Roberta Poltronieri
Recentemente, em viagem à bela e histórica cidade de Ouro Preto, antiga Vila Rica, no estado de Minas Gerais, pude conhecer e estudar com olhar um pouco mais próximo, fragmentos visíveis da história do Brasil, principalmente, no momento que refere-se a empreitada ao ouro e sua exploração em nossas terras pela coroa portuguesa.
Nos momentos que estive andando pela antiga cidade de Vila Rica, muitos sentimentos vieram a mim, ao lembrar de histórias que fizeram parte de minha trajetória escolar, os textos que li nos livros didáticos e a intensa reflexão daquilo que somos hoje e as pessoas que nos antecederam para formar este território que habitamos, falamos e vivemos. Este Brasil, um país de herança colonial, que carrega em sua história muita exploração, desigualdades, riquezas naturais e um tanto de perguntas com respostas incompletas, talvez até incompreendidas.
Como país colonizado, o Brasil passou por vários ciclos econômicos de exploração nas mãos de Portugal. No início da invasão em nossas terras, no período pré-colonial (1500-1530), arrancaram de nós o Pau Brasil para usar no tingimento de tecido e venda no mercado europeu. Após o esgotamento desta matéria-prima e já feito lucro com isso, avançaram em nossas terras. A família real aqui instalou-se e expandiram no cultivo da cana de açúcar, com grandes fazendas e engenhos e com o uso de mão de obra escrava para realizar toda exploração da nossas terras às custas de outras vidas (os escravos), que eram trazidas em navios negreiros e serviam aos donos do poderio, que eram detentores das casas grandes.
Nos engenhos os Africanos foram feitos escravos, desbravavam áreas de várzea, plantavam e colhiam, enverdeciam os canaviais, moíam a cana, transportavam, principalmente nas colônias de São Vicente e Pernambuco, estendendo-se depois a Bahia e Maranhão, fazendo gerar o lucro para a colônia portuguesa.
Sofrendo com a concorrência do açúcar na Europa, já no final do século XVII, os portugueses passaram a desbravar lugares, e, com as expedições dos Bandeirantes, encontram por aqui, mais especificadamente no estado de Minas Gerais, minas de ouro. Essa descoberta provocou uma verdadeira “corrida pelo ouro”, aumentando o povoamento destas regiões. Mesmo onde hoje é Ouro Preto, já foi a região mais populosa da colônia, mesmo em relação a outros países. Neste contexto é que inicio uma breve reflexão histórica que esteve próxima aos meus olhares durante pouco mais de cinco dias.
Ver as igrejas que ali foram construídas, me fez viajar na história e atuação da igreja católica na legitimação da exploração portuguesa pelo Brasil. Por ordem dos bispos da alta ordem, cada povoado que se iniciava, ali mesmo seria erguida uma igreja. Não hesitaria em tentar listar os nomes destas igrejas, pois cada uma é carregada de histórias de glórias e desacertos, mas por ora cito: Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora das Mercês e dos Perdões e Nossa Senhora do Pilar, uma igreja carregada de ouro em seu interior, com uma construção no estilo barroco, que fora muito frequentada pela aristocracia. Também a São Francisco de Assis e a Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, igreja construída e frequentada pelos africanos, segundo relatos de um historiador da cidade. Nesta igreja também percebe-se o sincretismo em seu estilo barroco, com imagens de santos negros e imagens de conchas do candomblé. Uma viagem em nossa história em cada paisagem, estatueta, monumento e pela história oral muito bem difundida pelos guias turísticos e moradores locais que vivem em meio a tradição.
Certamente que conhecer Ouro Preto deixou em mim uma rede de sentimentos que meu alcance didático ainda não pode alcançar, mas estejamos certos de que esta história não está imóvel ao tempo, guardamos e reproduzimos ainda hoje um pouco do que minha passagem pelas minas representou e pode representar em outras pessoas. A exploração, nossas paisagens, as casas coloniais, o chão moldado pelas mãos dos africanos, o ouro e um passado que não será apagado. Porém, será necessário olhar para este tempo, para que o futuro que desejamos construir em busca de um país melhor possa acontecer em qualquer lugar que estejamos.