O Almanach do Município da Campanha (1900): memórias de Júlio Bueno
Alisson José da Silva Esteves Pereira
Para quem nunca ouviu falar do Almanach do Município da Campanha podemos dizer em sucintas palavras que este fora um grande divulgador de informações históricas, sociais, culturais, geográficas e educacionais de Campanha e de suas freguesias circunscritas. Organizado por Júlio Bueno, esta obra literária é uma organização memorial do autor. Mas quem foi Júlio Bueno?
Júlio Bueno nasceu na Cidade de Campanha, no dia 25 de agosto de 1864. Sua trajetória acadêmica iniciou-se com o estudo primário realizado com sua tia Maria Inácia, e de humanidades na Escola Normal de sua cidade natal. Na adolescência estudou agronomia, fazendo exames na Escola de Viçosa. Posteriormente, conseguiu os títulos de professor e o de engenheiro agrônomo. Defensor da República e da Abolição da escravatura, lutou ao lado de figuras como Manoel de Oliveira Andrade, Américo Werneck, dentre outros. Nos jornais Gazeta dos Estudantes, Independente e Idéia, Júlio Bueno publicou inúmeros artigos, até que em 1889, junto com Oliveira Andrade, fundou o A Revolução.
Por amor à sua cidade, Bueno recusou os convites para ingressar na diplomacia como Secretário de Legação do Brasil no Chile e também para secretariar o Cidade do Rio. Em 1892, participou da Revolução Separatista do Sul de Minas, que objetivava tornar Campanha a capital do Novo Estado. Nessa ocasião foi nomeado, pela Junta Governativa Provisória, diretor da Imprensa Oficial e do respectivo órgão Oficial Minas do Sul. O movimento e o órgão rapidamente se extinguiram, e Julio Bueno passou a se dedicar ao magistério.
No final do século XIX tornou-se professor da tradicional Escola Normal, período em que publicou o Compêndio de Música, editado em Portugal. Já no início do século XX fundou e dirigiu o semanário O Despertador, e por ocasião do centenário de Campanha, publicou o seu curiosíssimo Almanack da Campanha.
Em 1903, Júlio Bueno, mudou-se para Muzambinho onde contribuiu para a fundação do Liceu Municipal. Ali se casou em 1905, com Almerinda da Silva Brandão e teve sete filhos. Foi redator dos semanários locais: Muzambinho, A Cidade de Muzambinho e o Muzambinhense. Também lecionou por mais de 20 anos no Grupo Escolar Cesário Coimbra. Além do Compêndio de Música e do Almanaque da Campanha, Júlio Bueno publicou outras obras: Questão de Limites entre Minas e São Paulo, trabalho editado pela Imprensa Oficial que lhe garantiu a inserção no Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Minas Gerais; Notas e Fábulas, As Aves e Discursos e Conferências.
Em 1924, nomeado diretor do Grupo Escolar de Aiuruoca, Júlio Bueno transferiu-se para aquela cidade, onde ficou apenas um ano, pois no final do mesmo ano fora transferido para o Grupo Escolar da Campanha, retornando para a sua terra natal. Ali dirigiu o Grupo Escolar Zoroastro de Oliveira, lecionou no Ginásio Diocesano São João, no Seminário Nossa Senhora das Dores e mais tarde, na Escola Normal, para a qual foi nomeado. Além destas atribuições, fora nomeado Fiscal Escolar do Município da Campanha. Com relação aos periódicos locais, Júlio Bueno contribuiu para A Cidade, O Campanhense e Sul de Minas. Além destes, escreveu para diversos jornais, como O Monitor Campista da cidade de Campos no Estado do Rio, O Hidrópolis de Lambari e vários outros. Em 1936, Júlio Bueno se inscreveu para a Academia Mineira de Letras, entretanto, Bueno, que já estava bastante adoentado, faleceu no dia 04 de junho daquele ano, no dia da votação final.
No Almanach do Município da Campanha, Julio Bueno descreveu com bastante riqueza de detalhes características peculiares da história de Campanha e de suas freguesias. Podemos dizer que assim conseguiu recompor com maestria a história de Campanha e de suas freguesias com o auxílio de suas memórias.
Em seu almanaque, Júlio Bueno trata de temas como a fundação de Campanha e a vida intelectual da cidade, que por estar distante de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, detinha grandes intelectuais, professores e clérigos que formavam uma nata de pessoas defensoras do saber e da propagação da cultura. De tal modo que a primeira sociedade cultural de Minas Gerais foi criada em Campanha no ano de 1831 sobre o nome de Philantropica Campanhense tendo como objetivo central a promoção cultural e o auxílio aos necessitados. No aspecto a educação, Campanha progrediu-se com as primeiras aulas de latim lecionadas pelos cônegos, posteriormente surgiu aulas de Francês, história, filosofia, Geografia e retórica até que em 1859 fundou-se o primeiro colégio denominado de Colégio Campanhense, e assim, foi evoluindo a cidade, a tal ponto de receber a alcunha de Campanha, a “Atenas Sul Mineira”.
Enfim, para quem quer conhecer um pouco mais sobre a história de Campanha estas e muitas outras informações são encontradas no Almanach do Município da Campanha de Júlio Bueno.