Marcos Fábio Cardoso de Faria*
A educação apresenta um lugar distinto para a formação e empoderamento dos sujeitos à revelia dos privilégios sociais, além de uma arma eficaz contra as opressões cotidianas. Trata-se de um saber que se vale da empatia, pois sua matéria prima é a instrumentalização do sujeito, oprimido e opressor, para o cotidiano. Além disso, diversos saberes se valem da educação como base para suas construções, como é o caso da mais importante teoria teatral brasileira: Teatro do Oprimido, de Augusto Boal.
Dos livros que se debruçam sobre estético-político de Augusto Boal, sua gênese, que se dá pela Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, De Freire a Boal: pedagogíadel oprimido – teatro del oprimido, organizado por Tania Baraúna e Tomás Motos Teruel, publicado pela Ñaque Editora em 2009, é um obra ímpar. Ainda sem tradução para o português, trata-se de um guia para entender como ambas teorias se retroalimentam e constituem um legado para emancipação dos oprimidos que são reconhecidas internacionalmente.
A obra de Paulo Freire é um exponencial para as lutas de classes, em que o sujeito aprende o mundo, grosso modo, pela sua vivência, como mudar sua condição. Boal, nessa mesma linha, entende que todo humano sofre e pratica opressões em diversas instancias, independentemente de seu posicionamento social. A expressão do sujeito, em ambos os trabalhos, éfundamental para sua movimentação identificação enquanto seres participativosdas mudanças sociaisque desejam.
Em De Freire a Boal, Baraúna e Teruel constroem uma mescla entre teoria e trabalhos práticos já realizados e propostas possíveis de Pedagogia do Oprimido e Teatro do Oprimido com o intento de, mais do que revisitar esses pensamentos, dar continuidade a eles. Trata-se, também, de uma fundamental contribuição para educadores, pois apresenta uma leitura fácil e metodologicamente estruturada para que o leitor não precise consultar diversas fontes para se localizar na leitura.
Dividido em três partes, na primeira há uma espécie de história intelectual de Freire e Boal. De forma arqueológica, é desvelado em qual contexto a noção de “oprimido” é vista por ambos as teorias para uma compreensão do uso socioeducativo do teatro. O valor da vivência, nesse ponto, recebe um olhar mais analítico da trajetória dos intelectuais, que são pensadas para o contexto de elaboração de seus papeis enquanto pensadores demonstrando como o lugar de enunciação foi relevante para a construção desses saberes.
Na segunda parte, o Teatro do Oprimido é mostrado, se apresenta a tecnologia da experiência do sujeito para a arte política. A prática cênica é emancipatória, pois ela coloca o sujeito como um analista de sua posição no mundo em uma via de mão dupla. A emancipação, nesse caso, está pela vulnerabilidade da imagem de si ao vivo e diante de suas relações de oprimido e opressor, alocando-o no centro dos dois lados da vivência.
Por último, o teatro e a educação como práxis é mostrado por experiências que lograram êxitos em casos de sujeitos em condições limitese que puderam dar voz aos seus policiadores internos e externos e que, pelo teatro e pela educação, conseguiram mudar suas realidades. Além disso, há uma compilação de pensadores e estudiosos das práticas teatrais de Augusto Boal como facilitadores de emancipação e empoderamento dos “oprimidos”, como Xavier Úcar Martinéz, da Universidade Autônoma de Barcelona, Flávio Sanctum, curinga do Centro do Teatro do Oprimido e educador e David de Prado Diez, da Universidade de Santiago de Compostela.
Este convite à leitura De Freire a Boal: pedagogíadel oprimido – teatro del oprimido, de Tania Baraúna e Tomás Motos Teruelé, também, um convite à tradução de um manual para a compreensão de dois pensamentos da área de educação que se complementam. No Brasil, hoje, assistimos vários movimentos de emancipação de vozes de sujeitos que, ao longo da história, foram obrigados a se calarem e que, graças aos movimentos sociais e suas projeções, podem expressar suas ideias e lutar pelas suas políticas de liberdades individuas. Por outro lado, é importante que haja, também, maior preparação dessas vozes, no âmbito teórico e prático, para que, cada vez mais, sejamrespeitadas e essa obra aparece, então, como um possível suporte para solidificação dessa luta.
Referência:
MOTOS, Tomás; BARAUNA, Tania (Org.). De Freie a Boal: pedagogia delorpimido – teatro del oprimido. Ciudad Real: Ñaque, 2009. 252 p.
* Marcos Fábio Cardoso de Faria éprofessor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM – e doutorando em Estudos de Linguagens pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG.
marcosfabiodefaria@gmail.com
marcos.faria@ufvjm.edu.br
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