Porque devemos estudar a biologia da evolução
Antonio Teixeira
Luiz Antonio Barreto de Castro*
Entre 1890 e 1940, para cada três cientistas laureados com o Prêmio Nobel dois eram alemães, numa sociedade dominantemente cristã. E todos gozavam irrestrita liberdade de pensar e criar um inimaginável mundo novo, inspirados pela teoria da evolução.
Talvez a pujança da teoria da evolução de Charles Darwin tenha chegado ao sistema educacional brasileiro com graves distorções de ideologias como papel de embrulho. O enfumaçado papel social e cultural emascula a ciência biológica da evolução de tal forma que muitas vezes precisamos descartar embrulhos com disfarces pomposos e examinar apenas a essência da ciência pura.
Uma visita à Universidade Alexander Von Humboldt (1769-1859), em Berlim, mostra galerias com nomes de mais de 90 homens e mulheres laureados com o prêmio Nobel. Ali, inspiração constante para os cientistas tem a raiz nos estudos do Patrono da Universidade de Berlim, com sua descrição imparcial da natureza no seu livro “Kosmos” e na descoberta genial por Herman Von Helmhotz (1821-1894) que, em 1847, publicou monografia “Sobre a Conservação da Força”, escrita no contexto de seus estudos da medicina e conhecimentos filosóficos com base na matemática e na física por trás da conservação da energia e fez as mais amplas e importantes generalizações na história da ciência. Sua teoria aplicável aos fenômenos elétricos e eletromagnéticos no corpo humano desconsiderou o conceito de forças vitais para mover um músculo, e aplicou o conhecimento na sua invenção do oftalmoscópio para uma observação profunda do olho. De grande interesse, a aplicação do conhecimento sobre a teoria da evolução de Charles Darwin tem favorecido sobremaneira a revolução que potencia a produção de alimentos de origem animal e vegetal. Um capítulo dessa história merece ser contada:
– Lobos selvagens (Canis lupus) são ancestrais de cães, fazendo jus à expressão de que todo cachorro é um lobo. Alguém pode achar que cães salsichas (dachshund ou teckel) e São Bernardo não se parecem com lobos, não obstante o DNA de cães domésticos (Canis familiaris) e lobos selvagens sejam quase idênticos. Ademais, estudos de reprodução sexuada mostra que já existem mais de 400 raças de cães produzidas com técnicas de reprodução das mais diferentes. O mais interessante sobre cães com aparências diferentes é que o acasalamento dessas espécies gera descendentes férteis. Esses estudos sustentam a teoria da evolução pela seleção natural, pois, cães chihuaha com 1 kg e 30 cm de comprimento e dogue alemão com 80 kg e 180 cm de comprimento, não procriam. A barreira física impõe limitação ao cruzamento, e a reprodução do híbrido fica interrompida. Ao constatar isso, verifica-se que quando essas duas raças não se reproduzem elas tendem à especiação, quando criadas em ambientes isolados1. Com base nesse conhecimento científico que robustece a biologia da evolução os cientistas na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) contribuem continuadamente para a revolução da agropecuária de norte ao sul do Brasil, produzindo tecnologias adaptadas à produção nos trópicos.
Que ideologias não científicas contaminam o Darwinismo?
Os cientistas concordam que é necessário separar a ciência da evolução de qualquer concepção limitante do pensamento livre.
Progresso: – Essa camada do embrulho cultural esconde o conceito vago da palavra que significa modificação para pior ou para melhor1,2. Na sociedade de consumo pós-revolução industrial o progresso adquiriu significado de conhecimento utilitário e logo foi impingido na teoria da evolução das espécies descrita por Charles Darwin. Essa impertinência “passa moleque” continua a escamotear o interesse socioeconômico conferido à evolução. Os cientistas e os teólogos cristãos repudiam o embrulho de progresso no nível molecular.
Ateísmo materialista e darwinismo social: No auge da revolução industrial o geólogo H Spencer interpretou a “biologia da evolução pela seleção natural” como a “sobrevivência do mais forte” e jogou o darwinismo no terreno movediço da política vigente, a cuja organização social exime a necessidade do pobre (mais fraco) e deslocado socialmente em favor do mais rico influente (mais forte)3,4. Essa má-concepção é enganosa porque transpõe o conceito de evolução biológica para a acumulação de riqueza; a esperteza da ganancia cumulativa sussurra que a biologia da evolução era prova do ateísmo materialista que aniquilaria o Cristianismo4. Ao contrário disto, Darwin chegou ao fim de sua vida como Pastor da Igreja Anglicana.
O embrulho do darwinismo social difunde a crença de que o progresso é intrínseco na natureza e, sendo assim, seria ético apressar o progresso favorecendo a reprodução do mais forte em detrimento do mais fraco. Porém, o progresso que significa desenvolvimento a qualquer custo seria o mesmo que: – De progresso em progresso chegou à ideologia do câncer. Os cientistas dizem que a inexistência de fundamentação científica levou à eugenia5, 7.
Eugenia: – Essa crença pseudocientífica andou na contramão da história desde que F Galton, primo de Darwin, pensou em fazer o “controle” social da evolução humana pelo cruzamento de indivíduos mais “fortes”. Seus seguidores planejaram a castração de prisioneiros, criminosos, para evitar que essas famílias procriassem, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Depois foi o que se viu com a eugenia levada ao extremo. Na Alemanha a eugenia revelou a crueldade do racismo ao presumir que a raça branca encerra todo potencial da biologia da evolução. A eugenia, como falácia da falsificação da evolução darwiniana, levou a morte em câmara de gás milhares de crianças com doença mental ou desabilitada fisicamente, para impedir que elas procriassem.
Seguindo caminho oposto à eugenia, a teoria da evolução de Charles Darwin tem sustentação na ética e na moral da transferência de riqueza que gera equidade e bem estar social. De grande interesse, o conhecimento científico ao nível da biologia molecular da evolução potencia a produção de alimentos pelo cruzamento de raças diferentes entre si, e os cientistas obtiveram imensa diversidade genética de plantas e animais, cujos descendentes híbridos são mais resistentes às intempéries. Foi assim que o melhor conhecimento científico produziu raças reconhecidas pelo vigor do híbrido que domina os mercados. No pós guerra os países com o domínio do conhecimento científico adotaram cotas de imigração de diferentes raças para o embelezamento do gênero humano.
Criacionismo bíblico e criacionismo científico: – Ataques contra o darwinismo podem vir dos grupos Criacionista e Relojoeiro Inteligente, visto que seus argumentos contra o darwinismo são diferentes. O primeiro grupo2 argumenta com base na autoridade da bíblia e se autodenomina “Respostas em Genesis”. O segundo sugere que há falhas no modelo da evolução darwiniana3,4, porém, os argumentos se fincam na crença de que o darwinismo é inferior ao seu “modelo ciência da criação, dedicado à luta pela alma da civilização e pela prevenção da deterioração da cultura pelo materialismo ateu que leva a moralidade sub-humana”.
No Instituto de Pesquisa sobre a Criação, em São Diego, Califórnia acredita-se na criação repentina do cosmo a partir do nada pela ação divina5, 6. Então, há notável distinção entre o criacionismo científico da teologia bíblica e a afirmação de que a criação já estava pronta antes de nascer. Isso significa que as espécies estavam prontas desde o começo e que jamais as primeiras evoluíssem para outras espécies.
O criacionismo bíblico apregoa que a raça humana é descendente de casal único parental, mas não justifica o racismo. Os ataques ao darwinismo sustentam na crença de que haveria insuficiência de mutação e seleção natural para explicar o desenvolvimento de todas as espécies. Entretanto, criacionista científico acredita em microevolução na escala do tempo, com base na deriva genética que se vê no genoma das espécies. O que não acreditam é na evolução de uma espécie para outra, ou seja, a macroevolução de todos os seres vivos desde vírus e bactérias até peixes e aves, e o reino dos mamíferos onde reside o H. sapiens. Para o criacionismo científico, cada espécie permanece no limite de sua estrutura e nenhuma raça dá origem à outra, vista que fósseis não são crônicas de transição, por exemplo, de répteis alados marinhos para aves7.
Os cientistas consideram que o conhecimento científico não coaduna com qualquer tipo de preconceito social, de raça ou de gênero8. Ademais, com sustentação humanista e científica, o conhecimento na raiz da biologia da evolução precisa ser corretamente ensinado no sistema educacional brasileiro, desde o ensino fundamental até a universidade, visando liberar a inteligência criativa da juventude, sem procrastinação. A sociedade será beneficiada pela libertação da mente criativa para o conhecimento embutido na beleza da natureza; e seus filhos terão oportunidade de duvidar para criar no âmago da mente inexcedível inovação com base nas novas tecnologias. A civilidade prevalecerá e seus efeitos serão levados para o reino do bem comum.
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Darwin C. Origin of Species by Means of Natural Selection, London: 1st edition, 1859.
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Numbers RL. The Creationists. Berkeley CA: University of California Press,1992.
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Behe MJ. Darwin’s Black Box. NY: Simon & Schuster, 1996.
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Davis P & Kenyon D. Of Pandas and People. NY: Haughton, 1989.
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Dembski WA. Intelligent Design. Downers Grove IL: Intervarsity Press, 1999.
- Van Till, H J. The Fourth Day. Grand Rapids: Eerdmans, Center for Theology and Natural Sciences.1986.
- Miller K. Finding Darwin’s God, NY: Ciff Street Books. 1999.
- Margulis L. Sagan D. What is Life? University of California Press, 1st edition. 2000.
*Agrônomo, pesquisador da EMBRAPA/CENARGEN tem pós-doutorado em biologia molecular de plantas na Universidade da Califórnia, e Ex-Secretário Executivo do PADCT/MCT/BR.
Imagem de destaque: Carta Maior
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