O desafio de ser professor da educação básica: será que a formação é adequada ao exercício da profissão?
Kelli Suelli Geraldi da Silva
O seminário anual do projeto “Pensar a Educação Pensar o Brasil” nos propõe a reflexão sobre o tema “A escola básica interroga a Universidade”. Esse tema faz emergir inúmeras questões acerca da educação, mas, prioritariamente, leva a refletir sobre o “produto” dos cursos de formação das faculdades: o professor.
É interessante observar que, na rede de ensino onde trabalho, é comum ouvir de colegas que estão na direção ou coordenação de escolas, reclamações relacionadas ao professor recém-formado que está atuando na escola. As críticas variam desde a falta de compromisso, planejamento de aulas e de pouca didática até a falta de postura do professor no controle da disciplina dos alunos, sobretudo porque, em determinadas escolas, encontram-se, com frequência, problemas de violência doméstica, abuso sexual, uso e tráfico de drogas.
Diante desse quadro educacional, ficam os questionamentos sobre esse profissional da escola, sobre sua formação e como a universidade os prepara para o exercício da profissão. Será que professores e coordenadores dos cursos de formação conhecem os problemas relacionados à violência vivenciados pelos profissionais da educação e preparam seus alunos para enfrentar essa realidade? Que olhar os professores universitários têm para a educação básica, pública e de periferia, tão amargurada por tantos problemas sociais? Como os currículos dos cursos podem contribuir para melhorar a atuação desses dos futuros professores?
No livro “A qualidade da escola pública no Brasil”, Luciola Santos em seu artigo “A qualidade da escola pública: a contribuição dos professores e de sua formação” faz alguns apontamentos sobre os cursos de formação que nos levam a refletir sobre as mudanças necessárias para melhorar a qualidade do ensino da escola pública e, efetivamente, diminuir as atitudes inadequadas dos jovens profissionais. A revisão do currículo, dando maior ênfase a práticas educacionais, a relação da teoria à prática com mais frequência, a utilização das teorias para soluções de problemas que poderão surgir, são algumas ideias da autora para adequar os cursos de formação à realidade das escolas.
Além disso, acredito que a Universidade pode buscar parcerias com as escolas públicas, utilizá-las como laboratório de observação e aprendizagem por um período mais longo e com o acompanhamento do professor. Uma proposta interessante é que os professores universitários frequentem as escolas públicas, para que possam estabelecer as relações necessárias com aquilo que é ensinado e o que é encontrado no contexto escolar.
Esse diálogo pode contribuir, não só para a melhoria da relação acadêmica com a escola pública, como também pode ajudar aos veteranos de profissão a revisarem seus conhecimentos, debater teorias e trocar ideias, tornando-se uma experiência enriquecedora para ambos os lados.
Assim, do ponto de vista de quem está atuando em locais de risco, fica a esperança de que, através de estudos e da produção de conhecimentos pelas pesquisas acadêmicas e pela mudança de postura da Universidade com relação à educação básica, possam surgir futuros profissionais que saibam fazer acontecer a educação diante de qualquer desafio que possa surgir no espaço escolar.
Referência bibliografia:
OLIVEIRA, Marcus Aurélio Taborda et. al. (orgs.). A qualidade da escola pública. Editora Mazza: 2012, pag. 31-52
Kelli Suelli Geraldi da Silva, diretora escolar na rede Municipal de Vespasiano, Pedagoga licenciada pela Faculdade de Educação/UEMG, cursou disciplina isolada de Historia da Educação no Mestrado pela Faculdade de Educação UEMG e cursa disciplina isolada Universidade e Escola Básica: tensões e articulações no Mestrado, pela Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG.
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