Ilza Claudia Muller Biz
Refletir sobre meus tempos de escola me transportou para momentos de emoção e alegria. Nasci em Lages, no estado de Santa Catarina, mas com dois anos de idade fui morar em Taubaté, no estado de São Paulo, onde iniciei minha trajetória escolar. Lembro-me que fui para a escola aos seis anos de idade; na época a educação infantil não era obrigatória, embora tenha pedido para frequentá-la, minha mãe acreditava não ser necessária.
Quando iniciei o primeiro ano do ensino fundamental, minha professora chamava-se Maria Luiza, uma mulher de meia idade, cabelos pretos, um pouco acima do peso e muito carismática. A professora Maria Luiza nos ensinava com muito carinho, repetia quando necessário, pegava em nossas mãos para conseguirmos escrever as letras, fazia mímicas, imitava os sons dos animais, usando vários recursos para que todos conseguissem se apropriar dos conhecimentos. Mesmo com tanta dedicação, alguns alunos não conseguiam apreender, e era aí que eu participava: a professora me chamava para ajudar o coleguinha, e muitas vezes dava certo! Os coleguinhas diziam que eu seria professora, e eu amava!
No segundo ano do ensino fundamental, meus pais se separaram, e eu fui transferida para outra escola na cidade de São Paulo, agora eu estava na capital do estado. Não fiquei assustada, nem com medo; mesmo a escola parecendo um local enorme (tinha receio de me perder). O decorrer dos anos foram bem parecidos com o primeiro: sempre marcados por muito carinho recebido dos professores e muito divertimento com os colegas. Um acontecimento que me marcou muito no quarto ano, foi a horta da escola; a professora desenvolveu todo o processo de agricultura, desde o adubo. Recordo-me de levar cascas de frutas e outros restos orgânicos para adubar a terra. Plantamos alface e tomate, regamos, cuidamos e colhemos! As cozinheiras da escola lavavam e faziam uma grande salada: o sabor está até hoje na boca! Realmente inesquecível!
Aos onze anos, no sexto ano do ensino fundamental, iniciei o que posso dizer que mudou minha vida: comecei um curso de Inglês. Possuía um grande sonho de aprender este idioma! Admirava muito quem conseguia falar e compreender. Para mim foi um momento muito especial. Estudei por quatro anos com uma professora aposentada, a Fernanda Mazzuti, que me ensinou muito sobre organização e dedicação nos estudos. Aos 16 anos comecei a dar aulas particulares de inglês, uma realização indescritível!
No segundo ciclo do ensino fundamental, já no oitavo ano, mudei de escola. Eu estudava em uma escola municipal (E.M. José de Alcântara Machado Filho) e fui para uma estadual (E.E. Prof. Ennio Voss), pois tinha medo de não conseguir a vaga para o Ensino Médio. Esta escola era muito procurada; alunos externos participavam de um processo seletivo denominado Vestibulinho para conseguir uma vaga. Nesta escola desenvolvi muito a autonomia, pois era longe de casa, e eu precisava pegar ônibus sozinha; eu adorava essa liberdade.
No último ano do fundamental (equivalente ao nono ano atualmente), um professor, pela primeira vez, me fez pensar em algo que ainda não havia prestado atenção: a diferença entre classes sociais. Este professor se chamava Nilton e ministrava a disciplina de Português substituindo o professor efetivo. Em uma de suas aulas, ele nos passou o conteúdo de gramática, coisa que ninguém havia visto. Pareceu tão complicado. Eu que sempre entendia tudo, não entendi nada. Em sua avaliação tirei nota sete, o que para mim era imperdoável. Durante a recuperação, em uma conversa, ele me disse que não podia ensinar ali o que ensinava em um colégio particular. Me senti tão pequena, porque até então, eu era invencível, sem maiores dificuldades de aprendizagem. Além de ficar entristecida com a situação, depois de algum tempo, percebi que a fala do professor não me ofendeu, me ajudou a trabalhar situações de conflito interno e entender que nem sempre somos os melhores; temos dificuldades e para superá-las é necessário dedicação.
Passei a admirar o professor Nilton e como já havia decidido que seria professora, despertava a vontade de compreender esta tese sobre a diferenciação entre a escola pública e a particular. Ao iniciar o Colegial, atual Ensino Médio, fui estudar no período noturno porque trabalhava durante o dia. Sentia falta de estudar somente, de fazer os trabalhos com tempo e apreciar o caderno e as boas notas que tirava. As conquistas aconteciam paralelamente a minha vida pessoal, também questão muito importante. Neste período senti que deveria ter continuado no Magistério (minha escola ofertava esse curso), mas como era no período da manhã, não conseguiria cursar, somente o Colegial normal. Completei a educação básica aos 17 anos, sempre com muito carinho e dedicação em tudo que me foi oferecido, nas oportunidades de aprendizado, de conhecimento e de vivências, dificilmente eu me ausentava.
Na sequência do Ensino Médio, realizei o vestibular para uma faculdade privada, muito cara por sinal. Iniciei o curso de Psicologia, que foi minha segunda opção. A primeira foi o Direito e a terceira Letras. Na verdade eu não fazia questão de passar nas duas primeiras, pois gostaria de iniciar Letras, mas passei em Psicologia. Cursei quase dois anos de Psicologia e não terminei por conta do valor da mensalidade. Este curso, mesmo sem tê-lo integralizado, me proporcionou excelentes experiências.
Aos 19 anos entrei em uma companhia aérea para trabalhar no atendimento do aeroporto; mais uma vez, por intermédio da educação (por saber inglês), lá estava eu, em um lugar que jamais imaginava, dentro de aviões, falando com pessoas do mundo inteiro, interagindo em diversas situações. Após alguns anos, já casada e com filho, o sonho de continuar os estudos não ficou para trás; eu sabia que tinha muito a fazer na educação. Assim, aos 31 anos decidi que deveria seguir o coração e a razão, e me dar um presente: realizar-me como pessoa e profissionalmente. Novamente em uma faculdade privada, fiz a matrícula para o curso de Letras.
Lembro-me que escondi da minha mãe: ela só soube um dia antes, porque a reprovação seria declarada, como a de todos do meu ciclo familiar. O prazer de aprender, de superar as lacunas de aprendizado, era o que me movia todos os dias para ir à faculdade. Assim, concluí o curso com muita vontade de me entregar totalmente à profissão docente. Deixei meu emprego de 16 anos, e vivi intensamente a docência! Anos memoráveis de aprendizado, frustrações, mas de intensa felicidade.
Os anos se passaram: em muitas escolas trabalhei, tive muitas experiências, e de conhecimentos me apropriei. Sem esperar, a oportunidade de trabalhar em uma editora de livros “bateu em minha porta”, e mais uma vez, a vontade de aprender me fez aceitar esse desafio. Hoje, trabalho em uma editora que publica livros didáticos para a escola pública; mais uma vez, a educação me conduz a lugares onde jamais imaginei! A vida dá muitas voltas! Acabei retornando para o estado de Santa Catarina onde nasci, e nesse processo, percebi que deveria expandir meus conhecimentos, precisava de mais!
Decidi, então, fazer o Curso de Licenciatura em Pedagogia, mas em princípio seria um curso à distância e realmente, assim se deu. No entanto, senti que não correspondia ao desejado. Então, almejei estudar no Instituto Federal Catarinense – campus Camboriú, o IFC! Demorou para conseguir, pelo menos, três anos! Mas hoje sei que nesta instituição tenho acesso aos mais modernos e atualizados estudos sobre educação, que os mestres e doutores tanto podem nos proporcionar. O meu maior orgulho é ser estudante dessa instituição! Sou muito feliz por ter vivenciado e por recordar experiências maravilhosas de meus momentos de escola, os quais certamente me deram base para tantas conquistas em minha vida. Como professora ou aluna, a minha escola é a minha felicidade!
Sobre a autora
Estudante do curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto Federal Catarinense – campus Camboriú. Uma versão preliminar deste texto foi escrita como atividade avaliativa da disciplina História da Educação, do curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto Federal Catarinense – campus Camboriú, ministrada pela Profa. Dra. Marilândes Mól Ribeiro de Melo.
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