O ignorado adoecimento mental dos estudantes universitários

Maria Gabriela Lara

Na edição nº 164 do Jornal Pensar a Educação em Pauta foi publicada uma matéria sobre o adoecimento mental entre os funcionários das universidades. Porém, as discussões sobre saúde mental no ambiente acadêmico tem grande destaque em grupos discentes – frequentemente compostos por minorias, como os movimentos de estudantes negros e feministas. O psicólogo Robson Cruz,  pesquisador da área de saúde mental discente lembra que, por isso, nada mais justo do que discutirmos o assunto sob esse ponto de vista. 

Em abril, estudantes do Brasil todo engajaram-se na campanha nas redes sociais #NãoÉNormal, cujo objetivo era expor desconfortos e problemas relacionados à saúde mental estudantil que não eram ouvidos pelas instituições. As discussões têm se tornado mais intensas à medida que denúncias vão aparecendo: nos últimos meses ocorreram dois suicídios de estudantes da Moradia Universitária da UFMG e dois de estudantes LGBT da UnB. 

Surgiram ainda vídeos no YouTube debatendo o assunto que tiveram alta repercussão, como nos canais Muro Pequeno e Papo de Preta. No primeiro, o linguista Murilo Araújo convida os internautas a discutir a saúde mental especialmente nas universidades públicas. Já as jornalistas Natália Romualdo e Maristela Rosa do Papo de Preta continuam a discussão de Murilo, apresentando ainda o fator do racismo sofrido por elas na universidade como um agravante à sua saúde mental. 

Para Marcos Costa, que faz licenciatura em Física na UFMG, é preciso trazer esse tema ao debate público sempre que possível, para desnaturalizar certos comportamentos. “Alunos que passam semanas, meses longe de família e amigos só estudando é uma coisa que é vangloriada e isso, pra mim, é um absurdo. E como isso é muito pouco falado, qualquer coisa em que eu possa ajudar para melhorar esse quadro é bem-vinda”, disse o estudante. Ele ainda disse que antes da faculdade já apresentava um quadro leve de sofrimento mental, que foi agravado nos seus primeiros períodos de graduação, e também observa isso acontecendo com outros discentes. 

A naturalização de comportamentos nocivos e a cobrança por resultados excelentes e produção cada vez maior também foram apontados como fatores determinantes para os altos índices de adoecimento mental estudantil por Robson Cruz. Segundo o psicólogo, a maior parte das pessoas que buscam atendimento psicológico o fazem durante o período na universidade, mais frequentemente nos cursos de pós-graduação. Ele ainda disse que “os estudantes, principalmente de mestrado e doutorado, sofrem muitas coisas que se a gente visse acontecer com qualquer outro trabalhador a gente daria nomes como assédio, roubo de propriedade intelectual etc” e que as universidades deveriam se atentar mais à forma como têm afetado seus estudantes, abrindo mais espaços para acolhimento e escuta.  

A relação entre estudantes e professores também é um ponto que parece afetar muita gente. Marcos Costa diz que, muitas vezes, professores que priorizam suas atividades de pesquisa em detrimento das de ensino, deixando os alunos por conta própria. No vídeo do Papo de Preta, as youtubers relembram ocasiões em que professores se recusavam a explicar conteúdo dado, como se fosse obrigação dos estudantes o compreender. O psicólogo Robson Cruz aponta isso como uma distorção do que é a universidade, “os alunos já entram achando que deveriam saber coisas que eles não deveriam saber, que deveriam ser aprendidos na formalidade do ensino e não são. […] Não raro, quando esse debate surge você ouve muita gente falando ‘ah, você quer passar a mão na cabeça dos alunos, isso é coisa de gente fraca’, em geral quem diz isso são professores”. Assim, torna-se um ambiente de seleção de alunos que já tenham adquirido uma ou outra habilidade de forma informal, precarizando os demais estudantes. 

No entanto, é importante ter em mente que o crescente número de pessoas neuroatípicas não se restringe às universidades. Como lembra o Robson Cruz, “tem que se pensar também que há um aumento do adoecimento mental da população mundial. Às vezes a gente ficava chocado que as pessoas estão se suicidando, tendo depressão, tendo inúmeros transtornos mentais na universidade. Eu sempre coloco uma questão sobre esse choque que  gente tem: porque aqui é um lugar que não deveria ter esse problema se no resto do mundo tem?”.  

Estudantes ingressam nas graduações e pós-graduações com uma imagem da universidade como lugares de extrema autonomia e liberdade e se deparam com uma realidade diferente. Isso combinado a uma estrutura dura e alguns professores abusivos dificulta para os estudantes afetados a tomada de posição, seja por não reconhecer o problema, seja por medo de qualquer tipo de retaliação. Reconhecer as universidades como ambientes potencialmente adoecedores é um primeiro passo para a criação de ambientes seguros para que estudantes psicologicamente abalados possam ter voz, buscar e receber um auxílio efetivo. 


Maria Gabriela Lara é graduanda de Comunicação Social – Jornalismo da UFMG

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