O que é bom e potente precisa de difusão constante. Falo de um livro sobre Educação do Campo que coloca o cinema em primeiro plano. Com o belo e sugestivo título, Outras terras à vista*, Aracy Alves Martins, Inês Assunção de Castro Teixeira, Mônica Castagna Molina e Rafael Letvin Villas Bôas, organizaram em 2010 essa instigante publicação da coleção Caminhos da Educação do Campo, pela Editora Autêntica.
O livro, no dizer de seus organizadores, se articula partindo, em princípio, de olhares cuja experiência é incontestável, em primeiro lugar, sobre Educação e sobre o Campo e seus sujeitos; em segundo lugar, sobre Cinema e Educação. São olhares diferenciados, tangenciando várias dimensões: históricas, políticas, ecológicas, poético-literárias e educacionais; tendo sempre como foco os sujeitos do campo, seus textos e contextos, trazidos da terra às telas.
Os filmes: Vidas Secas, Deus e o diabo na terra do sol, Narradores de Javé, Cabra marcado para morrer e Nas terras do bem-virá, estão entre as dez obras cinematográficas analisadas em Outras terras à vista. Além de textos dos organizadores, o livro tem prefácio e posfácio dos professores eméritos da Faculdade de Educação (FaE/UFMG), Carlos Roberto Jamil Cury e Miguel González Arroyo, respectivamente. Conta ainda com a participação dos professores e pesquisadores, Ana Lúcia Azevedo e Ataídes Braga, entre outros; inclusive, deste articulista.
Senti-me honrado em participar do livro, não só pela importância de sua destinação, como pela satisfação em poder afirmar A teimosia da esperança: “Nas terras do bem-virá”**, juntamente com os autores e personagens do filme em questão. No capítulo 11 – o último do livro –, acompanho Alexandre Rampazzo, Tatiana Polastri e Fernando Dourado que, contando apenas com uma pequena ajuda de custo para cobrir os gastos com transporte, alimentação e manutenção da base de produção, empreenderam uma jornada de 26 meses entre pesquisa, produção e finalização do referido documentário.
Nas terras do bem-virá aborda o modelo de colonização da Amazônia, o massacre de Eldorado do Carajás, o assassinato da missionária Dorothy Stang e o ciclo do trabalho escravo. Histórias de um povo que cansou de migrar em busca da sobrevivência e decidiu lutar para conseguir um pedaço de terra, deixar de ser escravo e manter viva a última grande floresta tropical do planeta. Com uma equipe super-reduzida e uma câmera digital portátil, o diretor, a produtora e o cinegrafista, entrevistaram cerca de 200 pessoas em 29 cidades dos estados do Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins.
Miguel Arroyo em um dos seus mais recentes livros, Passageiros da noite (Vozes, 2017), indica o filme e a nossa análise como material de trabalho didático em EJA, no capítulo 7 – Itinerários por direito a uma vida humana justa.
O documentário Nas terras do bem-virá é um ato de amor de um povo que não perdeu a esperança e sonha com a terra prometida, além de ser mais um ato de fé de seus obstinados realizadores (o premiado documentário Ato de fé, de 2004, também foi realizado por eles). Outras terras à vista: cinema e educação do campo, Belo Horizonte: Autêntica, 2010, o livro que contém uma análise do filme, está no catálogo da editora. Ele tem despertado a atenção não só dos educadores do campo, como também de interessados pela questão da terra e pelo cinema. Leia o livro e veja o(s) filme(s).
*Este texto aqui reproduzido com algumas modificações, foi apresentado no quadro Cinema Falado, do programa Pensar a Educação, Pensar o Brasil, na Rádio UFMG Educativa – 104,5 MHZ, no dia 11.05.2015, época em que este articulista produzia e apresentava o quadro.
** A teimosia da esperança: “Nas terras do bem-virá”, de autoria de Eugênio Magno, é o capítulo 11 do livro Outras terras à vista: cinema e educação do campo (Autêntica, 2010).
Imagem de destaque: Cena do filme Nas terras do bem-virá/reprodução
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