Gustavo dos Santos
Estamos vivenciando, no Brasil,momentos de intolerâncias e preconceitos de todos os tipos. São preconceitos de sexo, raça, gênero, religioso, étnico, cultural, regional, enfim, se formos citar, listaríamos uma infinidade deles. Se, por um lado, tememos os que se declaram abertamente e extremamente preconceituosos, por outro lado, os que combatem esse tipo de atitude e discurso também se apresentam intolerantes, criando assim um ambiente de hostilidades em diversas esferas da sociedade.
Nesse sentido, uma boa dica de leitura é o livro “O espetáculo das raças:cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930”, de Lilia M. Schwarcz. Esse livro tem como objetivo entender a relevância e as transformações da teoria racial no Brasil entre os anos de 1870 e 1930. “O espetáculo das raças” é, sem dúvida, uma valiosa contribuição para o debate sobre raça em espaços institucionais. A obra apresenta “como o argumento racial foi política e historicamente construído, assim como o conceito ‘raça’ que, além de sua definição biológica, acabou recebendo uma interpretação, sobretudo, social”. Logo, a constituição do conceito de raça foi forjado e nos é suficiente para entender as concepções étnicas.
Para a autora, estudar como essas teorias raciais foram absorvidas no Brasil torna-se necessário para refletirmos sobre a originalidade do pensamento racial brasileiro na tentativa de conformação do modelo Europeu no período oitocentista, tendo em vista o ideal de modernização e civilização. As teorias raciais chegaram ao país e foram acolhidas pela elite intelectual nacional por meio dos diversos espaços formais de ensino e pesquisa vigente. Esses intelectuais, que Schwarcz chama de “homens de Ciência”, ficaram incumbidos de pensar a nação e criar uma identidade para o Brasil, identidade esta que estava diretamente ligada aos modelos europeus de civilidade e intelectualidade.Ou seja, esses homens buscavam o progresso científico do paísatravés de teorias estrangeiras.
O livro “O espetáculo das raças” está dividido em seis capítulos,a saber: Entre “homens de sciencia”; Uma história de “diferenças e desigualdades”; Museus Etnográficos; Institutos Históricos e Geográficos; Faculdades de Direito e Faculdades de Medicina. Tornamos evidente que, os espaços constituídos pelas Faculdades de Direito e de Medicina, descritos no 6º capítulo do livro, por meio de seus sujeitos, como Manoel de Oliveira Lima, Francisco José de Oliveira Viana, Tobias Barreto, Silvio Romero, João Baptista de Lacerda, Raimundo Nina Rodrigues, Euclides da Cunha, Edgard Roquete Pinto, do Museu Nacional, Herman Von Ihering, Oswaldo Cruz, Miguel Pereira, Azevedo Sodré, tornaram-se locais de produção e reprodução das teorias raciais brasileiras.
No Brasil, o evolucionismo, o positivismo, o naturalismo, começaram a se difundir a partir dos anos de 1870. As teorias raciais européias aqui passaram por adequações, contextualizadas à situação política e social brasileira. Essa adaptação foi encampada pelos intelectuais da época, que se apropriavam do que imaginavam combinar com o país e descartaram o que consideravam problemático para a nação. As teorias raciais europeias tiveram sucesso no Brasil por meio dos espaços de educação. Estabeleceram critérios diferenciadores de cidadania e civilidade que legitimaram as distinções sociais, inclusive a antiga ordem escravocrata, cumprindo, desta forma, sua função de pensar um projeto para a nação. Diante do exposto, a obra torna-se uma leitura obrigatória para aqueles interessados no tema.Nesse sentido, convido-os à leitura.