A História não pode fugir das suas fontes que, em geral relatam fatos e contra fatos não há argumentos. Há interpretações e cada um tem a sua. Essa é a compreensão de Salomão de Vasconcelos sobre fontes, verdade e história quando escreveu seu livro Minas e os mineiros na Independência. Ou seja, puxou sardinha para a mineiridade e na sua interpretação resgata vários e importantes mineiros que foram esquecidos ao longo da História. Mas, a escrita da História nos obriga a escolher documentos que expõem fatos à nossa interpretação, na tentativa de fazer o leitor confundí-la com argumentação.
Salomão de Vasconcelos escreveu seu livro durante o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945), lançando-o no mesmo ano em que se iniciou a ditadura do Estado Novo (1937-1945) brasileiro. Sua primeira justificativa foi o fato de o “Brasil republicano” relegar ao esquecimento muitos de seus gloriosos filhos. Primeira linha e o autor já demonstra ser um monarquista. Ora, o Brasil republicano vai glorificar – e isto é mais uma interpretação – aqueles que na opinião dos historiadores republicanos vão construir a República. No caso de Minas Gerais, o Tiradentes, porém não como um pensador apenas da ideia independentista, mas independentista e republicana. Segue esse fio e outros vultos republicanos surgiriam numa releitura da história.
Mas, o que Salomão de Vasconcelos propõe é uma cronologia que se inicia com a Inconfidência Mineira (1789-1792) até a Independência (1822). Para ele, jogou-se “no esquecimento um longo período de 33 anos”. Esse é um período crucial de ação dos mineiros frente a Independência, principalmente o “Conselheiro José Joaquim da Rocha, tido com razão como o primeiro motor da Independência”. De imediato, Salomão afirma que a Independência “não representa […] o maior ou mais refulgente glória” porque era um movimento que já devia ter-se realizado nos anos de 1817 em Pernambuco ou, melhor ainda, de 1789 em Minas. Ou seja, a Independência já devia ter acontecido, não fosse a incapacidade dos portugueses em perceber a grandeza do Brasil. E vai mais longe: “em 7 de setembro de 1822 não devíamos estar apenas proclamando a nossa Independência, mas celebrando, pelo menos, o primeiro centenário do grandioso evento”, referindo-se a 1720. Ele fez-nos lembrar de Margareth Thatcher (1925-2013) quando foi convidada por Mitterrand (1916-1996) para comemorar os 200 anos da Revolução Francesa (1789). À época disse que os ingleses já haviam comemorado, a pelo menos 100 anos, os 200 anos da sua Revolução Gloriosa (1688).
O autor recua para 1720, na Revolta de Felipe dos Santos e separação da capitania de Minas como o germe necessário e semente frutificadora do evento que se realizaria com dom Pedro I. Mais do que falar da independência brasileira, Salomão de Vasconcelos escreve um livro sobre os mineiros para os mineiros, coroando o líder do Clube de Resistência, o “abnegado cidadão e ardente nacionalista, o modesto advogado e Capitão-mor José Joaquim da Rocha (1777-1848).
O livro foi reeditado em 1972, nas comemorações do Sesquicentenário da Independência, durante o regime militar (1964-1989). A essa época, Vasconcelos já havia morrido e seu livro foi apresentado pelo professor Dermeval José Pimenta (1893-1991), então presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Na sua apresentação, Dermeval afirma que a obra corrige “distorções perpetradas por alguns historiadores menos atentos à verdadeira evolução liberal”, ou seja, as distorções foram fruto de um olhar errado sobre o movimento. Na escrita do presidente do IHGMG, o regime militar corrigia a trajetória dos liberais no Brasil, recolocando no imaginário e na História pátria aqueles homens que serviram à causa da liberdade. Liberais que estavam muito bem atados aos militares, participando ativamente da ditadura.
Liberdade pela qual lutavam Joaquim José da Silva Xavier (em 1789) ou Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (em 1817), na medida em que nenhum dos dois projetos liberais pensavam na emancipação dos escravos e nas questões que mais afetavam indígenas, brancos pobres, mulheres e outros não brasileiros. Cabe a nós perguntar: a que modelo de liberdade esses homens serviram? Uma liberdade liberal que, a seu tempo, alimentou revoltas e revoluções políticas promovendo a igualdade segundo seus princípios. Homens que se esqueceram que uma independência não é apenas uma secessão de Estados, mas um projeto de país que deve incluir a todos.
A ideia de fazer justiça com a História é perigosa. A única utilidade da História é política. E pode haver um mal uso. Por isso, ela não deve ser usada para fazer justiça nem justiçamentos. A sua ideologia não pode ser baseada em outra coisa que não sejam os fatos. Então, uma proposta ou desafio: como cada historiador local viu o processo de Independência do Brasil?
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