O reconhecimento do território e a conquista do espaço da comunidade quilombolas de Lagoinha (Casa Nova – BA)

Sidclay Pereira*

Ao longo da história das comunidades quilombolas no Brasil, é certo que suas histórias envolvem lutas por reconhecimento, respeito, liberdade e autonomia a fim de preservar sua identidade, costumes, crenças e cultura. Nesse processo encontra-se a Associação Quilombola Lagoinha no Município de Casa Nova (BA) que, atualmente, conta com 63 integrantes.

A comunidade Lagoinha é um exemplo do processo de lutas recorrentes pela sua manutenção. Sua origem assemelha-se às demais comunidades quilombolas no Brasil, ou seja, seus primeiros habitantes eram africanos e descendentes que fugiam e organizavam-se em territórios para resistirem às condições escravistas que lhes eram impostas. A Lagoinha foi construída a partir de fugitivos de fazendas do atual Município de Afrânio (PE).

Diante das lutas e desafios que a comunidade vem enfrentando ao longo da sua história, algumas conquistas já podem ser notadas, como por exemplo, a aquisição do título da terra depois de um processo que durou décadas e envolveu, além de uma forte organização interna, representantes da Coordenação de Desenvolvimento Agrário (CDA), Secretaria de Ação Social e a Fundação Palmares. A Associação Lagoinha encontra-se reconhecida e legalizada de acordo com a Lei Nacional de Áreas de remanescentes quilombolas. No entanto, o documento que garante a legalização da comunidade não está sob posse dos integrantes, uma vez que, ainda não pôde ser repassada para os líderes por estar com agentes da administração pública municipal.

A comunidade não recebe o apoio efetivo de políticas públicas voltadas para a assistência aos movimentos de remanescentes de quilombos. Em resposta, conta com vários movimentos sociais, como Associação de Fundo de Pasto, Associação de Mulheres, Associação de Moradores e Grupo de Jovens. Por outro lado, é beneficiada pelas políticas públicas de assistência e convivência no semiárido.

Para a comunidade é de suma importância o entendimento e a valorização das diversidades culturais na superação das desigualdades e discriminações étnicas e socioculturais e na erradicação da marginalização que permeia uma grande parcela da sociedade, principalmente afrodescendentes.

Um dos principais desafios da comunidade Lagoinha atualmente, segundo os mais idosos, é o desinteresse e desmotivação dos mais jovens pelas manifestações e tradições culturais e religiosas locais. Por outro lado, os jovens estão propícios a deixarem seu espaço para tentarem se introduzir na cidade em busca de educação formal e trabalho assalariado, uma vez que a vida no campo ainda não lhes dá essas oportunidades.

Os remanescentes de quilombolas representam, nos dias de hoje, a luta dos antigos africanos escravizados que perderam suas vidas trabalhando para erguer economicamente um país, sem receber ao menos a visibilidade que tiveram.

Registra-se o agradecimento à Comunidade Lagoinha que calorosamente recebeu os estudantes e abriu suas portas para que uma parte da sua rica história pudesse ser conhecida e divulgada.

Essa pesquisa foi desenvolvida pelos graduandos de Licenciatura em Geografia da Universidade de Pernambuco, Campus Petrolina: Adalberto da Costa Silva (adalbertocosta21@hotmail.com), Maria Saturnina Silva (nina.diassilva@hotmail.com), Max Salarrony Gomes (maxgomes.g@hotmail.com), Rian Silva (rian_riay@hotmail.com) e Robeilda Lino (robeilda@hotmail.com) como parte das atividades dos componentes curriculares Região e Regionalização e Geografia Regional do Brasil.


*Sidclay Pereira é licenciado e Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco, Doutorando em Ciências Geográficas pela Université Laval (Quebec, Canadá) e Professor Assistente do Colegiado de Geografia da Universidade de Pernambuco – Campus Petrolina.

Contato: sidclay.pereira@upe.br

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