadas deixaram de lado as emoções e a natureza.

Isso reverbera no aumento das opressões às raças, fenótipos e epistemologias, mas também dá a base para a opressão das mulheres e da Natureza.

Não é uma questão somente do conteúdo, mas também da forma, da repressão aos corpos livres, cabelos, roupas, formas de falar, de expressar-se, de andar e, também de reduzir as gramáticas corporais e orais às do colonizador.

Por isso o Racismo Epistemológico converge para um Racismo Pedagógico – onde o olho no olho, as atividades em roda, a mão no chão, a ligação com a natureza, a manifestação de afetos são elementos reduzidos ou proibidos.

Do outro lado estão os corpos enfileirados, o olhar que visita a nuca da/do colega e o jeito “certo” de ser e de estar no mundo, treinado para ser aceito nas estruturas racistas que se alongam para além da escola.

A competição segue como método – as pessoas não são pares, não são alguém do coletivo, mas o inimigo a ser derrotado. Talvez, por isso, as rodas e os afetos não estejam previstos no contexto, a percepção/integração na (com a) natureza não esteja minimamente contemplada no meio escolar.

Só isto, por si só já se configura como um epistemicídio às outras filosofias/cosmovisões que não aquelas eurocentradas. Digo, dos mais de 300 povos indígenas (cada um em sua singularidade) e das muitas culturas populares e quilombolas sistematicamente combatidas no decorrer da nossa história. Criminalizadas.

A menina, o menino da aldeia estão, em sua filosofia, intimamente integrad@s a Natureza e às atividades coletivas. As garotas e garotos do terreiro têm na sacralidade de suas práticas a própria fusão com a Natureza, onde seu modo de ver não se desvincula do poder das matas e das águas. O modo de vida quilombola, os aquilombamentos urbanos, a musicalidade das práticas afrobrasileiras, populares e indígenas apontam a valorização dos desvalorizados, da Mãe Terra e do conhecimento que passa pela integralidade do corpo. Mas a aplicação das filosofias ocidentais judaico cristãs, especialmente, quando alinhadas à devastação que promove o capital, ousa santificar o patriarcado e o consumismo que elimina as vidas e, num ritmo cada vez mais acelerado, a própria Terra. Essas ciências, metodologizadas nos livros articulam formas mais eficazes desta destruição, sob o rótulo de avanço social e científico.

Com suas formas de vida, com seus Tekoha(s), com seus Ubuntu(s) e Bem Viveres (Buen vivir, Vivir Bien), a diversidade presente na escola se esvai com a padronização norteamericanizada/europeizada/mercantilizada que gera sofrimento, racismos e preconceitos. A padronização atenta contra o respeito às/aos mais velhos, à sabedoria e reverência que outras culturas valorizam.

Contexto construído no senso comum de que o novo é bom, aquilo que compete, que destaca-se, que pode ser consumido e descartado. O velho é ruim, deve ser superado, não pode atrapalhar, não merece respeito. A ideia se materializa numa estrutura formada onde o que é novo (a própria tecnologia) vai salvar a humanidade e o antropocentrismo é a solução para administrarmos a Terra, como se fosse uma empresa prestes a colapsar.

Quanto mais avança a ciência descontextualizada de uma práxis desvinculada da imensidão de saberes que não são somente os ocidentais judaicos cristãos, mais sofrimento e descolamento com a realidade se fazem presentes nas vidas esvaziadas de sentido, numa doutrinação que insere o corpo como pecado.

Enquanto a competição e a homogeneização da vida forem as regras nas instituições de ensino, maior será a distância em relação as vidas das/dos nossas(os) alunas(os).
Enquanto não houver professoras(es) indígenas, quilombolas e saberes das mais diversas matrizes nos currículos, a marginalização dos saberes e das vidas serão a regra nas escolas. As escolas continuarão sendo ambientes da hipócrita “razão”, onde os sentimentos são canalizados para o rendimento (do tipo empreendedor, balizado por professores coaches), colonizando, entristecendo e embrutecendo.


Imagem de destaque: As margens do rio Araguaia no Mato Grosso um dos mais belos e importante do Brasil crianças brincam em playgrond. Foto: Mayke Toscano

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