O protagonismo juvenil na história da educação de Sergipe

Simone Paixão Rodrigues

A história da educação de Sergipe é marcada pelo protagonismo da sua juventude, que no cotidiano dos espaços escolares, em meio às “regras, normas e condutas a inculcar”, criou associações, produziu jornais, organizou eventos, movimentou a vida cultural e dialogou com o ideal de civilização. 

Esse protagonismo juvenil tem registros nas décadas finais dos anos oitocentistas, que logo após a criação do Atheneu Sergipense, em 1870, primeira instituição pública de ensino secundário de Sergipe, fundou associações e jornais estudantis, tais quais: Sociedade e jornal O Porvir, Sociedade Grêmio Tobias Barreto e o jornal Necydalus. 

Tal protagonismo intensificou-se após a proclamação da República, onde a paisagem urbana da capital Aracaju foi moldada, não só pelos novos prédios erguidos, mas também por sua juventude, que, de forma mais intensa, começava a ser pensada dentro de um molde social que primava por um desenvolvimento cultural concretizado nos espaços literários, esportivos e culturais, denominados de centros, grêmios, clubes e associações. 

Dentre as dezenas de associações estudantis criadas durante a primeira metade do século XX, destaco: Grêmio Littero Sportivo do Pedro II, Grêmio Literário Pedro II, Clube de Turismo Instrutivo, Grêmio Pré-Politécnico do Atheneu Sergipense, Grêmio Literário Clodomir Silva, Grêmio Lítero-científico, Grêmio Tobias Barreto, Grêmio João Carneiro de Melo, Salão da Matemática, Grêmio Pré-Politécnico, Centro Cultural Alcebíades Paes, Grêmio Cultural Graccho Cardoso, Grêmio Cultural Monsenhor Gonçalves Lima, Grêmio Cultural Professor Francisco Travasso, União Sergipana dos Estudantes Secundaristas de Sergipe – USES, Clube Estudantil de Sergipe, Centro Cívico do Colégio Estadual do Estado de Sergipe, Centro Acadêmico Silvo Romero, Arcádia Literária do Atheneu Sergipense e Grêmio Cultural e Esp. S. Pio Décimo. 

Eram comuns, nas rotinas dessas associações estudantis de Sergipe, práticas como: produção de jornais, aulas de alfabetização para adultos, defesas de teses, leituras e recitações de poemas, estudos e atividades literárias e organização de eventos culturais e cívicos.

A Sociedade O Porvir e a Sociedade Grêmio Tobias Barreto, ambas criadas pelos alunos do Atheneu Sergipense nas últimas décadas do século XIX, são exemplos do protagonismo juvenil,  e não mediram esforços para promover a sociabilidade e o espírito de cooperação, pois tinham como uma das finalidades a reunião de estudantes interessados em desenvolverem o espírito de colaboração, a autonomia e produzirem jornais que veiculassem suas opiniões, concepções políticas e sociais e capacidades científicas e literárias. 

As associações estudantis, criadas na primeira metade do século XX, também praticavam a sociabilidade através de programas de rádio e atividades esportivas, estas sendo, exclusivamente, desenvolvidas pelo Grêmio Littero Sportivo do Pedro II. Tais práticas revelam que as agremiações não se restringiam, apenas, ao interior das suas reuniões, pois suas ações extrapolavam os limites da escola, onde funcionavam suas sedes, e dava visibilidade e representação na sociedade sergipana. 

O associativismo estudantil faz parte de uma “cultura escolar” presente nas mais diversas instituições de ensino do Brasil, e chama a atenção por sua significância na construção da identidade dos alunos que dele fizeram parte. É visível que aqueles que dele participaram, como Abdias Bezerra, Artur Fortes, Edilberto Campos, Balthazar de Araújo Goes, Joel Silveira, Paulo Costa, Maria Thetis Nunes e José Bonifácio Fortes Neto, grandes nomes da intelectualidade sergipana, destacaram-se como alunos, como sócios e como protagonistas dos seus cotidianos escolares e das suas histórias. 

Assim, o protagonismo juvenil na história da educação de Sergipe das décadas finais do século XIX e da primeira metade do século XX, indubitavelmente, concretizou-se por meio das práticas associativas. No interior das associações estudantis, em meio à uma série de atividades e obrigações, os sócios desenvolveram formas e espaços de sociabilidade que os moldaram intelectual, social, cultural e politicamente, situando suas agremiações como lócus legítimos de protagonismo e sociabilidade da juventude sergipana. 

 

1 – Doutora em Educação. Professora da Educação Básica  e do Ensino Superior do Estado de Sergipe. Membro do Grupo de Pesquisa Disciplina Escolares: história, ensino e aprendizagem – DEHEA/USF/CNPq. 

 

Para saber mais:

Rodrigues, Simone Paixão. Com a palavra, os alunos: associativismo discente no Grêmio Literário Clodomir Silva (1934-1956). Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão/SE, 2015.

Rodrigues, Simone Paixão. Com a palavra, os alunos: associativismo discente no Grêmio Literário Clodomir Silva (1934-1956). Campinas: Mercado das Letras, 2020.


Imagens de destaque: Jornal O Porvir, 1874. Acervo da Biblioteca Pública Epifânio Dórea/Jornal A Voz do Ateneu, 1937. Acervo do Instituto Histórico Geográfico de Sergipe. 

 

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