Há vários dias, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a mais importante e prestigiosa instituição brasileira de fomento à pesquisa, está fora do ar, tendo sofrido um verdadeiro apagão. Não apenas o seu portal na internet não está funcionando, mas também todo o seu sistema de comunicação, incluindo telefones.
O apagão do CNPq preocupa profundamente, e de forma especial, a comunidade científica e, de modo mais geral, todes que se preocupam com o funcionamento do Estado brasileiro. O Portal do CNPq não apenas organiza e dá visibilidade às oportunidades de apoio à pesquisa disponibilizadas pelo órgão – tanto as atuais quanto as passadas – quanto abriga o maior banco público de currículos de cientistas do mundo: a Plataforma Lattes.
Com mais de 3 milhões de currículos, a Plataforma Lattes é fundamental para a comunidade acadêmica e para o país, defendem os cientistas e ativistas políticos e sociais, porque permite a mobilização dos cientistas para as atividades inerentes à vida acadêmica, o reconhecimento de competências pelos colegas e o intercâmbio entre os mesmos. Além disso, ao tornar públicas a produção e as atividades de todos os cadastrados, permite que a população e as instituições, do Estado e da Sociedade Civil, avaliem e controlem os gastos públicos com ciência e tecnologia e o trabalho dos pesquisadores que recebem verbas públicas.
No entanto, o problema do CNPq não é o único e, nem, aparentemente, o mais grave vivido pelas ciências no Brasil. De Norte a Sul do país, cientistas e dirigentes das principais instituições de pesquisa e de defesa das ciências no Brasil são unânimes em suas avaliações a respeito da situação caótica em que se encontra o setor no Brasil nos últimos anos.
Ainda que o CNPq venha acumulando, há anos, problemas estruturais, conforme reiteradamente instituições afirmam instituições como a Sociedade Brasileira para o Progresso das Ciências, a Academia Brasileira de Ciências, o Fórum de Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes e a própria Associação de Servidores do órgão, não resta dúvida que a situação se agravou sob os governos Temer e Bolsonaro.
Compartilhando o mesmo destino que várias outras áreas, as políticas de ciência e tecnologia do Governo Federal e de várias unidades da Federação, como Minas Gerais, por exemplo, têm sido de desmonte e de destruição, comprometendo o presente e o futuro do país. Ainda que isto não seja de se estranhar, já que quase oficialmente o governo brasileiro tem se declarado anticientífico, é cada vez mais preocupante a sorte de nossas principais instituições de ciência e tecnologia.
O CNPq demorou décadas para ser construído; a Plataforma Lattes dá objetividade não apenas a milhões de Reais que nela foram investidos, mas também a dezenas, senão centenas, de milhões de horas de trabalho da comunidade acadêmica e científica brasileira. É um patrimônio que precisa ser protegido e aperfeiçoado, não destruído.
Não se espera de um governo obscurantista como o que ocupa, hoje, o Palácio do Planalto e boa parte da Esplanada dos Ministérios, que protejam e promovam as ciências. No entanto, ainda que as ciências não sejam tudo e nem sempre tenham a solução, sabemos, de forma cabal, que sem a contribuição das várias ciências, não há possibilidade de um futuro melhor para a nossa população. Por isso, é preciso que as forças vivas que atuam na sociedade, entre elas o Congresso Nacional e Judiciário brasileiro, que se aliem às universidades e instituições de defesa das ciências na luta contra a destruição de nosso patrimônio científico e, neste sentido, em defesa de melhores possibilidades de futuro para o Brasil.
Imagem de destaque: Jornalistas Livre